10 motivos para não comprar um Pentium 4 (por enquanto)

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Nota: Esta análise foi escrita em 2001, pouco depois do lançamento do Pentium 4. Como era de se esperar, muitos dos problemas indicados aqui foram solucionados com o lançamento do Northwood e das versões posteriores do Pentium 4, embora muitos dos problemas fundamentais, como a baixa eficiência do projeto tenham permanecido. Se você está interessado em uma análise mais atualizada (e entender como terminou a saga do Pentium 4), recomendo que leia a minha análise de 2006:

Core Duo 2 e a morte do Pentium 4

Lembro de ter lido a uns 6 anos atrás um reportagem da revista Quatro Rodas que citava 10 motivos para não comprar um Fusca, na época que ele havia sido relançado. Naturalmente, um fusca não tem nada a ver com um processador, muito menos com o Pentium 4. Porém, depois de ler algumas matérias sobre o Pentium 4 em certas revistas e jornais, que pareciam mais propagandas pagas do que uma análise séria, a lembrança deste artigo sobre o Fusca me deu a idéia de escrever este artigo, dando 10 bons motivos para não se comprar um Pentium 4 hoje.

A idéia não é desmoralizar ninguém, apenas dar uma idéia clara sobre as desvantagens deste processador atualmente, desmentindo o marketing que temos visto.

  1. Um clock maior não significa mais desempenho

    Se os dois custassem a mesma coisa, o que você preferiria levar para casa, um K6-2 de 550 MHz, ou o Athlon, também de 550 MHz? Ou ainda, o que você preferiria, um 486 DX4-100 ou um Pentium 100?
    Qualquer um sabe que um Pentium é mais rápido que um 486, ou que um Athlon é mais rápido que um K6-2 do mesmo clock, já que estes processadores são muito mais avançados que os anteriores. Um 486 precisaria operar a no mínimo 200 MHz para bater um Pentium 100 e mesmo assim continuaria perdendo em alguns aplicativos.
    O mesmo acontece com o Pentium 4, apesar do clock mais alto, 1.5 GHz, ele perde para um Athlon de 1.2 GHz na grande maioria das aplicações. Em alguns aplicativos, como por exemplo no Word, o Pentium 4 de 1.5 chega a perder até mesmo para um Pentium III 800. A idéia da Intel com o Pentium 4 foi criar um processador que pudesse operar a freqüências mais altas, não que tivesse o mesmo desempenho clock por clock. Leia detalhes sobre a arquitetura interna do Pentium 4 e veja alguns benchmarks aqui

  2. O preço do Processador

    Além do problema do desempenho, o Pentium 4 é muito caro de se produzir, o que somado com a grande margem de lucro da Intel, torna seu preço extremamente salgado. Depois da queda dos preços de Dezembro, o Athlon de 1.2 GHz está custando nos EUA apenas 254 dólares, o que significa que em breve os teremos, aqui no Brasil por volta de 350 dólares. O Pentium 4 de 1.5 GHz por sua vez, custa nos EUA 850 dólares, o que significa mais de 1.000 dólares aqui no Brasil. Isso considerando apenas o processador, sem contar as placas mãe e as memórias Rambus.

  3. O preço das placas mãe e das memórias Rambus

    Além do preço do processador, ainda temos como novos inconvenientes, os preços das placas mãe e das memórias Rambus, que são obrigatórias. Uma placa para Pentium 4 da Gigabyte nos EUA, custa 309 dólares. Uma Asus, novamente nos EUA não sai por menos de 350 dólares. Calcule quanto não custarão aqui no Brasil.
    Além da placa mãe, temos também o problema das placas atuais para Pentium 4 serem compatíveis apenas com memórias Rambus, bem mais caras, e o pior, exigirem o uso dos módulos em pares.

  4. As placas mães para Pentium 4 atuais terão vida curta

    Os Pentiums 4 à venda atualmente utilizam o Soquete 423, o problema é que as novas versões do processador, que entrarão no mercado a partir do segundo semestre de 2001, utilizarão o Soquete 478, um novo encaixe, incompatível com o atual, estas primeiras versões estarão disponíveis tanto no formato 423 quanto no 478. No final do ano porém, teremos no mercado as novas versões, que utilizarão a técnica de produção de 0.13 mícron, estarão disponíveis em versões a partir de 2.0 GHz, e virão apenas em versão Soquete 478, tornando as placas mãe Para Pentium 4 atuais, as de 350 dólares, obsoletas.

  5. Coprocessador aritmético anêmico.

    No coprocessador aritmético do Pentium 4 temos um cenário bastante complicado, pois apesar das unidades de execução terem perdido desempenho devido ao Pipeline de 20 estágios, não houve nenhum avanço para equilibrar a balança, como tivemos nas unidades de inteiros. Pelo contrário, o coprocessador aritmético encolheu, tendo sido podadas duas das unidades de execução, uma das que processava instruções MMX e uma das que processava instruções SSE.
    Ao invés de evoluir, como seria de se esperar, o coprocessador aritmético do Pentium 4 tornou-se ainda mais frágil do que o do Pentium 3, trazendo um cenário no mínimo curioso. Enquanto na época do Pentium II e do K6, a AMD competia com um processador que apesar de possuir um bom desempenho em aplicativos de escritório era literalmente massacrado nos jogos e aplicativos gráficos, temos agora com o Pentium 4 x Athlon um cenário semelhante, porém com os lados invertidos: A Intel ataca com um processador que é potente em inteiros, mas fraco em ponto flutuante.
    Ironicamente, a solução da Intel para tentar diminuir a deficiência do processador em ponto flutuante é a mesma que a AMD usou na época do K6-2. Lembra-se do 3D-Now, as instruções incorporadas ao K6-2, que melhoravam seu desempenho nos jogos otimizados, fazendo com que em alguns títulos seu desempenho ficasse muito próximo ao de um Pentium II? A Intel optou por segui exatamente o mesmo caminho, incorporando 144 novas instruções ao Pentium 4, chamadas de SSE2, que visam melhorar seu desempenho os jogos e aplicativos gráficos.
    O grande problema é que os aplicativos atuais não são otimizados para o SSE 2 trazido pelo Pentium 4, o que está proporcionando os resultados vexatórios que estamos vendo atualmente. Entretanto, o Pentium 4 deve apresentar uma curva de desempenho os próximos meses, quando começarem a sair os aplicativos otimizados para o SSE 2, isto trará um ganho de desempenho entre 10 e 20%, finalmente colocando o Pentium 4 no páreo, pelo menos dentro dos aplicativos otimizados.

  6. O Problema dos gabinetes e fontes

    Como citei na minha análise do Pentium 4 (https://www.hardware.com.br/Analises/Pentium4/) devido ao cooler, o Pentium 4 precisa que o gabinete traga quatro novos orifícios destinados ao suporte do conjunto. Ao mesmo tempo, foi criado um novo padrão de fontes, com um encaixe adicional, destinado a suprir eletricamente o processador. Com isto, fora alguma gambiarra que alguém possa conseguir fazer, o Pentium 4 não pode ser instalado nos gabinetes ATX comuns, apenas nos gabinetes que seguem o novo padrão. Isto acrescenta mais uma dificuldade, encontrar um destes gabinetes para vender e pagar o preço, que como em todo lançamento é sempre salgado.

  7. O Pentium 4 arrasa no Quake 3, mas a placa de vídeo não acompanha.

    Sim, o Pentium 4 é muito rápido no Quake 3 (apenas no Quake 3, não em outros jogos), é um dos poucos aplicativos onde ele realmente se destaca. O problema neste caso é que a placa de vídeo 3D não acompanha o processador, fazendo com que a potência adicional não adiante muito.
    Uma GeForce 2 GTS, a sonho de consumo de muita gente hoje em dia, rodando o Quake 3 a 1024 x 768 @ 32 bits, atinge seu desempenho máximo em um Pentium III 600. Habilitando o recurso de FSAA da GeForce, na opção High Quality, onde temos uma grande melhora na qualidade de imagem às custas de uma grande queda no desempenho da placa, o desempenho máximo pode ser atingido em um mero K6-2 400.
    Sim, usando 640 x 480 um processador mais rápido significa muito mais quadros por segundo, mas quem compraria um Pentium 4 e uma GeForce 2 GTS para jogar a 640 x 480 ??
    O forte desempenho no Quake 3 não é proporcionado pelo processador em sí, mas pelo bus de 400 MHz (100 MHz com 4 transferências por ciclo) combinado com os dois canias de memórias Rambus usados pelo Pentium 4. Isso mostra que em alguns aplicativos, as placas mães de 350 dólares e as caras memórias Rambus podem mostrar serviço.

  8. Simplesmente horrível no 3D Studio

    Como disse, o Pentium 4 traz um grave problema, que é seu coprocessador aritmético bastante fraco. Como compensação, ele traz o SSE2, capaz de diminuir esta desvantagem, ou até mesmo fazer com que ele supere o coprocessador do Athlon, porém apenas em aplicativos otimizados.
    Veja um caso de um programa razoavelmente antigo, o 3D Studio Max R2, que ainda é muito usado. Este programa é otimizado apenas para o Pentium antigo e Pentium Pro, sem nenhum tipo de otimização para o 3D-Now do Athlon ou o SSE 2 do Pentium 4. Ao mesmo tempo este é um aplicativo extremamente intensivo em termos de cálculo aritmético. No teste feito pelo Tom do Toms Hardware, o Pentium 4 de 1.5 GHz conseguiu renderizar apenas 80 quadros em uma hora, contra 150 quadros de um Athlon 1.2. Mesmo um Pentium III de 1 GHz saiu-se melhor, com 85.7 quadros. Para conseguir superar seu irmão menor, o Pentium 4 teve que ser overclocado para 1.73 GHz. É um dos testes onde o Pentium 4 se sai pior.
    Veja o gráfico em:
    https://www.hardware.com.br/analises/09/image011-tom.gif

  9. O Athlon e o Pentium 3 apresentam um custo benefício bem melhor

    Apesar do Pentium 4 de 1.5 ser mais rápido em alguns aplicativos, o Athlon de 1.2 ainda ganha com uma boa margem no geral. Apesar de aparecer como lanterninha dos três, o Pentium 3 de 1 GHz traz a possibilidade de combinar dois processadores em SMP, o que melhora muito a performance dentro do Windows 2000 e aplicativos mais intensivos. O Athlon também oferece esse recurso, apesar das placas mães que permitem 2 o uso de 2 Athlon em SMP serem mais caras e difíceis de achar aqui no Brasil
    Levando todos os fatores em conta, o Pentium 4 é simplesmente o pior processador atualmente em termos de custo benefício, mesmo considerando apenas o desempenho não existem muitos bons motivos para comprar um.
    A minha opinião é que para um micro doméstico, as melhores opções ainda são o Duron, Athlon, Celeron ou Pentium III, dependendo de qual processador preferir. Para micros de alto desempenho a melhor opção atualmente é o Athlon de 1.2 GHz, simples ou então dois processadores em SMP. Se você fizer questão de um processador Intel, então a melhor opção é o Pentium III de 1 GHz, ele não é mais o processador mais rápido do mercado, mas ainda apresenta um custo benefício bem melhor que o Pentium 4.
    Para passar a ser uma opção viável, o Pentium 4 teria que apresentar um desempenho pelo menos igual ao de um Athlon do mesmo clock, já que o Pentium 4 custa muito mais caro, o que significaria um Pentium 4 de 1.5 GHz 25% mais rápido que um Athlon de 1.2 GHz. Infelizmente isto está muito longe do cenário que temos atualmente.
    É possível que o Pentium 4 atinja este nível de desempenho em alguns aplicativos otimizados para o SSE 2 que começarão a aparecer no mercado nos próximos meses, passando a apresentar um custo benefício aceitável, pelo menos para quem trabalhe predominantemente com estes aplicativos otimizados. Entretanto, até agora, o Pentium 4 vem ganhando o troféu abacaxi.

  10. A cautela é o melhor seguro

    Existe sempre o porém de que no mundo da informática tudo pode mudar muito rapidamente, um simples compilador que adicione suporte às novas instruções sem maior trabalho para o programador pode mudar o cenário atual muito rapidamente, ou o cenário atual pode manter-se por anos, quem sabe… Prevendo isto, continuarei a escrever novas matérias sobre o Pentium 4 sempre que novidades forem surgindo.
    Em 2001 teremos vários lançamentos de processadores. Começando pela AMD, teremos versões de 1.26, 1.3 e 1.4 GHz, o novo Athlon Palomino, em versões de 1.5 e 1.7 GHz, o Pentium III de 0.13 mícron (Tualatin) em versões de 1.26 GHz em diante e o Pentium 4 de 0.13 mícron, em versões a partir de 2.0 GHz. Teremos também os novos processadores ClawHammer e SledgeHammer da AMD, assim como o Intel Itanium, sem contar os processadores da Cyrix e da Transmeta.
    Como citei anteriormente, os Pentium 4 de 0.13 micron utilizarão um novo encaixe. Quem comprar um Pentium 4 hoje terá em mãos um equipamento sem possibilidades de atualização.
    Claro que estes serão chips de alto desempenho, tão caros quanto um Pentium 4 hoje, mas forçarão uma queda dos preços e uma concorrência cada vez maior. No Natal de 2001, um Athlon de 1.2 GHz não custará mais que 120 dólares, isso se ainda estiver sendo produzido 🙂

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