Muitos se fala sobre o crescimento do Android, que já responde pelas vendas de 200.000 novos aparelhos por dia (sem contar tablets e aparelhos Chineses com cópias não contabilizadas do sistema), já superando as vendas diárias do iPhone 4 por uma grande margem.
O sucesso do Android em relação ao iPhone não é de se estranhar, já que o iPhone 4 é uma solução “tamanho único”, um único aparelho, produzido por um único fabricante, enquanto que no caso do Android temos uma constelação de fabricantes, se digladiando para lançar aparelhos destinados a cada nicho de mercado.
O que é realmente surpreendente é o grande crescimento do Android em relação ao Symbian, que embora ainda responda pela maioria dos smartphones vendidos, tem seu reinado decisivamente ameaçado, uma vez que as vendas dos aparelhos com o Symbian tem se mantido mais ou menos estáveis, com tendência de queda, enquanto as vendas dos aparelhos com o Android continuam a crescer na casa dos dois dígitos mês a mês, uma situação que seria difícil de imaginar a dois anos atrás, quando o Symbian respondia por mais de 70% dos smartphones vendidos e enfrentava uma séria concorrência apenas por parte do iPhone.
Embora o Symbian seja um sistema bastante maduro e seja muito forte em relação às funções de mensagem e comunicação, música e podcasts, os aparelhos oferecem limitações óbvias com relação à navegação web, funções multimídia e interface, que fazem com que os aparelhos pareçam antiquados se comparados à nova safra de aparelhos com o Android. Um bom exemplo é o icônico Nokia E71 e suas variantes (E63, E72, etc.), que embora seja ainda uma das melhores soluções de comunicação do mercado (graças ao teclado físico e acesso prático aos aplicativos através das teclas de atalho), perdeu muito de seu encanto
É muito difícil imaginar que o Symbian possa ser transformado em um sistema fluído como o Android em um curto espaço de tempo, mas em compensação ele oferece uma vantagem importante, que é o bom desempenho em aparelhos modestos, com processadores ARM11 de baixo clock e telas resistivas, um nicho que responde pela grande maioria dos aparelhos vendidos e onde o Android derrapa.
Um bom exemplo é o Nokia 5230, que é provavelmente o smartphone mais barato disponível no mercado atualmente. Ele é vendido por apenas 80 Euros na Europa e pode ser encontrado por apenas R$ 300 no Brasil, já desbloqueado e sem vínculo com a operadora:
Nokia 5230
Apesar da aparência barata, o 5230 é um aparelho que surpreende se considerarmos o preço, já que é baseado no S60 5ed. e oferece um conjunto de recursos similar ao do Nokia 5800 XpressMusic por um preço incrivelmente baixo, com boas funções de navegação web, comunicação, música e vídeos. Com exceção do transmissor Wi-Fi (removido para reduzir o custo e posicioná-lo como um aparelho entry-level), ele oferece todas as funções que seriam de se esperar de um smartphone, incluindo o GPS. Se usado em conjunto com um plano de dados pré-pago (como o plano de R$ 0.50 por dia oferecido pela TIM desde agosto/2010) ele é uma opção surpreendentemente acessível.
Entre os aparelhos com o Android, disponíveis no mercado, o único concorrente direto seria o ZTE Racer (X850), que é vendido na Europa por 100 euros. Sendo um pouco mais caro que o 5230, ele oferece um conjunto de recursos um pouco superior, com uma câmera de 3.15 MP (contra os 2 MP do 5230) e suporte a Wi-Fi, mas mesmo assim ele oferece uma usabilidade bastante inferior, devido ao uso de uma tela QVGA (320×240, contra os 640×320 do 5230 e os demais aparelhos com o S60 5ed.) resistiva, que torna o uso da interface do Android bastante desconfortável.
ZTE Racer
Apesar de ele ser baseado em um chip Qualcomm MSM7227 (um ARM11 de 600 MHz), o desempenho subjetivo é bastante inferior ao do 5230, com o sistema engasgando em muitas tarefas. O principal motivo é o fato de o Android realmente exigir mais poder de processamento, devido ao fato de o sistema ser baseado em uma máquina virtual Java, que executa código interpretado em vez de código nativo. Esta foi uma decisão estratégica do Google para facilitar o desenvolvimento de aplicativos e tornar o sistema mais portável, mas que em compensação tem (e continuará tendo no futuro) um impacto considerável não apenas sobre o desempenho, mas também com relação à eficiência energética, fazendo com que os aparelhos precisem de mais energia para executarem as mesmas funções.
A presença de aparelhos baratos como o ZTE Racer expõe as duas grandes fraquezas do Android, que são o baixo desempenho geral do sistema e o fato de a interface ter sido desenvolvida para o uso em telas capacitivas (que são mais caras), oferecendo uma experiência de uso muito desconfortável em telas resistivas, como a do Racer. Isso faz com que o Android funcione muito bem em aparelhos como o Samsung Galaxy S, que são baseados em processadores Cortex A8 e utilizam boas telas resistivas, mas derrape nos aparelhos de baixo custo.
Samsung Galaxy S
Isso explica o fato de o Android estar dominando muito rapidamente o mercado de aparelhos high-end, crescendo especialmente nos Estados Unidos, mas que esteja enfrentando uma batalha muito mais difícil entre os aparelhos mais baratos.
Isso assegura que os aparelhos com o Symbian não vão desaparecer do mercado em um futuro próximo, pois ele é um sistema muito bem acabado para smartphones de médio e baixo custo, já que roda com um bom desempenho mesmo em chips ARM 11 de baixo clock e tem uma interface que funciona bem em telas resistivas, enquanto o Android só é realmente confortável de usar em telas capacitivas.
A principal brecha para a entrada do Android entre os aparelhos de baixo custo são os fabricantes chineses. A maioria dos aparelhos atuais são muito limitados, baseados em chips MTK MT6225 ou MT6226, rodando o jurássico MTK OS, mas é bem provável que no futuro eles passem a produzir aparelhos baratos com o Android, assim como já estão fazendo com os tablets (https://www.hardware.com.br/analises/ekin-m001/). A qualidade com certeza não será muito boa, mas eles podem cair no gosto do público devido ao baixo custo e ao suporta a múltiplos chips, assim como nos xing-lings atuais.
Com a possível exceção da Apple, quem mais perde com o avanço do Android é a Nokia, que embora venha perdendo terreno para ele em quase todas as frentes, já anunciou que não pretende lançar aparelhos baseados no sistema, preferindo investir no desenvolvimento de soluções próprias. Esta é uma postura que pode parecer tacanha e conservadora, mas que faz um certo sentido, uma vez que deixaria a Nokia como apenas mais uma entre vários outros fabricantes de aparelhos com o Android, sem ter como realmente diferenciar seus produtos.
As esperanças da Nokia residem no Meego, outro sistema baseado em Linux que vem sendo desenvolvido em parceria com a Intel. Ele é o sucessor espiritual do Maemo, usado no N900 e nos tablets da linha 8xx, que promete oferecer um sistema ágil e bem acabado. As informações prévias sobre o sistema são bastante animadoras, mostrando uma interface bonita e bastante customizável e boas ferramentas de desenvolvimento de aplicativos (http://meego.com/developers/ui-design-guidelines/handset), que são outro fator fundamental, uma vez que a disponibilidade de uma grande variedade de aplicativos é atualmente o fator mais importante para o sucesso de qualquer sistema operacional móvel.
Embora veja sendo desenvolvido pela Nokia e a Intel, o Meego será licenciável para outros fabricantes, o que aponta para um ecossistema similar ao que temos atualmente no Symbian, onde a Nokia tende a responder pela maior parte das vendas, mas outros fabricantes (como no caso da Samsung) também passariam a produzir aparelhos baseados no sistema, personalizando a interface para diferenciar seus produtos.
Assim como no caso do Android, o Meego é destinado não apenas para o uso em smartphones, mas também em tablets e eventualmente até mesmo em smartbooks. Embora, como qualquer sistema móvel que se preze, ele rode sobre processadores ARM, a Intel tem se desdobrado para que ele seja igualmente otimizado para processadores x86, encarando o Meego como uma peça importante de sua estratégia para levar versões de baixo consumo do Atom aos smartphones.
O Meego deve chegar ao mercado no início de 2011, alimentando o aguardado Nokia N9. No meio tempo, lançamentos como o Nokia N8 utilizarão o Symbian ^3, uma versão modernizada do S60 5ed. usado nos aparelhos atuais com touchscreen, concebido para ser uma plataforma de transição entre as duas. As especificações do N8 impressionam, com uma câmera de 12 MP, saída HDMI, 16 GB de memória interna e tela capacitiva, entretanto ainda falta a confirmação de que ele será atualizável para o Meego quando o sistema estiver disponível, assim como no caso do N900, que é baseado no Maemo 5, outro sistema tapa-buraco.
Nokia N8, com o Symbian ^3
Considerando o volume de recursos que estão sendo investidos no sistema e o fato de ele herdar a base de código já bastante madura do Maemo, é difícil imaginar que o Meego não venha a se tornar um bom sistema. Pode ser que ele derrape nas primeiras versões, mas uma vez que as arestas forem aparadas, tudo indica que ele será um concorrente bastante forte. O principal problema são os aplicativos, uma vez que ele será o último a chegar no mercado, depois de o iOS e o Android já terem tido muito tempo para recrutar desenvolvedores e encherem suas respectivas lojas de aplicativos.
Com isso, a tendência para os próximos anos é que o Android enfrente a concorrência do Meego nos smartphones high-end, mas que ao mesmo tempo o Symbian continue forte nos aparelhos de baixo custo, uma vez que permite o desenvolvimento de aparelhos baratos e de especificações modestas, mas que oferecem boas funções devido à frugalidade do sistema.
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