Análise da compra da Motorola pelo Google

Análise da compra da Motorola pelo Google

A compra da Motorola Mobility pelo Google, que havia reportado ano passado foi finalmente concluída, depois de ser aprovada pelos EUA, União Europeia e China. Como em outras grades fusões, o negócio demorou para ser concluído, já que dependia da aprovação de todos estes órgãos. Não é de se estranhar também que até o momento nada tenha mudado nas operações da Motorola (que continua sem sequer disponibilizar atualizações para muitos aparelhos que poderiam rodar o Android 4), já que até o momento era a velha diretoria da Motorola, e não o Google quem estava dando as cartas. Qualquer mudança que o Google pretenda fazer nas operações da Motorola começa agora.

 

Inicialmente, muitos cogitaram que o principal motivo do Google comprar a Motorola seria o enorme portifólio de patentes da empresa, que daria munição para que o Google pudesse defender o Android e seu ecossistema contra patent-trools, como a Microsoft e a Apple. Entretanto, é importante levar em conta que Motorola custou US$ 12.5 bilhões, que é muito dinheiro, até mesmo para o Google. Se quisessem apenas as patentes, seria mais barato negociar apenas um pacote delas, sem precisar comprar a empresa inteira.

Don’t be evil: A possibilidade seguinte, que eu pessoalmente considero a mais equilibrada é que o Google pretenda usar a Motorola como uma divisão estratégica para pressionar outros fabricantes a manterem a qualidade de seus aparelhos com o Android, bem como manterem as atualizações por mais tempo. Mesmo que o Google não favoreça a Motorola diretamente em relação ao desenvolvimento e acesso a novas versões do Android, ter um fabricante trabalhando direito, lançando aparelhos sem interfaces remendadas rodando sobre o Android e disponibilizando atualizações pontuais para os aparelhos já poderia ser o suficiente para pressionar outros fabricantes a fazerem o mesmo.

 

A grande questão é se o Google conseguiria manter a Motorola dando lucro nessas condições, já que apesar de estar sobre o controle direto do Google, a empresa continuaria a ser apenas mais uma dentro do ecossistema do Android, concorrendo com fabricantes como a Samsung e a HTC. A Motorola é uma empresa de hardware, com uma cultura tradicionalista, enquanto o Google é uma empresa de software, com uma cultura informal e uma organização menos hierarquizada. Com duas culturas tão antagônicas, é difícil que o Google consiga provocar uma transformação positiva na Motorola (pelo menos não em um primeiro momento) que faça a empresa sair de sua espiral descendente, passando a inovar e a dar dinheiro. 

Nasce (mais um) império: Isso nos leva à terceira possibilidade, que é  a de o Google pretender quebrar a promessa feita aos demais fabricantes e passar a favorecer a Motorola, seja passando a fechar alguns componentes do sistema, ou seja desenvolvendo um fork proprietário do Android para uso da Motorola, com diferenciais em relação à versão aberta, disponibilizado para os demais fabricantes.

É importante enfatizar que apesar da natureza supostamente aberta do Android, o Google é quem controla a maior parte do desenvolvimento a portas fechadas. Embora o código fonte das novas versões seja eventualmente disponibilizado, o nível de expertise dos demais fabricantes em relação ao sistema não é suficiente para que algum, ou mesmo um consórcio de vários deles fossem capazes de manter um fork do sistema em pé de igualdade com o do Google. Se o Google decidisse eventualmente seguir este caminho, haveria pouco que os outros fabricantes poderiam fazer além de começar a procurar outras alternativas.

 

Nesse terceiro cenário, o Google se tornaria uma empresa muito parecida com a Apple, que controlaria tanto o software quanto o hardware dos seus aparelhos, passando a desenvolver diferenciais e integração entre seus diversos produtos (Android, Google TV, Chromebook, etc.) criando uma linha unificada e coesa. Neste caso o Google deixaria de ser apenas o gigante das pesquisas e publicidade na web para se tornar também uma possível força dominante nos smartphones, tablets, smart-TVs e outros dispositivos, passando a ter um controle ainda maior sobre as vidas de seus usuários.

Caso eventualmente se torne realidade, este terceiro cenário demoraria para se materializar, já que entre outras coisas o Google se comprometeu a manter o Android aberto e gratuito para outros fabricantes por pelo menos mais 5 anos como parte das negociações com o governo da China, mas ainda assim esta não deixa de ser uma possibilidade assustadora para o futuro. Um império Google ainda maior poderia fazer a Apple e a Microsoft parecerem boazinhas.

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