Planos da AMD para 2012 e 2013

Planos da AMD para 2012 e 2013

Apostando que o mundo não acabará em dezembro, a AMD anunciou uma nova proposta de negócios no último Financial Analyst Day, que pode mudar bastante o posicionamento da empresa no mercado, deixando de ser dependente apenas das vendas diretas dos processadores, GPUs e APUs x86. Como você deve se lembrar, a AMD perdeu seu braço de produção, que se tornou a GlobalFoundries. Inicialmente o plano era que a AMD e a GlobalFoundries permanecessem como irmãs, uma projetando e vendendo e a outra produzindo, mas os desentendimentos logo começaram e o relacionamento entre as duas empresas na prática não é muito mais estreito que entre a AMD e a TSMC, por exemplo. A AMD também vem passando por tempos difíceis nos PCs, onde as recentes investidas da Intel e a decepção do Bulldozer deixaram a empresa em uma situação delicada.

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Apesar dos revezes, a AMD parece determinada a continuar a fazer o que faz de melhor: desenvolver chips. Em vez de continuar a desenvolver e vender apenas seus próprios processadores, a AMD pretende diversificar sua linha de produção, passando a também desenvolver SoCs customizados para outras empresas, contendo núcleos x86, GPUs, controladores diversos e, quem diria, também núcleos ARM. O anúncio da AMD é especialmente interessante pois sinaliza a possibilidade de no futuro termos SoCs contendo simultaneamente núcleos ARM e x86, abrindo as portas para dispositivos capazes de fundir os aplicativos das duas plataformas. Vale lembrar que atualmente os núcleos de processamento são relativamente pequenos frente aos caches, GPUs e outros componentes usados, daí a proliferação de SoCs com dois ou quatro núcleos. Não seria nenhuma grande dificuldade para a AMD combinar um núcleo x86 e dois ou mais núcleos ARM no mesmo chip, especialmente se for possível usar um cache compartilhado.

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Existem barreiras legais em torno da ideia, já que o contrato de licenciamento das instruções x86 entre a Intel e a AMD restringe os usos por parte da AMD, que não pode retransmitir a licença para outras empresas e assim por diante, mas todos sabemos que quando existe demanda do mercado sempre dá-se um jeito. Com exceção da quase finada VIA/Cyrix, a AMD é a única empresa no mercado que pode produzir processadores x86, concorrendo com a Intel.

O primeiro passo para esta nova era é a modularização dos diferentes IPs dos quais a AMD dispõe, ou seja, de componentes como núcleos de processamento, GPUs, barramentos e assim por diante. Atualmente, tanto a AMD quanto a Intel desenvolvem seus processadores a APUs na forma de um projeto seqüencial, do início ao fim. Os componentes são projetados como partes integrantes daquele projeto específico, e não como componentes modulares que podem ser facilmente reaproveitados em diversos projetos. Naturalmente, reutilização de componentes existe, mas ela é um processo tedioso, que exige uma longa faze de checagens e adaptações manuais. O resultado final disso é que cada novo projeto demora de 2 a 5 anos para ser desenvolvido, um ritmo que soa cada vez mais lento frente ao dinâmico mundo dos SoCs atuais.

Passando a desenvolver projetos modulares, a AMD ficará não apenas em melhor situação no ramo de APUs x86 (já que poderá reagir mais rapidamente às investidas da Intel, produzindo chips com diferentes combinações de núcleos de processamento, GPUs, barramentos e assim por diante) como poderá realizar a segunda parte do plano, passando a produzir também SoCs customizados em parceria com outras empresas, combinando suas CPUs e GPUs com processadores ARM e outros componentes de acordo com as necessidades de cada projeto, bem como ceder componentes individuais para uso em SoCs de terceiros, como acontece hoje em dia no caso das GPUs da Imagination Technologies, que são usadas por diversos fabricantes em uma infinidade de projetos diferentes. Se isso for bem sucedido, a AMD não precisará se esforçar muito para entrar nos tablets, dispositivos de convergência e outros dispositivos, já que diferentes parceiros poderão fazer isso.

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A Intel está também adotando uma estratégia um pouco similar com o Atom, utilizando blocos lógicos sintetizados, combinados com componentes de terceiros, como no caso da GPU do Moorestown, uma PowerVR SGX 535. A principal diferença é que a Intel está utilizando a metodologia para simplesmente agilizar a fabricação de seus próprios chips, enquanto a AMD sinaliza uma estratégia mais flexível, atendendo a outros fabricantes.

Em relação aos processadores e APUs, a AMD divulgou um roadmap bastante completo dos próximos lançamentos, focando sobretudo em melhorias entre a integração da CPU e GPU dentro das APUs, soluções de baixo consumo para tablets e afins e processadores destinados a servidores, que é um filão que continua a crescer.

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Ao longo de 2012 a AMD lançará três novas linhas de APUs: O Brazos 2.0, destinado aos dispositivos móveis e desktops para tarefas leves, o Trinity, destinado aos desktops e notebooks de alto desempenho e o Hondo, um chip de baixo consumo destinado a tablets.

O Piledriver, sucessor do Bulldozer entrará em cena, como a CPU de escolha para o Trinity. O processador incluirá dois módulos Piledriver (dois ou quatro threads), combinados com uma Radeon 7xxx.

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O Brazos 2.0 por sua vez oferecerá TDPs de 9 a 18 watts, combinando dois núcleos Bobcat com uma Radeon 6xxx, oferecendo um leve upgrade em relação aos modelos atuais. O Brazos tem se saído bem no mercado de notebooks de baixo custo e netbooks e vem sendo usado por  vários fabricantes em notebooks compactos, que chegam ao mercado como uma opção aos Ultrabooks com processadores Intel. Com o mercado de desktops encolhendo, o mercado de notebooks, ultrabooks e netbooks torna-se cada vez mais importante, sendo quase que uma questão de vida e morte para a AMD.

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O Hondo por sua vez é um chip muito similar, também baseado em núcleos Bobcat e uma GPU Radeon 6xxx, mas ele operará dentro de um TDP de apenas 4.5 watts, o que significa clocks muito mais baixos e versões com apenas um núcleo de processamento. 

Em 2013 entram em cena o Kaveri, Kabini e Tamesh, que substituirão o Trinity, Brazos e Hondo. Eles trarão grandes mudanças em relação aos chips atuais, com o Kabini e o Tamesh passando a ser soluções single-chip, integrando também as interfaces USB, SATA e etc. eliminando completamente a ponte sul do chipset. Com isso, as placas para estes processadores serão bem mais simples e compactas, incluindo apenas conexões e componentes auxiliares, o que é de uma forma geral bom no mercado móvel a que eles se destinam. O Kaveri por sua vez manterá um layout convencional, com um chip separado para a ponte-sul, uma combinação mais adequada às placas para desktops. 

A principal mudança nesta linha de 2013 será a introdução do HSA (Heterogeneous Systems Architecture), que permitirá que diferentes cargas de trabalho sejam melhor divididas entre a CPU e a GPU, com a introdução de um espaço de endereços unificados e paginação de memória, permitindo que as CPUs e GPUs compartilhem os mesmos dados, sem necessidade de que eles sejam movidos de um lado para outro dentro do chip. Isso abrirá as portas para softwares que combinem melhor o processamento dos dois componentes, o que tende a beneficiar a AMD, já que graças à compra da ATI ela está bem à frente da Intel em matéria de desenvolvimento de GPUs. 

AMD está também trabalhando em modernizar seus processos de fabricação. Ao longo de 2012 a empresa trabalhará com uma mistura do uso dos processos de 40 nm, 32 nm e 28 nm, usando 28 nm para os processadores de baixo consumo e alto desempenho e 32 ou 40 nm para o restante. A partir de 2013 entretanto pretendem migrar tudo para os 28 nm, tentando se manter um passo atrás da Intel, que já iniciou sua migração para os 22 nm.

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Vale lembrar que os ganhos obtidos com a migração para novos processos de produção vêm se tornando cada vez menores, com cada nova geração oferecendo ganhos cada vez menores em termos de ganho de clock e redução do consumo elétrico. Esta é uma situação que beneficia a AMD, já que a empresa não tem condições financeiras de acompanhar diretamente a Intel em matéria de técnicas de produção, dependendo das tecnologias oferecidas pela GlobalFoundries e pela TSMC. Se os ganhos obtidos pela Intel a cada migração são menores, a vantagem técnica dela em relação à AMD também diminui, abrindo a possibilidade de a AMD dar o bote em uma futura linha de APUs e voltar a ficar em vantagem, compensando as deficiências em termos de fabricação com projetos mais eficientes, como na época do Athlon 64 contra o Pentium 4.
 

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