Gentoo, BSD e Solaris

Você pode estar se perguntando em qual das famílias se encaixa o Gentoo, que é outra distribuição bastante comentada. A resposta é que ele não se encaixa em nenhuma. O Gentoo inaugurou uma nova linhagem, trazendo uma abordagem diferente das demais distribuições para a questão da instalação de programas e da própria instalação do sistema.

Tradicionalmente, novos programas são instalados através de pacotes pré-compilados, que são, basicamente, arquivos compactados, contendo os executáveis, bibliotecas e arquivos de configuração usados pelo programa. Estes pacotes são gerenciados pelo apt-get, urpmi, yum ou outro gerenciador de pacotes adotado pela distribuição em uso. Compilar programas a partir dos fontes passa a ser então um último recurso para instalar programas recentes, que ainda não possuem pacotes disponíveis.

O Gentoo utiliza o Portage, um gerenciador de pacotes que segue a ideia dos ports do FreeBSD, que é outro sistema Unix, similar ao Linux em diversos aspectos. Os pacotes não contêm binários, mas sim o código-fonte do programa, junto com um arquivo de configuração, contendo parâmetros que são usados na compilação. Você pode ativar as otimizações que quiser, mas o processo de compilação e instalação é automático. Você pode instalar todo o KDE, por exemplo, com um “emerge kde”. O Portage baixa os pacotes com os fontes (de forma similar ao apt-get), compila e instala.

O ponto positivo desta abordagem é que você pode compilar todo o sistema com otimizações para o processador usado na sua máquina. Isso resulta em ganhos de 2 a 3% na maior parte dos programas, mas pode chegar a 30% em alguns aplicativos específicos.

A parte ruim, é que compilar programas grandes demora um bocado, mesmo em máquinas atuais. Instalar um sistema completo, com o X, o KDE e o OpenOffice, demora uma tarde inteira em um Athlon X2 e pode tomar um final de semana em uma máquina mais antiga. Você pode usar o Portage também para atualizar todo sistema, usando os comandos “emerge sync && emerge -u world” de forma similar ao “apt-get upgrade” do Debian.

Nas versões atuais do Gentoo, você pode escolher entre diferentes modos de instalação. No stage 1 tudo é compilado a partir dos fontes, incluindo o kernel e as bibliotecas básicas. No stage 2 é instalado um sistema base pré-compilado e apenas os aplicativos são compilados. No stage 3 o sistema inteiro é instalado a partir de pacotes pré-compilados, de forma similar a outras distribuições. A única exceção fica por conta do kernel, que sempre precisa ser compilado localmente, mesmo ao usar o stage 2 ou 3. Entre eles, o stage 1 é naturalmente a instalação mais demorada, mas é onde você pode ativar otimizações para todos os componentes do sistema.

Existe um conjunto crescente de distribuições baseadas no Gentoo, como vários live-CDs, com games e versões modificadas do sistema, alguns desenvolvidos pela equipe oficial, outros por colaboradores. Uma das primeiras distribuições a utilizar o Gentoo como base foi o Vidalinux, mas entre as derivações atuais a mais popular é o Sabayon (www.sabayonlinux.org).

Embora seja uma das distribuições mais difíceis, cuja instalação envolve mais trabalho manual, o Gentoo consegue ser popular entre os usuários avançados, o que acabou por criar uma grande comunidade de colaboradores em torno do projeto. Isto faz com que o Portage ofereça um conjunto muito grande de pacotes, quase tantos quanto no apt-get do Debian, incluindo drivers para placas nVidia e ATI (entre outros drivers proprietários) e exista uma grande quantidade de documentação disponível, com destaque para o Gentoo-Wiki, que inclui inúmeras dicas e receitas que podem ser úteis também em outras distribuições, sobretudo ao tentar configurar algum periférico problemático: http://www.gentoo-wiki.com

Concluindo, além do Linux, existem outros sistemas Unix open-source, entre os quais se destacam o FreeBSD, o OpenBSD, o NetBSD e o OpenSolaris. Embora o kernel e alguns dos utilitários básicos do sistema sejam diferentes, os softwares usados (tais como o KDE, GNOME, OpenOffice e assim por diante) são basicamente os mesmos, o que torna os sistemas muito similares. Temos aqui, por exemplo, um screenshot do OpenSolaris, rodando o GNOME:


Parece Linux, mas na verdade é o OpenSolaris

Se fosse feito um teste cego com uma instalação do FreeBSD ou do OpenSolaris, configurados com o GNOME e outros softwares, a maioria dos usuários pensaria se tratar de apenas mais uma distribuição Linux. Um bom exemplo é o PC-BSD (http://www.pcbsd.org), uma distribuição do FreeBSD baseada no KDE, que tem como objetivo ser um sistema fácil de usar.

Por bizarro que possa parecer, é possível rodar o KDE e outros aplicativos até mesmo sobre o Windows, substituindo a interface e os aplicativos padrão. É o tipo de exercício que não tem muita utilidade prática, já que se a ideia é usar o KDE, é muito mais fácil simplesmente baixar uma distribuição Linux que já venha com ele pré-instalado, como o Mandriva One, mas isso mostra até que ponto vai a criatividade dos desenvolvedores. 🙂

Sobre o Autor

Redes Sociais:

Deixe seu comentário

X