Criando um DVR doméstico

Em 2001, a última moda era utilizar um PC antigo para compartilhar a conexão, utilizando alguma mini-distribuição Linux, como o Coyote. Na época, ainda não existiam modems ADSL com funções de roteador, de forma que usar um 486 para a tarefa era uma opção tentadora.

Hoje em dia, compartilhar o ADSL é muito mais simples, já que você precisa apenas ativar o compartilhamento no modem. Em compensação, temos agora outro desafio, que é compartilhar a conexão via cabo e usar um PC para gravar os programas da TV.

Seguindo a mesma linha dos meus tutoriais sobre o Coyote, que publiquei em 2001, vou agora mostrar como utilizar um PC antigo (para os padrões atuais) para compartilhar a conexão via cabo, gravar os programas da TV e permitir que você os assista tanto em outros PCs, quanto no seu palm ou pocket PC e também desempenhar outras funções, aproveitando os ciclos livres, como, por exemplo, servir como um fliperama doméstico. 🙂
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As regras que escolhi para o projeto são simples: agregar o máximo de funções em um único PC e utilizar apenas componentes baratos, permitindo que você aproveite as sobras do upgrade. A configuração não precisa ser necessariamente simples, mas resultado final deve ser fácil de usar.

O primeiro passo é montar o PC que será utilizado. Compartilhar a conexão é uma tarefa simples, que praticamente qualquer PC, por mais antigo que seja pode executar (como no caso dos 486 com o Coyote) mas, para gravar os programas da TV e rodar os games de arcade é necessário um PC um pouco mais parrudo. Considere como mínimo um Athlon ou Duron de 1.0 GHz, com 256 MB de RAM.

No meu caso, estou utilizando um Sempron 2800+, soquete A. A frequência original do processador é 2.0 GHz, mas fiz um underclock leve para 1.2 GHz (reduzindo o FSB de 166 MHz para 100 MHz no Setup) com o objetivo de gastar menos energia. Como o DVR vai ficar ligado 24 horas por dia, qualquer redução significativa no consumo acaba representando uma economia perceptível no final do mês. Só para efeito de exemplo, reduzindo a frequência e a tensão do processador, consegui uma redução de 40 watts no consumo global do equipamento, o que representa uma economia de cerca de 15 reais mensais na conta de luz.

Para poder gravar os programas da TV, você vai precisar também de uma placa de captura. No meu caso estou utilizando uma PixelView PlayTVpro, uma das placas mais comuns e baratas. Você chega a encontrá-la por menos R$ 100 nos sites de leilão. Você pode utilizar qualquer placa de captura, verifique apenas a compatibilidade com o Linux antes de comprar. Veja meu guia anterior sobre placas de captura compatíveis com o Linux aqui: https://www.hardware.com.br/guias/video-linux/

A placa de captura recebe o sinal da TV através do cabo coaxial e é ligada à entrada de audio da placa de som. Como a entrada de audio não é amplificada, o som pode ficar muito baixo; uma opção neste caso é utilizar a entrada do microfone. Como o sinal da TV a cabo analógica é mono de qualquer forma, o uso da entrada do microfone acaba não fazendo muita diferença.
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Usando a placa de captura, você pode usar o próprio micro para assistir TV, utilizando o TVtime ou o Mythtv que veremos mais adiante. Neste caso você pode utilizar um monitor e caixas de som comuns. Se você preferir a própria TV como monitor, vai precisar também de uma placa de vídeo com saída de vídeo e os cabos apropriados. No meu caso estou utilizando um cabo composite, mas se a TV oferecer a entrada para cabo S-Video, seu uso é recomendável, já que resulta em uma qualidade de imagem um pouco melhor. Se possível, recomendo que utilize uma placa da nVidia, pois elas incluem opções de configuração para a saída analógica que vem bem a calhar.

O cabo que liga a saída P2 da placa de som nas entradas RCA da TV é um pouco mais difícil de encontrar. No meu caso improvisei utilizando o cabo de uma câmera da Sony. Embora o cabo fosse destinado a transmitir o sinal de vídeo e audio mono, também funcionou perfeitamente como cabo estéreo. O cabo de vídeo seria originalmente amarelo e o de áudio vermelho, mas no meu caso calhou das cores dos cabos ficarem trocadas :).

Utilizei também um splitter para o cabo da TV, permitindo que a TV recebesse uma extensão do cabo. Isso permite que ela possa ser usada enquanto o micro estiver desligado.
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Precisaremos também de uma placa de rede extra (para compartilhar a conexão), um drive de CD ou DVD (opcional, se você quiser usar o micro também como DVD-Player) e HDs com espaço suficiente para guardar os programas gravados, ROMs e outros arquivos que pretenda armazenar no DVR. Como de praxe, uma das placas de rede é ligada ao cable-modem, enquanto a segunda é ligada ao hub da rede local.

Para completar, adicionei também um ponto de acesso. Assim como muitos modelos vendidos atualmente, este modelo da Encore inclui um hub de 5 portas, o que permite centralizar o cabeamento da rede. Este modelo da foto não é exatamente um produto recomendável, pois o alcance é muito ruim, as opções de configuração são limitadas e a qualidade geral é baixa. Os únicos pontos positivos são que ele é muito barato e que não pegou fogo ao ser ligado:
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Com o micro montado e tudo conectado, o próximo passo é fazer a instalação da distribuição Linux que pretender utilizar. No meu caso estou utilizando o Kurumin 7, já que ele é bem compatível com esta configuração, mas você pode utilizar qualquer distribuição com que tiver familiaridade.

A imagem da TV ao ser usada como monitor é realmente muito ruim, já que ela trabalha com apenas 60 Hz (interlaçados) de refresh e (no PAL-M) apenas 525 linhas de resolução. Na maioria das placas, você pode utilizar resoluções mais altas (até 1024×768), mas a placa de vídeo descarta parte dos pixels ao gerar o sinal para a TV, resultando em uma imagem ainda menos nítida. O ideal é configurar o vídeo para 640×480 ou no máximo 800×600, utilizando neste caso fontes e ícones grandes.

Uma opção é ligar o micro em um monitor externo para fazer a instalação do sistema e configuração inicial e ligá-lo na TV depois que estiver tudo pronto. Outra opção é fazer apenas a instalação do sistema e configuração básica da rede e depois fazer o restante da configuração remotamente, conectando-se via SSH a partir de outro micro da rede.

Instalar o servidor SSH é bastante simples. Basta instalar o pacote “openssh-server” via apt-get e manter o serviço “ssh” ativo, como em:

# apt-get install openssh-server
# /etc/init.d/ssh start

Para se conectar a partir dos outros micros da rede, use:

$ ssh ip_do_servidor

Você pode ler mais sobre as opções de uso e configuração do SSH no guia de acesso remoto: https://www.hardware.com.br/guias/acesso-remoto/

Ao usar uma placa nVidia com saída de TV, comece instalando o driver proprietário da nVidia (consulte o https://www.hardware.com.br/guias/video-linux/ em caso de dúvidas). Utilize a configuração abaixo para otimizar a qualidade de imagem da saída de TV, substituindo toda a seção “Screen” dentro do arquivo “/etc/X11/xorg.conf”:

Section “Screen”
Identifier “Screen0”
Device “Card0”
Monitor “Monitor0”

Option “TVOutFormat” “Composite”
Option “TVStandard” “PAL-M”
Option “ConnectedMonitor” “TV”
DefaultDepth 24
Option “sw_cursor”
SubSection “Display”
Depth 24
Modes “640×480”
EndSubSection
EndSection

Note que as linhas Device “Card0” e Monitor “Monitor0” devem ser ajustadas de acordo com os nomes usados na seção “Screen” anteriormente presente no arquivo. O “640×480” indica a resolução, que você pode alterar para o valor desejado.

Concluindo a parte de hardware, é recomendável que você procure algum modelo de teclado wireless, de preferência um com um mouse touchpad ou trackpad embutido, já que neste caso não podemos nos livrar deles completamente.

Existem ainda alguns mouses sem fio para apresentações que podem ser interessantes, já que o formato é similar ao de um controle remoto:
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