Esta análise inaugura uma nova área de cobertura do site: análise de hardwares no Linux. A idéia é combinar explicações sobre os componentes, com dicas e explicações de como fazê-lo funcionar no Linux, cobrindo a lacuna que existe atualmente entre os sites técnicos.
Para começar, aqui vai um mini-review da ECS K8M800-M2 e da PC-Chips M861G, que foram cedidas pelo Alexandre Alves, da Distribuidora Maxxi (http://www.maxxidistribuidora.com.br). Eles se ofereceram para fornecer placas e notebooks para review, o que deu o pontapé inicial para ressuscitar a seção de análises.
Sempre relutei em receber placas para review fornecidas pelos fabricantes, pois eles sempre esperam receber uma análise favorável. Você acaba tendo que escolher entre esconder os problemas ou perder o parceiro. Trabalhando com uma distribuidora não temos este problema, pois eles trabalham com diversas marcas e estão mais interessados em que os compradores estejam bem informados sobre o que estão comprando. Uma salva de palmas para eles 🙂
As duas placas ao baseadas no chipset Via K8M800, soquete 754, com suporte a módulos DDR400/333/266 de até 1 GB cada (temos dois slots, então o máximo de memória suportada são 2 GB) e AGP 8x (sem PCI-express).
O vídeo, som e rede onboard também são iguais nas duas placas, com vídeo Via Unicrome, audio AC’ 97, com o chip Realtek ALC655, e rede VT6103L (Via-Rhine). Ambas possuem tanto as duas portas IDE tradicionais (ATA-133), quanto duas portas Serial-ATA (150).
Embora os recursos e componentes usados nas duas placas sejam muito similares, a PC-Chips é muito mais compacta, como se fosse uma versão econômica da ECS. Outra diferença é que a ECS possui três slots PCI, enquanto a PC-Chips possui apenas dois. Ambas as placas incluem um modem AMR, que utiliza o DSP incluído no próprio chipset.
Note que além do conector para a fonte de alimentação, ambas as placas possuem o conector adicional de 4 pinos, destinado a fornecer energia adicional para a placa 3D e/ou processador. Usar uma fonte com o conector adicional é essencial ao usar uma placa 3D offboard ou um processador topo de linha, caso contrário você vai ter problemas de estabilidade relacionados a deficiência no fornecimento elétrico da fonte.
Lembre que fontes problemáticas também causam travamentos, pois ao exceder o limite de fornecimento da fonte ocorre uma queda brusca de tensão. Em casos extremos, podem até mesmo correr danos aos componentes. Evite fontes muito baratas, é um caso ode o barato sai caro.
Não é à toa que as duas placas são tão semelhantes. De fato, a ECS e a PC-Chips são na verdade duas divisões da mesma empresa, daí a similaridade entre as placas das duas marcas. A principal diferença é que a ECS vende placas diretamente ao consumidor final, com caixa, manual, garantia melhor e até suporte técnico, enquanto as placas da PC-Chips são destinadas aos integradores, daí os sacos plásticos como embalagem, o FTP para baixar drivers que nunca funciona, e coisas do gênero ;).
Em teoria, as placas da ECS possuem uma qualidade um pouco melhor e, principalmente, possuem um controle de qualidade mais rigoroso, o que faz com que menos placas com defeito cheguem ao mercado. No caso da PC-Chips o controle de qualidade não é tão rigoroso, pois o marketing é o preço. Daí surge a diferença de preços entre as placas.
Apesar disso, o propósito deste tutorial não é discutir a qualidade ou durabilidade das placas, afinal este é um dos temas onde todo mundo parece já ter sua opinião formada, mas simplesmente falar sobre a compatibilidade das duas placas no Linux e dar dicas de como extrair o máximo do equipamento, já que atualmente estas duas placas estão entre as mais comuns nos micros de baixo de custo. Os problemas relatados refletem apenas o que foi possível encontrar durante os testes. Se a sua placa der defeito depois de 6 meses de uso, queimar o pente de memória por problemas nas tensões fornecidas, ou um raio cair sobre a sua cabeça, não venha me culpar ;).
Assim como em outras placas, na PC-Chips o jumper do CMOS vem de fábrica na posição discharge, para evitar que a bateria seja consumida enquanto a placa fica em estoque. A placa não liga enquanto o jumper estiver na posição 2-3; é preciso colocá-lo na posição 1-2:
O modem onboard vem desativado por padrão no setup. Se for usá-lo, não se esqueça de ativar a opção “Modem Device”. Se for usar um teclado USB, ative a opção “USB Function for DOS”, que equivale à opção “USB Legacy Support” encontrada em outras placas. Ela faz com que o teclado possa ser usado para acessar o setup e na tela de boot do lilo.
Ao montar micros com 256 MB ou menos, é importante reservar o mínimo possível de memória para o vídeo onboard. A ECS não permite reservar menos de 32 MB, enquanto a PC-Chips oferece mais opções, indo até 8 MB:
Nenhuma das duas placas apresentou problemas durante a instalação do Kurumin ou do Ubuntu 5.10, por isso não vou entrar em detalhes sobre a instalação do sistema. O porém é que em ambos os casos, o sistema detecta o vídeo usando o driver “vesa”. Para usar o driver correto e ativar a aceleração e os recursos 3D do vídeo onboard, é preciso driblar um conjunto de problemas:
O vídeo é uma questão interessante. Em abril de 2005, a Via anunciou o lançamento de um driver open-source, que seria integrado ao X.org e faria com que as placas tivessem suporte 3D out-of-the-box, sem precisar de nenhuma configuração adicional. O driver realmente vem integrado no X.org, a (partir da versão 6.7.1) e realmente funciona, porém não sem uma boa dose de problemas.
Como o driver é relativamente recente, muitas distribuições não o detectam corretamente, usando no lugar o driver “vesa”, que não possui suporte 3D, é lento e limitado a 1024×768.
A forma mais rápida de indicar o driver correto é simplesmente abrir o arquivo “/etc/X11/xorg.conf” e substituir a linha:
Driver “vesa”
por:
Driver “via”
Terminado, reinicie o X pressionando “Ctrl+Alt+Backspace” e rode o “glxgears” ou outro programa 3D para verificar se o 3D está realmente funcionando. O glxgears deve mostrar algo entre 450 e 550 FPS.
Se depois de trocar o driver, o sistema ficar muito lento, demorando vários minutos para carregar o X, significa que você chegou ao segundo problema, um conflito entre as funções 3D do driver e o ACPI, que aparece em algumas versões do X.org. Neste caso, o mais simples é desativar o ACPI. Para isso, abra o arquivo “/etc/lilo.conf” e adicione a opção “acpi=off” dentro da linha append=, (sem remover as outras opções), como em:
append =”splash=silent nomce quiet noapic acpi=off“
Depois de salvar o arquivo, rode o comando “lilo” (como root), para salvar as alterações.
Caso você esteja usando uma distribuição que utilize o grub, como o Ubuntu ou o Fedora, abra o arquivo “/boot/grub/menu.lst” e adicione a opção no final da linha “kernel”, novamente sem apagar as demais opções, como em:
kernel /boot/vmlinuz-2.6.14 root=/dev/hda1 ro splash=verbose acpi=off
No caso do grub, você não precisa rodar nenhum comando depois de alterar o arquivo, basta reiniciar o micro.
No caso do Kurumin, você pode fazer as duas alterações diretamente na tela de boot do CD, usando a linha de boot:
Para que o 3D funcione corretamente, é preciso também que os módulos “agpgart”, “via” e “via-agp” estejam carregados. Quase todas as distribuições fazem isso automaticamente mas, caso necessário, carregue os três usando o comando “modprobe” e adicione-os no final no arquivo “/etc/modules”, de forma que sejam carregados automaticamente durante o boot.
Mesmo com estas alterações, o driver ainda se comporta de maneira irregular, inclusive com alguns travamentos ao rodar aplicativos 3D. Aqui você vê um dos que presenciei; ao passar para a segunda fase do Chromium, o programa trava e a janela fica piscando em vermelho. Só mesmo um Ctrl+Alt+Backspace para reiniciar o X resolveu:
Ao rodar o cube, tudo vai bem até pressionar a tecla “Esc” para abrir o menu de opções. Outro travamento, este só resolvido com um reset no botão.
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