Cabos submarinos e a Internet

Cabos submarinos e a Internet

Antigamente, quase toda a comunicação intercontinental era feita através de satélites: de ligações telefônicas a sinais de TV, quase tudo era recebido e enviado através deles. No início da Internet, os links de satélite também eram muito comuns, mas o alto custo, altíssima latência e baixa largura de banda acabaram fazendo com que os satélites perdessem a corrida para os links de fibra. Hoje em dia, satélites são usados como links de backup e como opção de acesso remoto para áreas remotas, porém mais de 99% do tráfego intercontinental passa pelos onipenetrantes links de fibra, que hoje em dia envolvem os 6 dos 7 continentes, deixando de fora apenas a Antártida.

Cabos transatlânticos de comunicação não são uma coisa nova. De fato, no final do século 19 já existia uma grande malha de cabos de telégrafo ligando a Europa, Américas, África, Ásia e Oceania, a maior parte deles obra do império Britânico. Na época eram usados cabos de cobre e não existiam repetidores, de forma que era necessário usar uma tensão muito alta de um lado para obter um sinal fraco e ruidoso do outro. Ao longo do século 20 vários novos cabos foram instalados com o objetivo de atender às empresas de telefonia, mas foi apenas nas últimas décadas que os links transatlânticos deram seu grande salto, passando a atender à Internet.

Embora relativamente finos (com cerca de 7 centímetros de espessura) os cabos submarinos são construídos para serem bastante resistentes. Por baixo de uma grossa camada de poliestireno (1) temos uma camada de mylar (2), múltiplos cabos de aço, destinados a tornarem o cabo resistente mecanicamente (3), camadas de alumínio e policarbonato, que garantem a proteção contra a água (4, 5), um tubo de cobre (6) uma camada de gel (7) e por fim o feixe de cabos de fibra, que são a parte realmente importante:

Além do uso de fibras de alta qualidade, os links incluem repetidores ópticos de estado sólido, integrados aos cabos em intervalos de cerca de 100 km. Eles retransmitem o sinal degradado, permitindo que os links sejam estendidos por milhares de quilômetros. Estes repetidores são alimentados por energia transmitida através do próprio cabo, fazendo com que estações em terra sejam realmente necessárias apenas nos pontos em que é necessário realizar roteamento de pacotes ou integrar vários links.

Estes cabos são instalados no leito do oceano a um custo de vários bilhões de dólares por navios especializados. O trabalho é feito em duas etapas, com o navio movendo-se lentamente e despejando o cabo no leito do oceano e um instalador robótico conectado a ele cavando uma cova rasa no leito do oceano e enterrando o cabo na mesma velocidade. Para que a degradação do sinal seja a menor possível, o cabo precisa ser instalado em trechos perfeitamente retos, o que demanda uma navegação especialmente precisa.

Atualmente, já é possível transmitir 40 gigabits por fio de fibra e cada cabo é composto por um grande número de fio, levando a capacidade total de transmissão para a casa dos terabits, de acordo com a capacidade do cabo específico e o percentual de fibras escuras (links de fibra que ainda não estão sendo usados):

Os cabos submarinos são complementados pelos cabos instalados em terra, que normalmente são instalados junto a estradas ou linhas de transmissão de energia ou gás, criando uma malha de fibra que se espalha por todas as principais cidades. Outras modalidades de acesso, como o ADSL, cabo, 3G  etc. são conectadas a estes links de fibra, permitindo que os assinantes ganhem acesso à grande rede.

Enquanto escrevo, existem 188 trechos submarinos ativos ou planejados (que você pode examinar no submarinecablemap.com), mas novos trechos estão sendo continuamente estudados para aumentar a capacidade da rede ou reduzir a latência.

Dentro dos cabos, o sinal viaja praticamente à velocidade da luz e mesmo com o atraso introduzido pelos repetidores e roteadores pelo caminho, é possível conseguir latências muito boas. Hoje em dia, é possível conseguir pings entre São Paulo e Londres abaixo de 150 ms, ou entre São Paulo e Tóquio na casa dos 300 ms, o que seria impensável no início da Internet.

Mesmo assim, novos cabos estão sendo continuamente instalados, com o objetivo de aumentar a capacidade ou reduzir a latência. Um exemplo recente é o novo trecho que ligará o Reino Unido ao Japão, passando pelo oceano ártico, ao norte do Canadá, a um custo total de mais de 3 bilhões de dólares (pela instalação de três cabos, juntamente com as estações de controle, roteadores, etc.) em um esforço para reduzir a latência das transmissões entre o Reino Unido e os países da Ásia. A latência entre Londres e Tóquio por exemplo será reduzida de 230 para 170 ms, uma diferença importante para aplicações críticas, como no caso do mercado de ações. Aproveitando a deixa, serão interligadas diversas regiões do Ártico que anteriormente dispunham apenas de lento acesso via satélite:

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