O Atom e os netbooks, parte 1

O Atom e os netbooks, parte 1

A busca por uma plataforma de computadores portáteis que oferecesse aparelhos ao mesmo tempo leves e práticos de usar está longe de ser uma coisa recente. Dois exemplos antigos de dispositivos portáteis são o HP 200LX e o Psion Series 5, que fizeram sucesso na década de 1990.

O HP 200LX era um handheld lançado pela HP em 1994, que era baseado em um processador Intel 186 (uma versão intermediária entre o 8088 do XT e o 286) e rodava o MS-DOS. Além do teclado completo e do tamanho reduzido, ele oferecia 40 horas de autonomia com um par de pilhas AA, o que continua sendo uma marca surpreendente:

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O Psion Series 5 foi lançado em 1998 e utilizava um processador ARM de 18.4 MHz, combinado com 8 MB de memória SRAM (usada para armazenamento e instalação de programas) e uma tela HVGA (640×240). Ele também utilizava pilhas AA, mas o clock do processador fazia com que a autonomia fosse um pouco mais baixa, com “apenas” 30 horas com um par de pilhas alcalinas.

Dois destaques no Psion eram o teclado (surpreendentemente confortável de digitar considerando o tamanho) e o fato de rodar um sistema operacional gráfico, o EPOC, que incluía um conjunto completo de aplicativos, com editor, planilha, agenda e até mesmo um navegador, que você podia usar em conjunto com um modem serial, vendido como acessório.

Embora lembrem um pouco os netbooks atuais, o 200LX e o Psion eram aparelhos mais limitados, que concorriam mais diretamente com os palmtops e os PDAs, e não com os notebooks. Embora rodasse aplicativos antigos, como o Lotus123, o 200LX não era capaz de rodar o Windows e os aplicativos para ele, enquanto o Psion usava um sistema operacional próprio, que não era compatível com os aplicativos para PCs.

Outro modelo interessante é o Toshiba Libretto, que foi lançado em várias versões, culminando no Libretto 70, lançado em 1997. Ele era baseado em uma versão de baixo consumo do Pentium MMX, que operava a 120 MHz, suportava o uso de até 32 MB de RAM e utilizava um teclado miniaturizado, com uma tela de 640×480:

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Além da configuração ser muito fraca, mesmo para os padrões da época, ele era bastante desconfortável de usar e custava nada menos do que US$ 2000. Por outro lado, ele era pouco maior que uma fita VHS e pesava apenas 850 gramas, o que mostrou que era possível colocar um PC completo em um portátil com menos de 1 kg.

Entretanto, o projeto que acabou capturando a imaginação do público foi o OLPC XO, que surgiu com o objetivo de oferecer mini-laptops para uso na educação, com o objetivo de produzí-los em quantidade e fornecê-los os governos por US$ 100 a unidade.

Ele apresentou diversos recursos inovadores, como uma tela LCD capaz de operar tanto em modo colorido quanto em modo monocromático (otimizado para a leitura de e-books), um projeto pedagógico e recursos desenvolvidos pensando no uso em sala de aula, como um sistema de rede mesh, onde as máquinas se conectavam sozinhas entre si, compartilhando a conexão e outros recursos disponíveis:

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Para cortar custos e reduzir o consumo elétrico, optaram pelo uso de um processador AMD Geode de 433 MHz, utilizando 1 GB de memória Flash como meio de armazenamento e um conjunto de otimizações que resultaram em uma autonomia de mais de 8 horas usando uma bateria de 4 células. Para compensar a configuração fraca, o projeto desenvolveu o Sugar, uma interface que roda sobre uma instalação do Linux otimizada para o aparelho, atacando o problema com aplicativos capazes de aproveitar melhor os recursos do hardware e não com um processador mais rápido.

O projeto acabou não dando muito certo, talvez por estar um pouco à frente de seu tempo, mas a ideia de desenvolver mini-PCs leves e baratos acabou se materializando na forma de outros produtos.

Em 2005 a Intel passou a investir nos UMPCs, uma nova categoria de dispositivos, desenvolvidos com o objetivo de preencher o espaço vago entre os notebooks e os smartphones. A ideia era que eles fossem mais portáteis que os notebooks, mas ao mesmo tempo mais poderosos que os smartphones, capazes de rodar versões completas do Windows ou de distribuições Linux atuais.

Originalmente, a plataforma UMPC era um projeto desenvolvido por um conjunto de fabricantes, com destaque para a Intel e Microsoft. O interesse de ambos era óbvio: a Intel pretendia vender mais processadores e chipsets e a Microsoft queria vender mais cópias do Vista.

A ideia era boa: criar uma plataforma de PCs ultra-compactos, menores, mais leves e com uma maior autonomia que os notebooks, equipados com processadores dual-core, aceleração 3D, wireless e, opcionalmente, também a opção de se conectar à web via 3G ou WiMAX. Com um UMPC, você teria um PC que poderia levar com você o tempo todo, carregando seus aplicativos e arquivos, o que permitiria que você se conectasse à web ou assistisse vídeos em qualquer lugar.

Dentro da ideia inicial, até o final de 2006 teríamos UMPCs a preços acessíveis, criando um nicho intermediário entre os notebooks e os smartphones. Quem realmente precisasse de um PC completo, poderia comprar um notebook, enquanto quem quisesse apenas ter um PC portátil, para rodar tarefas leves, poderia usar um UMPC.

Embora a maioria dos protótipos de UMPC não tivesse teclados embutidos, você poderia utilizar um teclado e mouse USB ou Bluetooth, aproveitando para plugar também um monitor externo enquanto estivesse em casa ou no escritório e utilizar o teclado onscreen no restante do tempo.

Apesar disso, o plano não deu muito certo. Os poucos modelos disponíveis inicialmente eram muito caros e as vendas ínfimas, tornando a plataforma mais um objeto de curiosidade, do que uma alternativa real.

Um dos UMPCs mais bem sucedidos até a primeira metade de 2007 (pelo menos do ponto de vista técnico) foi o Sony VGN-UX1XN:

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Ele era baseado em um processador Intel Core Solo (um antecessor single-core do Core 2 Duo), de 1.33 GHz, com 1 GB de memória DDR2 e vídeo Intel GMA 950 integrado. A tela tinha apenas 4.5 polegadas, mas mesmo assim usava resolução de 1024×600. Devido ao tamanho reduzido, o HD foi substituído por um SSD de 32 GB, o que também tornou o aparelho mais resistente a impactos.

Medindo apenas 15 x 9.5 x 3.5 cm e pesando apenas 500 gramas, ele se encaixa muito bem no conceito proposto inicialmente. Embora não seja um topo de linha, ele possuía uma configuração poderosa o suficiente para rodar aplicativos gerais.

O problema todo se resumiu a uma única palavra: preço. O VGN-UX1XN custava, em maio de 2007, nada menos que 2000 euros, uma verdadeira bolada. Caso ele chegasse a ser vendido no Brasil, não custaria menos de 10.000 reais.

O mesmo problema afetou todos os outros UMPCs lançados. Ou eles eram muito caros (a maioria dos modelos custava a partir de US$ 1.600), ou possuíam uma configuração muito fraca, ou ainda ambas as coisas combinadas, o que fez com que, sem exceção, todos tivessem vendas medíocres. A realidade mostrou que construir um UMPC com um processador dual-core, capaz de rodar o Vista (ou mesmo o XP) por US$ 500 era uma ideia um pouco à frente de seu tempo.

Apesar disso, a Intel não desistiu de criar uma nova plataforma que se encaixe entre o notebook e o smartphone e seja capaz de reforçar suas vendas. Surgiram então os MIDs (abreviação de “Mobile Internet Device”).

A grande diferença entre os MIDs e os UMPCs da safra anterior eram os componentes usados. Em vez de utilizarem processadores Core Solo ou Core Duo, os UMPCs são baseados no Atom, uma plataforma de baixo custo e baixo consumo, que permitiria desenvolver aparelhos mais leves e mais baratos. Em vez de manter a parceria com a Microsoft, a Intel optou por incentivar o uso do Linux, patrocinando o desenvolvimento no Moblin, que oferece uma interface otimizada para as dimensões reduzidas da tela e a ausência do teclado.

Um bom exemplo dentro da nova classe é o Lenovo IdeaPad U8 (um produto-conceito que foi anunciado no final de 2008 e chegou a ser vendido em pequenas quantidades na China, na época das olimpíadas), que usa uma tela touchscreen de 4.8″ (800×480) e pesa apenas 280 gramas:

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Embora alguns modelos tenham sido lançados, os MIDs também falharam em atrair muita atenção, passando a serem vistos mais como uma curiosidade do que como uma alternativa real de compra. Um dos motivos é que, embora mais portátil, o formato é bem menos confortável de usar que um notebook ou netbook. Mesmo nos modelos com um teclado deslizante, você precisa digitar usando os polegares e se coordenar para usar o touchscreen ou um pequeno joystick para as funções do mouse.

A Intel continua investindo na plataforma, incluindo o desenvolvimento do Moblin, mas o interesse por parte do público continua sendo pequeno.

É nesse ponto que chegamos aos netbooks, que conseguiram roubar a cena, fazendo sucesso onde os UMPCs e MIDs falharam. Segundo uma pesquisa da DisplaySearch http://tinyurl.com/qtsvz4 os netbooks corresponderam a quase 20% do total de notebooks e portáteis vendidos no primeiro trimestre de 2009, um crescimento espantoso considerando que eles são uma febre recente.

Muitos argumentam que os netbooks são inadequados para uso prolongado, já que as telas e os teclados pequenos são desconfortáveis de usar, sem falar no baixo desempenho dos processadores e outras limitações. Entretanto, é muito raro encontrar alguém que usa um netbook como PC primário. Quase sempre, ele é usado como um PC secundário, fazendo par com um PC ou um notebook maior. Essa divisão permite que eles se especializem em tarefas rápidas, como navegar e checar os e-mails.

Nada impede também que você ligue o netbook a um monitor externo e use um teclado e mouse USB quando estiver em casa.

Apesar da enorme oferta de modelos, todos os netbooks da safra atual possuem um antepassado comum: o Intel Classmate. A ideia do Classmate era oferecer um notebook de baixo custo para uso em escolas de primeiro e segundo grau, construído usando componentes da Intel. Como o objetivo da equipe era oferecê-lo para governos e escolas por menos de US$ 200 a unidade, ele acabou sendo montado usando os componentes mais baratos que a Intel tinha à disposição na época, combinando uma versão castrada do Celeron ULV de 900 MHz (com o cache L2 desabilitado), um chipset Intel 915GMS, 256 MB de RAM e um SSD de 2 GB (com chips de memória Flash MLC e ligado ao barramento USB para não precisar adicionar uma interface SATA).

O desempenho não era nada espetacular, mas ele atendia ao que se propunha, oferecendo um mini-notebook relativamente barato e leve:

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O projeto do Classmate foi disponibilizado aos fabricantes de hardware, que ficaram livres para produzir versões próprias do Classmate, usando processadores e chipsets da Intel.

O Classmate propriamente dito nunca chegou a ser produzido em volume, o que fez com que o preço de venda ficasse bem acima dos US$ 200 propostos e ele acabasse sendo usado apenas em alguns projetos piloto em escolas (com resultados variados). Entretanto, a decisão de permitir que os fabricantes desenvolvessem versões modificadas acabou se revelando decisiva, dando origem aos inúmeros de modelos de netbooks que invadiram o mercado.

O primeiro deles foi o Eee PC 701, que todos conhecemos. Ele surgiu como uma versão “de consumo” do Classmate, um mini-notebook de baixo custo (inicialmente se falava em um preço final abaixo dos US$ 200), leve e fácil de transportar.

Embora tenha chegado ao mercado com um atraso de mais de 3 meses e bem mais caro que o esperado, o Eee PC acabou se tornando um sucesso instantâneo. Embora a tela fosse minúscula (com suas 7 polegadas e resolução de 800×480) o touchpad terrível e o teclado bastante desconfortável de usar (sem falar do SSD de apenas 4 GB) ele desempenhava bem o papel de segundo micro, permitido acessar os e-mails e fazer tarefas rápidas sem precisar carregar um notebook de 3 kg na mochila.

A versão original utilizava uma versão customizada do Xandros Linux, que oferecia uma interface simplificada, com acesso fácil às funções:

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O SDD era dividido em duas partições, com uma maior, de 2.6 GB, reservada à imagem do sistema e outra de apenas 1.4 GB para arquivos e configurações. as duas partições eram montadas usando o UnionFS, que permitia que todas as alterações fossem salvas diretamente na partição de dados, sem modificar os arquivos na partição principal. A vantagem desse sistema era que você podia reverter o sistema ao estado original em caso de problemas (bastava pressionar F9 na tela de boot e usar o “Restore Factory Settings”), eliminando a necessidade de reinstalar o sistema em caso de problemas.

Embora o sistema fosse fácil de usar e a ideia do sistema de restauração fosse muito boa, o índice de rejeição foi relativamente alto (como seria de se esperar, já já que muitos precisavam rodar aplicativos Windows diversos, ou simplesmente não gostavam da interface), o que levou ao aparecimento de versões com o Windows XP.

Assim como no Classmate, o Eee era baseado no Celeron ULV, que era o processador de baixo consumo mais barato dentro da linha da Intel. Ele era ultrapassado mesmo para os padrões da época, baseado no core Dothan e ainda produzido usando a técnica de 0.09 micron, mas oferecia um desempenho razoável (em grande parte devido ao cache L2 de 512 KB).

Pouco depois, foi lançado o Eee PC 900, que manteve o mesmo formato básico, mas se tornou um pouco maior, acomodando uma tela de 8.9″ de 1024×600 e um touchpad mais confortável, que corrigiram duas das principais limitações do Eee original:

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Outra mudança foi a inclusão de um segundo SSD de 8 GB (na versão com o Windows XP) ou 16 GB (na versão com Linux, complementando o SSD primário de 4 GB. A divisão permitiu que a Asus utilizasse chips de memória Flash mais lentos (porém mais baratos) no segundo SSD, reduzindo os custos.

Este segundo SSD é instalado no slot Express Mini dentro do compartimento do módulo de memória, o que permite que ele seja substituído. Entretanto, como SSDs nesse formato são muito raros, é mais comum usar um cartão de memória.

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Assim como em um HD com duas partições, a ideia era que o SSD de 4 GB fosse usado para instalar o sistema e o outro fosse usado exclusivamente para armazenar arquivos, tarefa onde a baixa velocidade de gravação não atrapalhasse muito.

Outra diferença entre os dois modelos era o clock do processador. Ambos eram baseados no mesmo Celeron ULV de 900 MHz, mas no Eee 701 ele era underclocado para 630 MHz (devido ao dissipador subdimensionado), o que comprometia o desempenho. É possível fazer “overclock” do Celeron no Eee 701, aumentando ligeiramente a frequência, mas o aumento na dissipação faz com que ele se torne instável.

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