Nostalgia: 10 anos do bom(?) e velho Windows XP, parte 2

Nostalgia: 10 anos do bom(?) e velho Windows XP, parte 2

Além de toda uma infraestrutura dedicada a dar suporte para a utilização dos recursos do sistema (aka “computador”), o sistema operacional deverá contar com uma coletânea de aplicativos, utilitários e ferramentas paras as atividades gerais de administração e manutenção, como o gerenciador de arquivos, o painel de controle, o navegador WEB e os reprodutores multimídia, entre tantos outros programas que nos ajudam muito nas atividades básicas do dia-a-dia. Mais importante ainda, é saber que estas aplicações apresentem diferenciais importantes se comparados com as versões anteriores, para assim justificar o upgrade do sistema operacional. E com o Windows XP, não foi diferente…

O Painel de Controle foi uma das partes do sistema que mais recebeu melhorias, se comparado com as versões anteriores. Embora apresente o layout tradicional ao estilo “Windows Explorer”, com os ícones no lado esquerdo representando as ferramentas de configuração dedicadas, o Windows XP criou uma seção intitulada “Categorias”, organizando tais atalhos de acordo com as suas similaridades. Por exemplo, todos os atalhos das ferramentas relacionadas à configuração de periféricos, se encontravam na categoria “Impressoras e outros itens de hardware”. Embora algumas destas categorias possuíssem apenas um único atalho, este método de organização promoveu um visual mais limpo e organizado, se comparado aos vários ícones amontoados em uma simples janela. Ainda assim, haviam usuários que preferiam o modo clássico, que por sua vez poderia ser habilitado apenas clicando em “Alternar para o modo de exibição clássica”. Vai entender!

Além da bela repaginada no visual, algumas das ferramentas provenientes do Painel de Controle se integravam bem a sua janela, como por exemplo, as opções relacionadas à administração de contas dos usuários. Entretanto, a ferramenta de “Adicionar e Remover Programas” (assim como muitas outras com perfis avançados de ajuste e configuração) abria uma caixa de diálogo à parte, funcionando de forma independente ao Painel de Controle. Deselegante? Talvez (seria melhor se TODAS estivessem bem integradas); todavia, devemos reconhecer que as melhorias foram muito bem vidas, dando não só uma nova cara para a ferramenta, mas também tornando-a mais eficiente.

Além disso, o bom e já funcional Windows Explorer ganhou uma boa repaginada, mantendo os recurso e funcionalidades já admiráveis desde o Windows 95. De quebra, ganhou algumas novas funções, como a inclusão do painel de tarefas à esquerda, a visualização de imagens em miniatura (thumbnails) e a exibição das propriedades de diversos arquivos; no entanto, nenhuma outra funcionalidade ganhou tanto destaque o quanto a capacidade de gravar arquivos em CDs diretamente, através do uso de um sistema de arquivos apropriado (UDF Filesystem) e o suporte à extensão Jolie, o qual permite a utilização de nomes extensos no Windows XP.

IE6: Por fim, o Windows XP também introduziu o Internet Explorer 6, o navegador WEB padrão do sistema. Tal como qualquer novo software, ele também trouxe algumas melhorias importantes, destacando-se o suporte melhorado a muitas tecnologias (CSS, DHTML, DOM, MSXML e outros). Entretanto, por causa do pouco interesse da Microsoft em promover o seu desenvolvimento, o IE 6.0 ficou praticamente estagnado por um longo (aproximadamente 5 anos), com sérias limitações técnicas que o colocaram com o status de um dos software mais inseguro de todos os tempos, embora tenha sido utilizado por até 90% dos usuários. Estes também foram tempos ruins para os desenvolvedores WEB, pois ao mesmo tempo em que uma série de riscos colocavam o internauta em apuros, havia uma dificuldade enorme em desenvolver sites que fossem compatíveis com todos os navegadores. Inevitavelmente, gambiarras eram feitas para que elas pudessem ser visualizadas pelo IE6.

Assim que a reformulação do conceito de computação em nuvens e o crescimento da concorrência (especialmente o Firefox) entraram em cena, a Microsoft viu-se obrigada promover novas atualizações, originando assim a fase moderna à partir da versão 7.0. Porém, os estragos já estavam feitos: devido à inércia dos usuários leigos em realizar os devidos upgrades, a adoção inicial do IE7 foi lenta, o que propiciou uma série de problemas relacionados ao seu suporte, em que culminaram nas campanhas em prol do abandono do IE6. Mais à frente, a integração do Internet Explorer com o Windows trouxe para a Microsoft mais uma investigação anti-truste na Europa, em que a concorrência alegava uma competição desleal pelo fato do navegador dela estar integrado ao seu sistema operacional. No final das contas, a Microsoft foi obrigada a lançar uma versão do Windows 7 sem o navegador WEB embutido por padrão.

Obviamente, as novas aplicações e ferramentas de configuração trouxeram apenas as mudanças mais significativas à nível de usuário e que causaram um grande impacto de imediato. Porém, outras transformações – ora por serem necessárias, – ora por interesse comercial – viriam a acontecer ao longo do tempo: um sistema operacional não pode ficar “congelado”, sem acompanhar as novidades e inovações do mercado. Por exemplo, o suporte a determinadas tecnologias seriam cruciais para mantê-lo em perfeita harmonia com os lançamentos de hardware mais recente, assim como o suporte a outros protocolos e APIs recém-lançados. Para estas (e outras) necessidades, foram lançados os Services Packs, uma coletânea de atualizações, correções e outras melhorias, que têm como o objetivo manter o sistema atualizado.

Service Packs: O primeiro Service Pack (SP1) foi lançado em setembro de 2002. Embora trouxesse melhorias importantes como suporte a tecnologias como o barramento USB 2.0 e a interface SATA, além de romper algumas limitações (como o suporte a unidades de armazenamento com mais de 137 GB) e trazer alguns softwares atualizados (o Windows Messenger 4.7), o SP1 ficou popularizado em virtude das diversas correções que tornaram o Windows XP bem mais estável e funcional. Diferente do Service Pack posterior, ele foi adotado rapidamente e sem muitas cerimônias.

O Service Pack seguinte (SP2) foi lançado em agosto de 2004. Ele trouxe uma série de funcionalidades importantes, tornando-se badalado em virtude das radicais mudanças proporcionadas ao sistema. O suporte melhorado para as redes Wi-Fi e a adoção da criptografia WPA foi um diferencial importante, numa época em que os notebooks timidamente começavam a ganhar mercado. O suporte ao Bluetooth e a adição do bloqueador de janelas pop-up para o Internet Explorer, também tornaram o sistema mais “conveniente” para os usuários móveis, que queriam desfrutar dos serviços de banda-larga público e compartilhamento de conteúdos com outros dispositivos móveis, com os emergentes celulares.

Mas foi na área da segurança que este Service Pack veio realmente mostrar serviço. Além do suporte à criptografia WPA, o SP2 trouxe a Central de Segurança, um pacote dotado de um conjunto de ferramentas que incluía um firewall nativo, a integração do sistema de atualizações e um mecanismo que possibilitasse gerenciar a utilização de anti-vírus para o computador. Pode parecer meras mudanças para os especialistas no assunto; mas para o usuário final, iniciou uma verdadeira conscientização sobre os aspectos inerentes à sua segurança e privacidade, pois aquele “escudinho vermelho” apontava-lhes que havia alguma coisa “de errado” com o seu sistema. Bastava apenas dar um único clique para ele “descobrir” as pendências do sistema em aberto!

Um dos aspectos mais críticos na vida do SP2, foi o processo de sua adoção no uso corporativo. Em vista de novos problemas causados por quebras de compatibilidades com software e hardware antigos das empresas, houve um tempo em que os administradores de sistemas optaram por não atualizar o Windows XP, mesmo sabendo que teriam de abrir mão de uma série de novos recursos voltados para a segurança como um todo (como a criptografia WPA em redes wireless, por exemplo). Entretanto, com os esforços da Microsoft em continuar promovendo as suas habituais atualizações, aos poucos tais inconvenientes foram sendo contornados, tornando a migração mais suave e sem grandes percalços.

Por fim, o Service Pack 3 (SP3) foi lançado em maio de 2008 (quase 4 anos depois do lançamento do SP2). Embora oferecesse uma quantidade imensa de atualizações, ele apenas passou a suportar algumas tecnologias importantes, como o Network Access Protection (o NAP, para auxiliar na criação de políticas de segurança em clientes de redes), o sistema de encriptação WPA2, a API NX (para suportar o Data Execution Prevenction, que previne o ataque causado pela execução de códigos maliciosos) e a filtragem Black Hole (que obriga os roteadores a informar os pacotes descartados por ele em conexões que falharam). Embora o SP3 não tivesse gerado tanto impacto o quanto o SP2, ele ao menos promoveu uma boa manutenção do já velho Windows XP (quase 7 anos), tornando-o atual e estável na medida do possível. Inclusive, promovendo a instalação das correções de forma acumulativa, ou seja: não é preciso ter os SP1 e SP2 para atualizá-lo com o SP3.

O fracasso do Vista: Embora os Services Packs pudessem manter o Windows XP atualizado “na medida do possível”, seria necessário uma grande reformulação em sua infraestrutura para deixá-lo moderno, tal como um sistema operacional deve ser na atualidade. Fazê-lo à moda “rolling release” não seria viável tanto tecnicamente (o sistema não foi concebido com este objetivo) o quanto financeiramente, pois a Microsoft precisa lucrar com licenças de uso (e um sistema que é mantido atualizado constantemente não precisa ser trocado). Para variar, qualquer software ou hardware que esteja com mais de 3 anos de idade sem apresentar novidades, será considerado obsoleto para os atuais padrões tecnológico, onde tudo se transforma a todo o instante. Pois quando o Windows Vista chegou, há haviam quase 6 anos do Windows XP no mercado…

Mas, contrariando todas as expectativas (ou quase isso), o Windows Vista foi um dos maiores fracassos na história da Informática, se igualando ao tão odiado Windows ME em seus tempos! Enquanto que o último sofria a rejeição dos seus usuários por ser um sistema mal-acabado e de não oferecer nada além do que o Windows 98SE já fazia de forma bem mais estável, o Windows Vista sofria de uma combinação única de diversos males, que culminaram em sua rejeição: a lentidão no processo de inicialização, o alto consumo dos recursos do sistema, a complicada usabilidade, as habituais instabilidades e incompatibilidades dos softwares recém-lançados e principalmente, a sombra de um sistema que já havia sido bem aceito e fazia um sucesso entre os seus usuários. Acreditem: o “patinho feio” Windows XP se tornou um belo cisne! 😉

A grande ironia do destino é que o Windows Vista apresentava uma série de novidades importantes, em comparação ao antigo e velho Windows XP, ao ponto da crítica especializada até considerar o upgrade. No entanto, a preocupação da Microsoft com os aspectos relacionados a segurança foi tanta, que a concepção original do UAC (User Access Control) era intrusiva demais para o simples usuário, já que a ferramenta frequentemente solicitava a concessão de privilégios para realizar atividades administrativas simples (mas que poderia afetar a segurança e estabilidade do sistema). Por fim, por também não funcionar à contento em conjunto com muitas das aplicações já existentes e trazer mudanças radicais o quanto ao layout da interface (e a sua usabilidade, também prejudicada em vista da natural resistência aos novos conceitos), tudo isso acabou culminando com uma grande insatisfação geral.

Outros aspectos negativos do Windows Vista estavam relacionados ao desempenho geral do sistema: além de necessitar de uma quantidade razoável de memória RAM (acima de 1 GB), a inicialização do sistema era severamente prejudicada pela grande quantidade de pequenas bibliotecas necessárias para serem carregadas. Enquanto que o Windows XP levava algo em torno de 25 a 30 segundos, o Windows Vista geralmente demorava mais de 1 minuto para estar apto para as atividades. Somando isto com a lentidão dos computadores da época, em sua maioria com CPUs single-core, pouca memória RAM e HDs com tempos de latência moderados, sob o ponto de vista do usuário o sistema levava uma eternidade para estar pronto para o uso! Inclusive, o mesmo hardware antigo que muitos optaram por não trocar, era insuficiente para as necessidades do Windows Vista, ao passo que atendia plenamente ao velho Windows XP (que requeria muito menos recursos).

Naquela “época”, muitas máquinas possuíam algo entre 256 e 512 MB de RAM, ao passo que as populares unidades de armazenamento com 80 GB perdiam praticamente ¼ de sua capacidade somente com a instalação do Windows Vista. Mas a “pedrada” definifiva veio mesmo é com os netbooks: dotados de hardwares limitados e pouca capacidade de processamento, a versão Starter Edition desenvolvidas que em tese deveriam servir para estes dispositivos (mesmo com todas as otimizações possíveis), os deixavam com uma experiência muito ruim, tanto em desempenho o quanto em usabilidade: se o uso já era ruim com um bom monitor, imaginem então com uma minúscula tela LCD de 7″ e a sua resolução de apenas 800×480 pixels?

Por isto, o Windows XP acabou ganhando uma sobrevida inesperada em seu já tardio ciclo de vida. Além de ser o sistema operacional padrão dos primeiros netbooks que chegaram no mercado (e que estavam vendendo muito bem), a 3a. edição do Service Pack veio ao mundo com o objetivo de torná-lo usável frente aos tempos modernos (que rejeitavam o Vista), enquanto que uma série de melhorias eram proporcionadas ao novo sistema da Microsoft. Tais melhorias surgiriam logo a seguir nas primeiras atualizações, além de serem formalizadas através do Service Pack 1, que inclusive chegou ao mercado com alguns meses antes mesmo do Service Pack 3 do Windows XP. Mas à esta altura, os estragos já estavam feitos: a impopularidade do Windows Vista era tanta, que o Windows XP continuou sendo o sistema operacional padrão dos 9 a cada 10 usuários de computadores. Ou melhor dizendo, em 8 a cada 10 usuários…

Nestes tempos, uma série de eventos importantes entraram em cena. O licenciamento do Windows XP para os consumidores, previsto para durar até janeiro/2008, foi prorrogado para até junho/2008 (16 meses após o lançamento do Windows Vista), embora ainda tenha sido vendido para o OEMs para até o lançamento do Windows 7 (em outubro/2008). E para atender aos interesses dos usuários corporativos que não planejavam a migração para o Windows Vista, a Microsoft passou a permitir o downgrade para o Windows XP, se eles adquirissem as versões Business e Ultimate do Windows Vista. Seria como dizer “hei, use o Vista; se não ficar satisfeito, você pode voltar para o Windows XP”. Naturalmente, muitos preferiram a segunda opção.

Paralelamente, a própria Microsoft buscava “sabotar” aos poucos o Windows XP, acelerando o seu processo de obsolência. Por exemplo, certos aplicativos e ferramentas que gozavam de grande popularidade, não tiveram as suas atualizações disponíveis, como eram o caso do DirectX 10 e do Internet Explorer 9. A indisponibilidade do DirectX 10 gerou uma certa revolta entre os usuários entusiastas, pois embora a Microsoft alegasse a incompatibilidade da nova API com o antigo sistema operacional, muitos entusiastas conseguiram instalá-lo para o Windows XP, graças ao projeto independente Alky Project (KM Software). Até mesmo a adoção da nova API por parte dos desenvolvedores de jogos foi retardada, em vista da impopularidade do Windows Vista. Afinal de contas, quem iria desenvolver um jogo para estar disponível a somente uma plataforma que foi pouco popularizada? Entretanto, o Windows Media Player 11 e outras ferramentas de segurança foram disponibilizadas para o Windows XP, além de muitos títulos de jogos mais recentes.

Assim, o Windows XP continuou sendo o sistema mais largamente utilizado pelos usuários de PCs desktops, embora recebesse pouca atenção por parte da Microsoft (sendo apenas atualizado através da publicação de patches). Mas foi justamente no seu 8o. Aniversário, que o Windows XP recebeu um duro golpe: o lançamento do Windows 7. Estando mais próximo a uma grande atualização do Windows Vista a que propriamente um novo sistema operacional, o Windows 7 veio com o objetivo de corrigir as falhas e limitações do sistema anterior, trazendo pequenas mas significativas melhorias na usabilidade de sua interface, na compatibilidade entre aplicativos e na performance geral do sistema. De fato, a proposta surtiu efeito: a crítica especializada, assim como muitos usuários early-adopters, se mostraram muito mais amigáveis com o “novo” sistema operacional da Microsoft.

À partir de então, o Windows XP começou a sofrer de uma lenta mas progressiva queda em sua fatia de mercado. Além de enfrentar um concorrente de fôlego renovado e com o apoio dos seus usuários, as configurações de hardware nesta época já não eram mais tão obsoletas o quanto antes: processadores dual-core já eram comuns no mercado, assim como a maioria as máquinas possuíam pelo menos 1 GB de memória RAM e HDs com capacidade mínima de 160 GB de armazenamento. Por fim, a proliferação de softwares compatíveis com o novo sistema era maior, graças à pavimentação forçada feita pelo Windows Vista. Mas para a surpresa geral, no mês passado (julho/2011) a Net Applications anunciou que pela primeira vez, o Windows XP está abaixo da cota de 50% do mercado (mais precisamente, 49,69%)! Nada mal para um sistema operacional que está há quase 10 anos no mercado, sofrendo de todos os tipos de reveses e contra-tempos!

Então, quando será que o Windows XP realmente chegará ao seu fim? Será que o futuro Windows 8 conseguirá derrubar este gigante gladiador que, mesmo sendo atacado de todas as formas, custa à cair de forma heroica? Ou será que, somente com o apocalíptico fim dos PCs desktops é que esse mito deixará de existir? Sinceramente, não tenho a menor ideia do que vai ser do futuro do Windows XP. Mas, posso dar uma dica: 8 de abril de 2014. Esta, é a data de expiração para o fim do Suporte Estendido da Microsoft. Ou seja: à partir de então, o sistema simplesmente deixará de receber as habituais correções (patches) que o tornaram um dos sistemas mais estáveis e funcionais da Microsoft. E até lá, ele estará mais de 13 anos de mercado!

Só espero estar vivo para até lá para redigir um novo artigo… &;-D

Por: Edney Pacheco <root em darkstar.eti.br>

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