Slackware 13.37: Linux para quem se diverte com Linux

Slackware 13.37: Linux para quem se diverte com Linux
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Slackware 13.37: Linux for the fun of it

Autor original: Joe “Zonker” Brockmeier

Publicado originalmente no: lwn.net

Tradução: Roberto Bechtlufft

Logotipo do SlackwareA família de distribuições SUSE tem como lema “divirta-se”, mas quem leva essa ideia ao extremo mesmo é o Slackware. Enquanto a maioria das grandes distribuições Linux é influenciada por empresas, pela política da comunidade e pela busca do sucesso com o grande público, Patrick Volkerding tomou um rumo diferente com o Slackware, o que fica evidente nesta versão RC do Slackware 13.37.

O número de versão “13.37” é uma referência à base de usuários do Slackware, definida com o termo “leet” (também escrito “l33t”), que indica uma “elite”. Isso também reforça a fama que o Slackware tem de não levar números de versão muito a sério. Na época em que o Linux ainda lutava para conseguir um lugar de destaque, algumas distribuições foram acusadas de “inflar” números de versão como estratégia de marketing. E falando com a experiência de quem participou de muitos eventos comerciais vendendo CDs do Linux (em nome do finado Linux-Mall.com), tendo que explicar as diferenças entre distros a alguns usuários, essa tática funcionou até certo ponto. Portanto, Volkerding decidiu correr atrás e pular do Slackware 4 para o 7 para poder competir no número da versão.

Menu de inicialização do Slackware 13.37

Menu de inicialização do Slackware 13.37

O Slackware Linux é a mais antiga distribuição Linux em atividade. Não foi a primeira; essa honra fica para o MCC Interim Linux, seguido pelo Yggdrasil e pelo Soft Landing Systems (SLS) Linux. Volkerding deu uma limpa no SLS, e daí nasceu o Slackware. Pode ser difícil para um novato acreditar nisso, mas o Slackware já foi a maior distribuição Linux, sendo considerada muitofácil de usar. Ele sobreviveu à perda de seu distribuidor, quando a Wind River comprou a Walnut Creek em 2001, e à licença de Volkerdingpara resolver problemas de saúde.

Já se passaram quase 18 anos, e o cenário do Linux mudou radicalmente. Mas não o Slackware. A versão 13.37 continua com o instalador de texto que acompanha o Slackware desde sempre, ou ao menos desde que eu o usei pela primeira vez em 1996. Quando instaladores com interface gráfica viraram moda na virada do século e os fornecedores começaram a leva a sério o papo de “Ano do Linux no desktop”, o Slashdot perguntou a Volkerding se ele faria do Slackware uma distro “bonita” e fácil de usar como as outras. Volkerding respondeu que o Slackware já era fácil de usar:

E acho que configuramos nosso desktop com a melhor configuração padrão, ao menos no KDE. Mas entendo o que você quer dizer: muitas distribuições oferecem instalação totalmente gráfica. Mas aí você aumenta os requisitos de hardware, então é uma troca. Eu acho que manter as coisas em texto dá mais flexibilidade, e aí dá para fazer com que seja mais simples instalar o sistema com um console serial e fazer manutenção remota, por exemplo. Obviamente, as pessoas me acusam de ser um desses “caras de linha de comando”…

A julgar pelo visual do Slackware 13.37, nada mudou nesse sentido. Aliás, não mudou muita coisa desde a versão 13.1, lançada em maio do ano passado.

Slackware 13.37 com Xfce

Slackware 13.37 com Xfce

Naturalmente, a nova versão traz atualizações para todos os pacotes principais. O Firefox foi atualizado para a versão 4.0 RC, e o KDE 4.5.5 foi incluído (embora o KDE SC 4.6.1 tenha saído há alguns semanas, e a versão 4.6.0 tenha saído em janeiro), bem como Xfce 4.6.2, kernel 2.6.37 e varias atualizaçõesque podem ser encontradas no changelog.

Para quem nunca rodou o Slackware, trata-se de uma distro minimalista. Você começa inicializando o CD ou o DVD, e é levado a um prompt como root. A partir desse prompt, você pode formatar o disco (caso necessário), escolhendo entre o fdiske o cfdisk, que é um pouco mais amigável, para particionar o HD. Em seguida, você executa o utilitário de configuração do Slackware, que o conduz pela instalação de conjuntos de pacotes. Nesse momento é possível escolher software agrupado em conjuntos de pacotes, que vão de “a” para pacotes básicos (como kernel, glibc etc) a “xap” para aplicativos do X, como o Firefox. O método sugerido é a realização da instalação completa, que deve bater em 5,5 GB de software.

Ao fim da instalação vem a configuração da rede, que é muito útil para quem tem rede com fios, a configuração do gerenciador de inicialização (o Slackware ainda usa o LILO) e a criação da senha de root. Depois é só reiniciar o sistema e começar a usar o Slackware instalado. Quem quiser rodar o KDE, o Xfce ou outro desktop vai ter que editar o inittab para fazer o login no X (Volkerding não trocou o init pelo Upstart, e não é provável que o Slackware vá tirar proveito do systemd tão cedo) ou rodar o startx. KDE, Xfce e outros desktops se apresentam com alterações mínimas em relação à forma como os projetos originais os distribuem; essa é outra diferença entre o Slackware e a maioria das distribuições Linux mais modernas. O GNOME nem aparece, tendo sido abandonado pelo Slackware há anos. Quem quiser usar o GNOME no Slackware pode conferir o SlackBuild do GNOME.

Fica a cargo do usuário criar outros usuários não root e gerenciar pacotes. O Slackware avançou nesse sentido ao longo dos anos, e inclui o slackpkg, um utilitário que permite ao usuário manter o sistema atualizado, mas isso é feito manualmente. Na primeira execução, o usuário tem que editar a configuração do slackpkg e escolher um mirror do qual baixar atualizações. Usuários do Fedora, do Ubuntu, do Linux Mint e do openSUSE, acostumados às notificações de atualizações, podem achar isso meio antiquado. Sem falar na falta de resolução de dependências nas ferramentas de gerenciamento de pacotes nativas do Slackware, tarefa da qual APT, Yum e Zypper dão conta.

Slackware 13.37 com FVWM

Slackware 13.37 com FVWM

De fato, em termos superficiais, o Slackware parece mesmo um pouco ultrapassado. Como a distro não tem listas de discussão oficiais, recorri ao fórum do Slackware no LinuxQuestions.orgpara perguntar aos slackers por que eles preferem a distro a outras com ferramentas mais avançadas de gerenciamento de pacotes e do sistema.

Tive um bom número de respostas, vindas de usuários variados: dos que aderiram ao Slackware como substituto ao SLS aos que começaram a usar a distro na versão 12. O motivo que prevaleceu foi a “simplicidade”, somada ao fato do software ser “testado” e considerado “estável” antes de ser incluído no Slackware. Um exemplo é o kernel da série 2.6, lançado em 2003: o Slackware só foi aderir a ele como padrão no Slackware 12, em 2007. Thomas Ronayne resumiu bem:

Não me importo com o fato do Slackware ser conservador. Já tive problemas infernais diversas vezes com tecnologia de ponta, e para ser franco não quero ter que lidar com esse tipo de loucura. Eu dou muito mais valor à estabilidade do que às firulas. O primeiro editor que eu usei foi o ed (que veio com o GECOS). Uso o vi porque ele é estável e confiável, nunca tive que lidar com “melhorias” que me atrapalhassem. Aprendi a usar o Documenter’s Workbench da AT&T, e continuo usando. Gosto das macros e do troff!

[…] Uma instalação completa do Slackware resulta em um sistema completo: compiladores, MySQL, Apache… todas as ferramentas estão lá, você escolhe o que usar. Ao instalar o Ubuntu, por exemplo, você tem que ficar instalando mil coisas só para poder compilar e executar um “Hello world”. Deus me livre. Fora a constante leva de atualizações. Além disso, como o Ubuntu inclui alguns “ajustes”, é difícil dizer saber no que mexer quando você quer fazer alguma alteração. Sim, o usuário do Slackware tem que instalar o OpenOffice.org se quiser um processador de textos (o KWord não tapa nem o buraco do dente), mas isso não me incomoda tanto quanto não ter um ambiente de desenvolvimento de software e ter que descobrir por que não consigo configurar o Apache, ou como conseguir usar um Korn Shell.

Com o Slackware não tem papo-furado, e foi por isso que eu o escolhi.

JK Wood disseque prefere o Slackware porque “o Pat mantém tudo o mais próximo possível do original. Ele também publica os scripts e patches que aplica ao código, então se eu tiver alguma dúvida quanto à forma como alguma coisa foi compilada eu posso ir lá conferir.” Segundo Wood, a pré-configuração é “boa o suficiente”, com “padrões que fazem sentido no Slackware, e o resto fica por conta do administrador/usuário final.

Embora isso não seja muito alardeado, Wood destaca outra vantagem do Slackware: o suporte a longo prazo. Segundo ele, o Slackware 8.1, lançado em 2002, ainda recebe atualizações de segurança. Poucas distribuições contam com uma longevidade dessas. Para os usuários do Vim, “o Emacs está em um conjunto próprio de software. Posso ignorá-lo completamente na instalação.

Outros usuários foram atraídos ao Slackware por meio de seus derivados, como o Wolvixou o Slax.

Mas nem todo mundo permanece com o Slackware. Uma pessoa disse que experimentouo Slackware por uma semana antes de voltar ao Debian, embora tenha gostado da distro:

Se gostei do Slackware, por que voltei para o Debian? Acho que senti falta de “casa”. Comecei com o Ubuntu, e depois de alguns anos migrei para o Debian, que usei por um ano. Outro fator que contribuiu: preciso de um sistema operacional que eu possa configurar em um dia para depois não ter mais que mexer. Mas é provável que em alguns meses eu tente mais uma vez.

Resumindo, os usuários do Slackware querem mexer no sistema e não se sentem intimidados com isso, ou querem aprender mais sobre o sistema. Esses usuários vão dos que usam Linux por hobby aos que dizem gerenciar mais de 150 servidores com o Slackware. Mas isso não quer dizer que o Slackware seja um sucesso no meio corporativo. O site da distro lista algumas empresas que oferecem suporte ao Slackware, mas parece que não há muita gente precisando disso. Entrei em contato com a Steuben Technologiese a Adjuvo Consulting. William Schaub, da Steuben Technologies, disse que só recebeu uma chamada realmente séria de suporte ao Slackware. Segundo ele, “ou não há muita gente usando o Slackware em produção ou (o que é mais provável) a maioria das pessoas que roda o Slackware em servidores conta com uma equipe local capaz de oferecer toda a ajuda necessária.

A comunidade do Slackware pode ser menor do que a das distros de destaque, mas fica isenta dos dramas e da politicagem (tirando o referido problema de saúde de Volkerding). Embora Volkerding gerencie a distro, ela não é trabalho de um homem só: o changelog está cheio de agradecimentos a Robby Workman, Eric Hameleers e muitos outros.

Você pode achar que o Slackware é ultrapassado, ou que é um resquício dos dias em que o Linux era uma coisa “elitizada”, basicamente um sistema operacional usado por hobby. Mas outro ponto de vista é encarar o Slackware como uma distro para usuários que sentem falta dos dias mais simples do Linux, e que ainda querem configurar seus sistemas.

Créditos a Joe “Zonker” Brockmeier lwn.net

Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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