UIQ, S60 e a fundação Symbian

Tradicionalmente, a família Symbian era dividida em duas plataformas, parcialmente incompatíveis. De um lado tínhamos o S60, desenvolvido pela Nokia (e encontrado também em aparelhos da Samsung e alguns outros fabricantes, que licenciam o sistema) e o UIQ, encontrado em aparelhos da Sony-Ericsson e em alguns modelos da Motorola. Entre os dois, o S60 sempre foi o mais usado, simplesmente porque a Nokia investia mais na plataforma e vendia um volume muito maior de aparelhos.

Uma das principais diferenças entre os dois sistemas era a interface. O S60 era controlado através das teclas, oferecendo uma interface mais familiar para quem está acostumado a usar os menus de função dos celulares, enquanto o enquanto o UIQ era baseado no uso de telas touchscreen e da stylus:

Nokia E51, baseado no S60 e Sony P1i, baseado no UIQ

A relação entre o Symbian, o S60 e o UIQ pode parecer complicada, mas na verdade não é. O Symbian é o sistema operacional, que inclui drivers e bibliotecas de funções, enquanto o S60 e o UIQ são interfaces que rodam sobre ele, incluindo aplicativos e bibliotecas de desenvolvimento. Se fôssemos traçar um paralelo com as distribuições Linux, o Symbian seria composto pelo Kernel e as bibliotecas básicas do sistema, enquanto que o S60 e o UIQ seriam o KDE e o Gnome; interfaces que rodam sobre ele.

Embora o Symbian tenha nascido como um sistema proprietário, ele fez o caminho inverso em 2008, quando a Nokia, que já tinha 48% das ações da empresa, comprou o restante da Symbian (incluindo os direitos sobre o sistema), para, em seguida, anunciar a abertura do código fonte e a transferência do desenvolvimento para uma fundação neutra, a Symbian Foundation, processo que será concluído até 2010.

Essa decisão pode parecer estranha a princípio, mas foi na verdade cuidadosamente calculada. A Nokia utiliza o Symbian em toda a sua linha de smartphones, que representam alguns bilhões anuais apenas em lucro líquido. Com isso, comprar os direitos sobre o sistema, de forma a evitar que outra empresa concorrente o fizesse, faz bastante sentido.

Por outro lado, manter o sistema proprietário significaria que a Nokia teria que arcar sozinha com todo o desenvolvimento do sistema e, ainda por cima, correr o risco de ver os desenvolvedores de softwares debandarem para o Android, que é uma plataforma aberta. Com isso, comprar e em seguida abrir o sistema acabou se revelando a melhor saída.

Mesmo em sua infância, a Symbian Fundation já conta com nomes de peso, como a Motorola, Sony Ericsson e a NTT DoCoMo do Japão, além da própria Nokia, o que significa uma boa probabilidade de sucesso.

Inicialmente, acreditava-se que o S60 e o UIQ continuariam sendo desenvolvidos, caminhando em direção a uma futura unificação. Entretanto, menos de dois meses depois no anúncio da fundação, a Sony anunciou a paralisação do desenvolvimento do UIQ e cancelou o lançamento de diversos modelos baseados nele (dois dos quais já tinham sido finalizados e aprovados pelo FCC), alegando a baixa procura pelos aparelhos como motivo central. Com o fim do UIQ, o S60 acabou emergindo como o protagonista da nova plataforma Symbian unificada.

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