Amarok weathers its own storm of reactions
Autor original: Bruce Byfield
Publicado originalmente no: lwn.net
Tradução: Roberto Bechtlufft
“É o nosso KDE 4.2”, disse Jeff Mitchell, desenvolvedor do Amarok. Ele se referia à versão 2.1 do popular reprodutor de mídia, incluindo a versão de manutenção 2.1.1, lançada recentemente. O que ele também quis dizer é que a recepção ao Amarok 2.0 foi muito semelhante à que teve o KDE 4, provocando reações hostis instantaneamente, e que só foram despachadas conforme as versões posteriores foram resolvendo as maiores reclamações. A analogia parece se justificar completamente por uma olhadinha na interface básica da versão 2.1.1 e em seus recursos de personalização.
A analogia é à recepção hostil que o KDE 4.0 recebeu em seu lançamento em janeiro de 2008. Apesar dos avisos de que a versão não seria voltada ao uso geral, as distribuições empacotaram o KDE 4.0 o mais rápido que puderam. Os usuários começaram a reclamar quase que imediatamente das mudanças na interface e da falta de recursos encontrados em versões anteriores. Essas reclamações só deram trégua quando as versões 4.1 e 4.2 reintroduziram os recursos que faltavam e trouxeram mais personalização, embora ainda se escutem reclamações sempre que o KDE 4 é mencionado online.
“O processo de desenvolvimento do Amarok 2 seguiu um caminho parecido”, disse Mitchell. Como no KDE, “Nós tínhamos uma visão de onde poderíamos chegar com o Amarok, e a base de código que se desenvolveu desde o começo bem mais limitado e simples do Amarok não tinha condições de nos levar até lá. Logo, assim como ocorreu com o KDE 4, o Amarok 2 não foi uma mera transposição para o Qt4 e as bibliotecas do KDE 4; foi praticamente uma reescrita completa.”
Uma boa parte dessa reescrita foi uma transição para as novas tecnologias do KDE 4.0. A mudança para o Phonon, a API multimídia do KDE, fez com que o Amarok não tivesse mais que manter seus próprios mecanismos de mídia e, na versão 2.1, permitiu a inclusão de um equalizador gráfico na janela de configurações. De modo semelhante, agora o Amarok inclui uma versão integrada do Plasma, com as tecnologias centrais do desktop KDE. Essa mudança permite que os recursos de contexto no painel do meio do Amarok, como as informações sobre o artista e as letras das músicas, sejam criados como applets do Plasma. A integração dessas tecnologias do KDE 4 aumenta o desempenho e reduz a base de código que precisa ser mantida, ao mesmo tempo em que adiciona novas funcionalidades às tecnologias do KDE 4 em si.
No total, foram adicionadas umas duzentas mil linhas de código ao Amarok. Como nem o projeto nem qualquer distribuição empacotou as prévias desta versão, Mitchell admitiu que as novas inclusões ainda não passaram por uma boa bateria de testes. Mas o projeto optou pelo lançamento em dezembro de 2009 principalmente porque a “motivação costuma vacilar quando você desenvolve sem ter uma data definitiva. O lançamento da versão 2.0 nos deu ânimo, já que pudemos sair do nosso interminável estado de feature freeze (em que a adição de novos recursos é proibida) e passar a incluir diversas funcionalidades, além de um maior número de relatos de bugs e de patches enviados.”
O lado ruim de lançar a versão 2.0 foi a recepção quase idêntica à do KDE 4.0, uma semelhança detectada por comentaristas quase que imediatamente. Se der uma busca na internet, você vai achar uma boa dose de reclamações sobre a mudança da interface em relação à versão 1.4. Havia ainda reclamações bastante comuns quanto à falta de um editor de listas de reprodução, de estatísticas, de um equalizador de som e de outros recursos.
Essa recepção não foi exatamente uma surpresa para o projeto, de acordo com Mitchell. Lançada em 4 de junho de 2009, a ideia para a versão 2.1 era a de que ela fosse “nossa primeira versão para os usuários”, explicou Mitchell. “E essa previsão mostrou-se verdadeira. Nós, desenvolvedores, achamos que esta versão é mais bem acabada e que está pronta para o uso geral; as respostas dos usuários parecem de acordo com essa afirmação, revertendo as pilhas de análises negativas da versão 2.0 com análises da 2.1 que, pelo que vimos até agora, são de modo geral muito positivas.”
Ele admitiu que a interface continua recebendo críticas, e que pode precisar de mais de trabalho. De modo geral, porém, Mitchell disse que a equipe do Amarok já está de olho em novidades, como no uso do Solid, o framework para integração de dispositivos do KDE, para a detecção de mídia portátil, e na integração com o Strigi, o daemon para pesquisa no desktop do KDE. Outros recursos vindouros incluem a navegação por breadcrumbs (“migalhas” que marcam o caminho percorrido) e os novos applets de contexto para o YouTube e o Flickr.
A nova interface
Para quem estiver disposto a testar por conta própria as afirmações de Mitchell, o Amarok 2.1.1 já está disponível na maioria das distribuições mais badaladas, e também em muitas das menores. Em muitos casos, será necessário procurar fora dos repositórios oficiais. O Amarok está disponível, por exemplo, no Lauchpad para o Kubuntu, e no repositório Experimental do Debian.
Quem estiver acostumado à janela do Amarok 1.4 provavelmente vai se ver perdido com as alterações na interface em um primeiro momento. Em vez de exibir as fontes de músicas e as informações auxiliares em um mesmo painel à esquerda, o Amarok 2.1.1 agora distribui essas informações pelos dois primeiros painéis à esquerda, deixando apenas o terceiro para as faixas da lista de reprodução.
O layout não é o ideal sob uma certa perspectiva. Na lista de reprodução, o artista e o álbum são listados como um cabeçalho, em vez de serem repetidos faixa a faixa, o que pode ser inconveniente em uma lista longa. De modo semelhante, os detalhes das faixas e a classificação da coleção só estão disponíveis pelos menus de contexto, que podem passar despercebidos a princípio.
Mas sob uma outra perspectiva, o layout remove as informações desnecessárias, sem no entanto deixar de disponibilizá-las. Eu presumo, obviamente, que a maioria das pessoas já esteja familiarizada com o artista e o álbum, e que só queira ver ocasionalmente a arte da capa.
Além do mais, o painel de contexto do meio, com seus applets nas guias na parte de baixo, oferece mais informações do que a versão 1.4, incluindo as letras e informações da Wikipedia. Os applets nem sempre são perfeitos: se o aplicativo da Wikipedia encontra uma página de desambiguação, por exemplo, clicar no link correto abre a página no navegador web, e não no Amarok. Mas mesmo assim os applets são bem-vindos, e com essas novidades, algumas informações tinham que sair.
Como um todo, eu acho que o Amarok priorizou as informações de forma correta, ainda que correndo o risco de eventualmente fazer com que um recurso passe despercebido. Além disso, se você não tiver interesse nas informações de contexto, pode ajustar o tamanho dos painéis para que o painel do meio fique escondido e o Amarok lembre mais a versão 1.4.
Recursos avançados e de personalização
Um recurso que pode passar despercebido é o PopUp Dropper, ou PUD. Ao arrastar uma música do painel de coleções para a lista de reprodução, o PUD aparece quando o cursor se move pelo painel do meio. Se soltar a música sobre Append to Playlist (Adicionar à Lista de Reprodução) ou Replace Playlist (Substituir Lista de Reprodução), a ação é realizada imediatamente. Mas também é possível passar o cursor sobre More (Mais) para que o Menu do PUD se expanda, revelando opções menos comuns. Ainda que esse recurso não seja estritamente necessário, é uma conveniência que eu não ficaria nem um pouco chateado em ver nos gerenciadores de arquivos, especialmente quando em telas pequenas de netbooks, onde o recurso poderia eliminar a necessidade de rolagem.
Há outros recursos meio escondidos que expandem a funcionalidade básica do Amarok. Dependendo da forma como sua distribuição distribui o Amarok, pode ser possível habilitar mais serviços de internet em Settings (Configurações) -> Configure Amarok (Configurar o Amarok) -> Internet Services (Serviços de Internet). Esses serviços são mais numerosos e variados do que na versão 1.4.
Para obter ainda mais variedade, dê uma olhada em Tools (Ferramentas) -> Script Manager (Gerenciador de Scripts) para adicionar recursos à instalação básica. Os scripts disponíveis incluem um para transmissão de audio books da Librivox, além de um serviço que lista estações de rádio da internet. Clique no botão Get More Scripts (Obter Mais Scripts) para baixar outros scripts, como fluxos de áudio locais e applets ou funcionalidade extra, como um alarme musical e um reprodutor de álbuns que escolhe os álbuns aleatoriamente. A ativação desses scripts geralmente exige que o Amarok seja reiniciado.
Um novo recurso da versão 2.1.1 é a capacidade de criação de listas de reprodução “tendenciosas” a partir de uma coleção aleatória. Usando as tags das faixas, você pode definir a proporção de certas características desejadas. Por exemplo, você pode querer que 25% da lista de reprodução inclua um certo artista, ou que 10% inclua um álbum específico. Outra alternativa é usar o recurso Fuzzy Bias (Tendência Nebulosa) para que a lista inclua apenas canções com menos de três minutos, ou que tenham sido lançadas em um determinado ano. Com esses recursos, o Amarok parece estar mais personalizável do que nunca.
Resumindo
Embora ainda faltem alguns recursos de versões anteriores na versão 2.1.1, se você vai ou não sentir falta deles é questão de preferência. Alguns podem sentir falta do assistente de configuração. Outros podem sentir falta da capacidade de usar um banco de dados que não seja o MySQL, mas essa restrição parece bem natural, dada a forte integração desta versão do Amarok com o KDE, que usa o MySQL para todo o resto. Quanto à capacidade de usar o cartão de crédito para comprar músicas na Magnatune, esse serviço foi descontinuado pela Magnatune, e não pelo Amarok. É provável que estejam faltando outros recursos também, mas se faltam recursos importantes, eu não notei nos cinco dias que passei usando a nova versão.
O que eu notei foi que a nova interface contém mais informações e realça os controles. Um exemplo bastante evidente é o aumento de tamanho e a mudança de posição dos controles básicos de reprodução, que foram do canto inferior direito para o superior esquerdo.
Também gostei dos applets com informações de contexto, e do fato das funcionalidades avançadas e opções de personalização estarem prontamente disponíveis, ainda que não estejam muito óbvias. Dessa forma, os recursos avançados podem ser descobertos gradualmente, em vez de nos afogarem em sua complexidade logo na primeira vez em que abrimos o aplicativo.
É sempre difícil quando pedem para que nós nos acostumemos a algo que não nos é familiar. É provável que a maioria dos usuários tenha uma ou duas reclamações a fazer sobre o novo Amarok. As minhas são quanto à janela de notificação que aparece quando começa a tocar uma música sem que o Amarok tenha o foco e o atraso perceptível até que o botão Stop funcione.
Mas se você puder deixar de lado quaisquer preconceitos baseados em versões anteriores, provavelmente vai concluir que os desenvolvedores do Amarok estão certos: com a versão 2.1.1, o Amarok deixou mesmo a maioria de seus problemas para trás. Em mais uma ou duas versões ele deve recuperar sua popularidade e a recepção hostil à versão 2.0 será apenas uma memória distante.
Créditos a Bruce Byfield – lwn.net
Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>
Deixe seu comentário