Arch Linux in review
Autor original: Chris Smart
Publicado originalmente no: distrowatch.com
Tradução: Roberto Bechtlufft
Eis que chega o Arch Linux. De acordo com o site do projeto, o independente Arch Linux (pronuncia-se “ártch”) é uma “distribuição Linux leve e flexível que busca manter a simplicidade… O desenvolvimento é focado em um equilíbrio entre simplicidade, elegância, correção de código e software atualíssimo. Com seu design leve e simples, é fácil estendê-lo e moldá-lo a qualquer tipo de sistema que você montar.” No momento, a distro oferece pacotes para arquiteturas i686 e x86_64 – sim, i686, ou seja: o Arch Linux não roda nos velhos hardwares i386, i486 e i586. Embora a maioria dos sistemas em uso hoje em dia seja compatível, seu processador tem que ser Intel Pentium Pro, AMD Athlon, VIA C3 ou melhor. Os repositórios oficiais (“core” e “extra”) são menores que os de muitas distros grandes, mas a comunidade é muito ativa e cria pacotes adicionais (que ficam no repositório “community”). Também há um repositório “testing” para versões futuras. O modelo de pacotes do Arch Linux é “rolling-release”, ou seja, não há versões separadas, mas sim “instantâneos” das árvores de pacotes. Isso quer dizer que tanto as atualizações de segurança e de recursos dos pacotes quanto as versões novas deles são incluídas na mesma árvore. Uma instalação do Arch Linux pode ser atualizada eternamente na mesma “versão”, sem a necessidade de “upgrade” como na maioria das distribuições.
O Arch Linux é para você? Essa distribuição em particular é voltada para “usuários competentes do GNU/Linux”, ou pelo menos aos que queiram aprender. Se você está pensando em experimentar o Arch Linux, prepare-se para ler bastante e se aventurar pelo fórum e pelo wiki. Você vai ter que se virar, já que o Arch Linux não configura as coisas para você automaticamente – por isso, aprenda a ser paciente, pode ser que nem tudo funcione do jeito que você espera! Há um guia de instalação e um guia de introdução (ambos em inglês) que vão ajudá-lo a dar os primeiros passos. Em minha curta experiência com o Arch Linux (uns dois meses) achei a comunidade muito amistosa e solícita.
Instalação
Sem dúvida, o instalador do Arch Linux é bem básico. O ambiente de instalação suporta LVM e dispositivos RAID por software, mas o instalador não consegue configurá-los, e isso deve ser feito em outro console primeiro. Sendo assim, outras opções, como ajustes nos sistemas de arquivos (configuração de rótulos, modo do journal e outros), devem ser definidas manualmente. O instalador em si é um script do bash baseado em ncurses que automatiza as seis funções principais para a realização de uma instalação completa. O processo consiste em configurar a rede (se necessário), configurar o HD, configurar um mirror para baixar os pacotes e atualizar o banco de dados de pacotes (se estiver usando o método de instalação via FTP), selecionar e instalar os pacotes básicos, configurar o sistema e finalmente instalar o gerenciador de boot (GRUB ou LILO).
Tela de boas-vindas do instalador do Arch Linux
A seguir, edite manualmente os arquivos de configuração do sistema. Embora tenham sido preenchidos automaticamente, o instalador permite mexer no sistema e definir outras informações importantes, como o nome do host. Uma das coisas que eu mais gosto no Arch Linux é que a configuração principal do sistema é mantida em um único arquivo, o /etc/rc.conf. É nele que você diz ao sistema que módulos carregar, quais serviços iniciar, o locale e o layout do teclado, o fuso horário, a hora e o nome do host, faz a configuração da rede e mais. O arquivo é bem comentado e fácil de entender. Isso é o que eu chamo de simplicidade! Por padrão, o Arch Linux inicia automaticamente os serviços básicos para você, como o logger, a rede e o cron. O resto cabe a você. Quaisquer outros serviços que forem instalados devem ser incluídos na lista de ‘DAEMONS’ do rc.conf para que sejam iniciados automaticamente no boot. Também é possível mandar os serviços iniciarem em segundo plano, colocando uma arroba no nome (por exemplo, @network) ou desativar um serviço com um ponto de exclamação (!network). A ordem de execução dos serviços está relacionada à posição deles na lista (excluindo as dependências). Eu gosto de fazer as coisas dessa maneira. Quanto ao gerenciador de boot, o instalador inclui automaticamente as entradas para iniciar o Arch Linux. Se tiver outras distribuições instaladas, você vai ter que adicioná-las manualmente. É isso! Hora de iniciar o Arch Linux.
Configuração inicial no instalador do Arch Linux
Uso do sistema
Como eu estava logando como root, decidi criar um usuário para mim. Fiz isso com o comando adduser. Depois eu instalei o pacote sudo para poder rodar comandos como root com esse usuário. Foi bem simples, só tive que editar o arquivo /etc/sudoers para permitir que todos os usuários do grupo wheel executassem todos os comandos. Depois eu incluí meu usuário no grupo wheel com um gpasswd -a chris wheel e fiz logout da conta de root. Agora eu posso logar como usuário comum e realizar comandos de root pelo sudo. Por padrão, a minha conta só pertencia ao grupo “users”, e conforme fui adicionando funcionalidades tive que incluir o meu usuário nos respectivos grupos. Por exemplo, para reproduzir sons o usuário tem que ser membro do grupo “audio”, e do grupo “video” para usar 3D.
Como o Arch Linux não é um fork de outra distribuição (embora o fundador Judd Vinet tenha se inspirado no CRUX), ele tem seu próprio sistema de gerenciamento de pacotes desenvolvido de forma independente, o Pacman. Ele é um gerenciador de pacotes leve, simples e poderoso. O Pacman realiza os comandos corriqueiros de instalação, remoção e gerenciamento de pacotes, mas também é capaz de usar pacotes oficiais ou compilados com personalizações. Isso é parte do ABS (Arch Build System, ou sistema de compilação do Arch, que segue os moldes do ports). Trata-se de um recurso poderoso que permite criar um sistema ainda mais personalizado para suas necessidades. Você pode não apenas recompilar facilmente qualquer pacote oficial como também os pacotes da comunidade, disponíveis no AUR (Arch User-community Repository, ou repositório da comunidade de usuários do Arch). Com o método ABS fica muito fácil compilar seus próprios pacotes (criando um script de compilação simples) e gerenciá-los da mesma forma que faz com os outros pacotes do sistema. É o casamento perfeito entre binários e fontes. Embora seja possível compilar manualmente os pacotes a partir dos fontes, algumas ferramentas (semelhantes ao Portage do Gentoo) facilitam as coisas. Um exemplo é o Yaourt (Yet AnOther User Repository Tool, mais uma ferramenta para repositórios de usuários). Para ver como isso funciona no Arch Linux eu tentei compilar esse pacote e testá-lo. Primeiro eu instalei as ferramentas de compilação necessárias e o ‘lftp’ (que eu escolhi para baixar os arquivos fontes).
chris@josiah $ cd yaourt
==> Checking Runtime Dependencies…
==> Checking Buildtime Dependencies…
==> Retrieving Sources…
-> Downloading yaourt-0.9.2.3.src.tar.gz…
–2009-01-07 17:45:37– http://archiwain.free.fr/os/i686/yaourt/yaourt-0.9.2.3.src.tar.gz
Length: 65906 (64K) [application/x-gzip]
Saving to: `yaourt-0.9.2.3.src.tar.gz.part’
100%[==============================>] 65,906 36.3K/s in 1.8s
2009-01-07 17:45:39 (36.3 KB/s) – `yaourt-0.9.2.3.src.tar.gz.part’ saved [65906/65906]
==> Validating source files with md5sums…
yaourt-0.9.2.3.src.tar.gz … Passed
==> Extracting Sources…
-> bsdtar -x -f yaourt-0.9.2.3.src.tar.gz
==> Entering fakeroot environment…
==> Starting build()…
[snip]
==> Tidying install…
-> Compressing man pages…
-> Stripping debugging symbols from binaries and libraries…
==> Creating package…
-> Generating .PKGINFO file…
-> Adding install script…
-> Compressing package…
==> Leaving fakeroot environment.
==> Finished making: yaourt 0.9.2.3-1 x86_64 (Wed Jan 7 17:45:40 EST 2009)
Como estou acostumado a outros gerenciadores de pacotes como emerge, zypper e apt-get, levei um tempo para me acostumar à sintaxe do Pacman. Não porque ela seja difícil, ela só é diferente! Depois de consultar a tabela de gerenciamento de pacotes do DistroWatch (N. T: o link leva à tradução para o português aqui no Guia do Hardware), eu estava pronto para mergulhar no Pacman. Foi fácil atualizar os repositórios, bastou um pacman -Sy para puxar os repositórios “extra” e “community”, conforme especificado no meu arquivo /etc/pacman.conf. Depois eu baixei meu editor de textos favorito, o Vim. A busca pelo Vim foi bem rápida, e levou apenas 0,44 segundos. A instalação do vim indicou 15 dependências, ocupando um total de 163 MB após a instalação (incluindo Python, Ruby, GPM e outras bibliotecas). É nesse momento que você pode tirar vantagem do ABS para recompilar o pacote. Se não quiser o suporte do Vim ao X, ao Python ou ao mouse no console pelo GPM, recompile-o sem essas opções.
Independente disso, a instalação do Vim e de suas 15 dependências pelo repositório levou apenas 4,9 segundos com o comando pacman -S –noconfirm vim. A remoção do Vim e de todas as suas dependências com o comando pacman -Rs –noconfirm vim levou 0,51 segundos. Como o Arch Linux é minimalista, ele não instala todas as dependências disponíveis para cada pacote, só as que são necessárias para o pacote funcionar (ou aquelas para as quais o desenvolvedor decidiu incluir o suporte). Sendo assim, outra coisa legal que o Pacman faz é sugerir pacotes extras para ativar mais recursos. Ao instalar o Python, por exemplo, o Pacman escreve na tela “Optional dependencies for python, tk: for IDLE, pynche and modulator”. Ou seja, se quiser suporte ao IDLE, ao pynche ou ao modulator, vai ter que instalar o Tk. Mais uma vez, isso mostra o poder e a flexibilidade do Arch Linux. Embora isso certamente seja muito prático, acho que as informações deveriam ser fornecidas resumidas no final, e não após cada dependência. É fácil deixar passar as mensagens ao instalar dezenas de pacotes.
Ambientes gráficos
chris@josiah $ pacman -S libgl xorg xf86-input-evdev xf86-input-synaptics xf86-video-intel mesa
Isso instalou um ambiente X Window básico com suporte específico à minha placa de vídeo e ao touchpad. Para testar, foi só digitar o comando startx. O X iniciou e fui recebido pelo habitual TWM (Tab Window Manager) e por alguns xterms. Rodei o glxgears e confirmei que o 3D estava funcionando direito. Até aqui deu tudo certo! Infelizmente o touchpad não funcionou no modo hotplug, e para resolver eu tive que criar um arquivo xorg.conf (com um sudo X -configure) e editá-lo da maneira apropriada. Esse é um motivo em potencial para a desistência dos novatos – quando algo não funciona como se esperava, é preciso configurar por conta própria. Mas o Arch Linux é voltado mesmo para o público disposto a mexer no sistema e aprender.
Depois eu precisei de um gerenciador gráfico de janelas; geralmente eu uso o wmii. A instalação foi fácil, como eu esperava. Por padrão, o Arch Linux não instala um gerenciador de login como o GDM ou o KDM (obviamente, isso depende do usuário!), então eu optei por executar o wmii pelo terminal usando o xinit. Após a instalação, eu só tive que editar o meu arquivo ~/.xinitrc e incluir exec wmii nele. Agora, ao rodar o xinit, o X inicia junto com meu desktop. Mas eu reparei em um problema ao usar o wmii. A atualização da tela era muito lenta, e algumas operações simples faziam o X.Org disparar a 90% de uso do processador. As coisas melhoraram um pouco quando troquei o driver ‘intel’ pelo drive ‘vesa’ do X. Acho que isso deve ter algo a ver com o novo driver da Intel que usa o GEM (Graphics Execution Manager) ao invés do TTM (Translation Table Maps), e que só está disponível na versão 2.6.28 do kernel Linux. Quando fiz a instalação, o kernel do Arch Linux era o 2.6.27, então instalei o 2.6.28 do repositório “testing”. Infelizmente o resultado foi o mesmo. Testei os mesmos pacotes em um sistema com placa de vídeo NVIDIA e no VirtualBox, e nenhum dos dois apresentou o problema. Postei o problema no fórum e segui a sugestão de compilar as versões mais recentes do driver da Intel e do servidor X.Org. Deu certo. Na verdade, ele ficou bem mais rápido e só usou 3% do processador. Eu acho que um driver com um problema desses não deveria chegar à árvore de pacotes estáveis até que os outros pacotes necessários também fossem atualizados.
Arch Linux com o desktop do wmii
Desktop GNOME 2.24.2 no Arch Linux
Por fim, o Arch Linux oferece aos usuários a capacidade de executar formatos de mídia proprietários e também inclui suporte a Flash. Para isso, instale os pacotes “flashplugin”, “codecs” e “libdvdcss”.
Conclusão
Desktop KDE 4.1.3 no Arch Linux
Créditos a Chris Smart – distrowatch.com
Tradução por Roberto Bechtlufft <roberto at bechtranslations.com>
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