Homebuilt computers for Christmas
Autor original: Terry Hancock
Publicado originalmente no: freesoftwaremagazine.com
Tradução: Roberto Bechtlufft
Desde que comecei a usar computadores eu faço a remanufatura deles. Minha esposa zombava de mim, dizendo que eu não era um geek, mas sim um caipira (“você é um caipira da informática quando… sua placa-mãe já passou por quatro computadores diferentes”).
Foi esse sistema de valores do tipo “faça você mesmo” que me trouxe até o software livre. Para mim é um estilo de vida, passado de geração em geração, desde os tempos em que meus ancestrais migraram para cá e construíram cabanas com madeira e barro.
A tecnologia evoluiu terrivelmente, mas o ideal de auto-suficiência nunca desapareceu, só que não dá para atingir esse nível de auto-suficiência com software que você não pode recompilar. Então eu aprendi a programar, aprendi a usar o software livre e estou transferindo esses valores para os meus filhos.
Os computadores
Os computadores em questão me foram passados por membros da família, e por uma feliz coincidência, são HP Pavilions de 1998 praticamente iguais. Ambos estavam em ótimas condições e funcionando bem, embora estivessem extremamente sujos.
Esses computadores têm processadores Intel Pentium III de 500 MHz, módulos de memória SDRAM de 168 pinos e discos rígidos de 20 e 30 GB. Eles têm drivers de áudio e vídeo integrados, baseados nos chipsets Intel 810, embora o sistema de som aparentemente não tenha suporte para o ALSA. Isso provavelmente pode ser resolvido de várias maneiras, mas prefiro a solução “pagar 20 pratas numa placa de som compatível” (é isso ou tentar fazer minha velha Soundblaster 16 ISA funcionar, e não sei se vale o trabalho).
Embora os computadores tivessem apenas 64 e 128 MB de RAM quando eu os adquiri, esse tipo de RAM é muito barato, e agora os dois PCs têm 256 MB, o que embora não seja grandes coisas pelos padrões de hoje, já é o suficiente para rodar os aplicativos do KDE e do GNOME que mais interessam aos meus filhos.
Hoje em dia muita gente jogaria esses computadores fora, mas com um sistema operacional GNU/Linux eles têm poder de sobra: os gerenciadores de janelas são mais eficientes, porque não há tanta pressão para se adicionar refinamentos supérfluos. Claro que eles não vão usar desktops tridimensionais, mas provavelmente não vão nem notar as limitações de velocidade e RAM desses computadores.
Lavando os computadores
Embora eletronicamente os HP Pavilions sejam bem comuns para a época em que foram lançados, eles possuem gabinetes de design único, com várias proteções plásticas. Como eu disse, eles estavam bem sujos.
Porém, com cuidado, é possível remover as proteções plásticas (elas estão engatadas com aquelas abas de plástico que precisam ser pressionadas para saírem). Removi todas proteções plásticas (exceto pela base, que até que não estava ruim).
Então eu as coloquei cuidadosamente em uma lavadora de louça comum. Você pode lavá-las em um ciclo de calor baixo, como faz com seus pratos mais caros. Isso funciona muito bem para remover resíduos de cola de adesivos e outros tipos de sujeira. Mas certifique-se de que esteja tudo completamente seco antes de reinstalar.
No resto do sistema, a limpeza consistiu basicamente no uso de ar comprimido (para esse tipo de limpeza você vai precisar de um compressor, e não dessas “latinhas com ar”) e de uma toalha de papel embebida em álcool. Há muitas aberturas pequenas dentro de um computador, e é preciso limpar a poeira lá de dentro se quiser que o sistema possa ser usado.
Instalação dos sistemas operacionais
Sim, eu disse “sistemas”, porque esses computadores têm boot tripo: Debian “Lenny” GNU/Linux, FreeDOS 1.0 e (ugh, eu sei) Windows 98SE. Na verdade eu tenho cópias licenciadas bem antigas do Windows 98SE. Não vou comprar o Windows novamente, mas como as crianças estão sempre arranjando hardware incompatível e sem documentação como eu já mencionei, e como eu tenho uma pilha substancial de jogos de Windows da decada de 90 que interessam às crianças, faz sentido isso tudo funcionar (não tenho muito medo de que elas fiquem direto no Windows, já que seus programas favoritos estão no Debian).
Só para constar, eu tentei usar o ReactOS 0.3.7 nesses sistemas, mas tive problemas substanciais na instalação. Vou tentar novamente com uma próxima versão.
Com o Grub fica fácil fazer isso. Eu fiquei surpreso. É fato que o Windows destrói a MBR, mas consertá-la é trivial, e o modo chain-loading do Grub funcionou perfeitamente.
O FreeDOS, como o nome sugere, é software livre. É voltado principalmente àqueles que ainda usam software do DOS. Parece que o kernel da versão 1.0 emula o MS-DOS 3, enquanto a interface da linha de comando se baseia nos recursos do MS-DOS 6. Fiquei muito impressionado com o processo de instalação, e espero conseguir rodas alguns dos jogos velhos que ainda temos por aqui. Porém, certos softwares não rodam, incluindo o executável setup.exe do Windows 98SE (o que causou alguma turbulência, já que eu não conseguia achar meu disco de boot original – lembra dos discos de boot?).
Personalização!
Essa é a parte incrivelmente divertida e mal documentada. É possível dar uma boa personalizada na inicialização e na experiência com o desktop sem muito esforço. Você pode:
- Especificar uma imagem para o menu de inicialização do GRUB;
- Usar o “splashy” para personalizar o processo de inicialização do Linux;
- Criar um tema do KDM para personalizar a tela de inicialização (isso vai além da mera mudança do fundo que eu documentei em uma coluna anterior sobre o XDM, o GDM e o KDM);
- Criar uma imagem “splash” especial para o carregamento do KDE;
- Adicionar sons para inicialização, login, logout, troca de desktop, mensagens de erro e várias “notificações do sistema”;
- Alterar o grupo de ícones;
- Alterar o esquema de cores e o tema da interface gráfica do KDE (é claro que o mesmo vale para o Gnome, mas nós usamos o KDE);
Na maioria das vezes, eu percebi que a forma mais fácil de aprender a criar temas é adquirir um tema existente e usar engenharia reversa, descompactar o pacote tar e estudar o conteúdo. Pretendo escrever uma documentação melhor para a Free Software Magazine nas próximas semanas.
Meus filhos escolheram os nomes dos computadores, e eu os configurei de uma maneira que combinasse com esses nomes.
Por que estou dizendo isso?
Porque futuramente eu espero documentar os detalhes técnicos dos desafios que enfrentei para acertar esses sistemas (sei que não entrei em muitos detalhes nesta coluna). Embora seja pouco provável que você encontre exatamente os mesmos problemas, espero que as informações possam ser usadas em outros projetos de remanufatura e instalação.
Isso que estou fazendo para os meus filhos é algo que você, leitor, também pode fazer para os seus, ou até para outras crianças, no próximo natal. Computadores velhos que já não lhe são úteis podem, com um pouco de carinho, se tornar úteis como os primeiros computadores das crianças. Há muitas instituições de caridade que fazem esse trabalho, mas remanufaturar um ou dois computadores faz bem à alma. Pense na possibilidade de tornar-se voluntário e oferecer sistemas para as crianças da sua região.
E ainda há tempo de contribuir com o programa Give One, Get One do projeto One Laptop Per Child (Um Laptop Por Criança), que ainda tem um compromisso com laptops rodando o GNU/Linux, apesar de todo o estardalhaço em torno da possibilidade dele também suportar o Windows. Entendo as questões políticas que o suporte ao Windows introduz, mas o programa OLPC continua sendo um projeto fantástico que merece seu apoio, e que ainda mantém um forte compromisso com o software livre. Com o apoio do sistema de compras online da Amazon, este ano ficou bem mais fácil apoiar o projeto.
Eu encorajo você a contribuir da maneira que puder. Os computadores não são apenas brinquedos para as crianças; são um instrumento que permite a elas chegarem mais próximas de seu potencial máximo. E num mundo tão cheio de crises, um potencial humano melhor aproveitado é exatamente do que precisamos.
Créditos a Terry Hancock – freesoftwaremagazine.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <roberto at bechtranslations.com>
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