Capítulo 2

2.1 – Por que é tão difícil aprender o Blender?

O relato mais comum que eu ouço dos conhecidos que se aventuram na tarefa de aprender o Blender é o de quem tentou, tentou e sequer consegiu fazer uma esfera ser animada. Realmente, é algo que acontece com uma frequência enorme. Mas, ao mesmo tempo que muita gente mal consegue inserir sua esferinha, outros tantos se enveredam pelos caminhos blenderianos sem voltar, é pura paixão. O que explica essas realidades tão distintas, a do insucesso inicial e a do apetecimento a médio prazo? Depois de muito pensar, de muito refletir cheguei a algumas conclusões.

A pouco tempo ministrei um workshop sobre Blender na cidade de Maringá-PR. Na verdade era para eu ajudar um amigo num projeto, mas acabei sabendo que teria de ministrar um curso durante um dia inteiro. Por sorte esse era no Sábado e eu havia chegado lá na Segunda. Ministrar conhecimento para minha pessoa não era problema, pois já tivera uma experiência como instrutor em uma escola de nível nacional, mas fazê-lo com o Blender era algo realmente novo e desafiador. Naquela semana, durante alguns minutos por dia pus-me a refletir sobre esse programa e a forma que ele funcionava; o que dizer para uma pessoa que nunca o viu? Como regalar a um leigo a possibilidade deste trabalhar no Blender? Por onde começar? Estava difícil, até por que naquela altura do campeonato eu havia perdido a sensibilidade de quem está aprendendo os conceitos básicos. A maioria dos comandos já me eram familiar, exceto claro, os mais avançados, como as técnicas de animação de personagens e composição de cenas pelo Nodes. Foi então que atentei-me para alguns fatos.

O primeiro programa 3D que trabalhei fora o Dream 3D da Corel, depois dele cheguei ao popularíssimo e antiquissimo 3D Studio Max. Algo que me chamou a atenção nesse foi a sua interface bonitinha e intuitiva. Quando ministrei cursos sobre ele nos idos de 2001, percebi que além de ser um programa poderoso ele também era intuitivo, pois estava pontuado de ícones autoexplicativos e aos poucos a industria se postrou ao seu padrão tornando-o oficial. Já no Blender as coisas eram um pouco diferentes, tomemos como exemplo a interface. Nela quase não vemos ícones, e os que tem são tão pequenos que passam despercebidos. A primeira impressão que tive do Blender era de um programa “cinza e chato“, sem nenhum recurso simpático como o help do Max ou mesmo aquele batalhão de plugins que tornam a nossa vida mais fácil e divertida.

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Blender 3D

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3D Studio Max, clássico programa de modelagem

3DS Max –> Intuitivo e colorido
Blender –> Pouco intuitivo e espartano

Até hoje não sei por que não desisti do Blender, afinal eu quebrava tanto a cara nos contatos iniciais, frustrava-me tanto que até ganhei uns cabelos brancos, mas não abria mão dele, pois no fundo sabia que todo o sacrifício valeria a pena. E demorou, nossa, como demorou para eu compreender a filosofia desse programa.

A grande diferença do Blender em relação a um 3D Studio Max da vida é a seguinte: Ele não está sendo desenvolvido para agradar o usuário, ele não é desenvolvido para ser intuitivo ao extremo. Na verdade ele foi feito para funcionar, e possibilitar ao usuário o contato com as tecnologias de ponta sem deixar de lado a essência da informática 3d.

Como diria Jack o Estripador… vamos por partes (não, eu não tinha uma piadinha melhor).

Quando escrevo que o Blender não foi feito para agradar e sim funcionar, não quero dizer que ele não seja simpático, mas sim, que em razão de um código limpo e uma forma de uso padrão os desenvolvedores acabaram optando por uma interface compacta, pouco intuitiva mas cheia de recursos. Ele consegue oferecer ao usuário tecnologias relativamente novas como sculpting sem abrir mão da “forma correta” de se trabalhar com o 3D. Mas o que é essa tal “forma correta”? Simples, por exemplo, só podemos criar faces com 3 ou 4 lados. Parece algo tolo numa primeira vista, mas é assim que o computador trabalha. Atravéz do Python script qualquer um pode quase que conversar com o computador em relação ao 3D mais essencial. O que significa isso? Simples, mais rapidez na geração do objeto e na visualização dele e mais coerência com a forma que o computador trabalha essa realidade. Em tempos de Skecthup, estamos cada vez mais sedentarizados por programas que oferecem uma forma de trabalhar mais compatível com a realidade, mas isso implica em um código maior, mais processamento e sérias dificuldades de gerenciamento de projetos.

Quanto a iterface espartana, não se engane! Configurar um softbody (tecido) ou pêlos é uma tarefa relativamente simples, e essa é outra qualidade louvável do Blender: objetos complexos configurados de forma prática. Praticamente qualquer pessoa que entenda um pouco de informática pode ler um tutorial sobre pêlos, fluídos e physics e de pronto seguir seus passos e atingir os objetivos propostos. Compreender é outra história, mas isso vem com o tempo.

Isso vem com o tempo… talvez seja essa a frase mais importante no quesito compreensão blenderiana. Normalmente somos impacientes ao lidarmos com novidades, e o Blender é um caso clássico de software “fora da casinha”, pois a sua estrutura visual, apesar de genial não é convidativa, de modo que o usuário terá de ater-se a novos conceitos e não esperar que as coisas simplesmente aconteçam ou funcionem como no mundo real.

Por essas e outras que costumo aconselhar os novos educandos desse programa que, antes de tudo, procurem pulgar a mente de tudo o que já aprenderam sobre informática e especialmente informática 3D e embrenhem-se virgens na apreciação a esse novo mundo. Hein? Simples, que esqueçcam tudo, abaixem o cabeção e aceitem que nada sabem sobre o Blender. Para auxiliar na busca dos desejosos de compreenção, formulei uma técnica no melhor estilo “seja feliz em 10 lições” ou coisa parecida, mas usando como referência a minha própria história. Brincadeiras a parte, comigo funcionou 🙂

2.2 – Dicas preciosas para se aprender o Blender 3D

1 – Seja humilde e aceite que não sabes nada

Dessa forma, ao lidar com o Blender a sensação de frustração será amenizada, afinal, o que esperar de uma pessoa desinformada? Nadinha.

A pomba é o símbolo da paz, é isso que terás ao abrir mão do orgulho nato que todos temos ao depararmo-nos com as novidades. É isso que tu precisas, para encarar os desafios que aparecerem munido da melhor arma que um educando pode possuir além da inteligência e vontade, a tranquilidade.

2 – Leia materiais introdutórios constantemente

Apesar dessa frase capciosa ela é muito séria. Procure ler materiais que contam por alto sobre o conteúdo que desejas estudar, assim tu irás aos poucos atendo-te ao conceito e não te perderás tanto nas dúvidas, pois essas serão amenizadas no decorrer das leituras… nada de pressa, afinal tu não sabes nada.

Eu disse materiais introdutórios, ou seja, para iniciantes. Não adianta nada baixar uma apostila de Blender avançado e não entender um paragrafo. Frustração nessa altura do campeonato é o que menos precisas.

3 – Brinque de leve com os comandos até familiarizar-te com eles

Aqui chegamos numa parte importante. Costumo dizer o seguinte:

No Blender não basta entender os comandos, deve-se conviver com eles

O que significa isso? Ao utilizares o programa, na maioria das vezes o que manda na boa confecção do projeto é a familiaridade que tens com os comandos a ponto de nem pensares neles. No início dos estudos, algo simples como rotacionar a área de trabalho ou mesmo copiar objetos são tarefas demasiadamente penosas, pois é comum que o educando se perca no meio do caminho. E se perde por que confunde e confunde por que não está familiarizado e não se familiariza por que não convive!

4 – Faça do ato de aprender um momento de prazer

Parece estranho falar em prazer quando se refere a uma pessoa passando raiva na frente do computador, não é? Mas a coisa pode evoluir gradativamente para uma sequência de experiências gratificantes.

Como? Bem, antes de sentar na frente do micro e ler o material introdutório ou testar comandinhos novos, faça um cafezinho ou um chá… coloque uma musiquinha, ou deixe o silêncio no ar. Leias o conteúdo com atenção e tranquilidade, esqueças do mundo a tua volta, penses apenas no que está lendo. Conforme o tempo vai passando os padrões do conhecimento que estás buscando vão firmando-se na tua mente e convertendo-se em objetos inteligíveis. Como o teu domínio em relação a eles crescem e firmam-se, tu aos poucos vai convertendo a dúvida em compreensão. Essa compreensão te dará a paz suficiente para fazeres daquele ato algo prazeroso. Perceberás que, durante o dia tu só vais pensar naquilo… Bleeeeeender. O lado positivo de tudo isso, é que acabarás aprendendo coisas que nem estavam no roteiro e como diz sábio: Aprender nunca é demais.

Não te procupe com o tempo nem com o dinheiro. A maioria dos insucessos que tenho acompanhado são motivados por essas inquitações.

5 – Comece a ousar nas construções

Depois de familiarizar-te com os comandos, vá aos poucos ousando na contrução dos objetos e buscando novas aplicações para eles. Essa composição de coisas simples irá criando um ambiente mais complexo, e como toda grande jornada principia no primeiro passo, como toda a grande árvore veio de uma pequena planta… os teus projetos mais ambiosos poderão nascer daí.

6 – Te envolva num projeto modesto mas objetivo

Para atestares o teu conhecimento, ao passo que adquires mais dele, te envolvas num projeto que sejas coerente com o que pretendes desempenhar. Se por exemplo, tu desejas confeccionar maquetes eletrônicas, te prestes a modelar uma para um amigo que pretende construir uma casa, ou desenhes uma e procures modelá-la. Quando estou aprendendo alguma ferramenta nova, geralmente faço projetos de graça para amigos que precisam deles para seus trabalhos universitários, como cavalo dado não se olha os dentes,tenho a tranquilidade necessária para brincar e me deliciar com as novidades a ponto de na maioria das vezes o resultado sair bem acima do esperado. Me foi assim com o Blender, lembro-me como se fosse hoje o hotel fazenda que modelei para uns amigos que faziam administração.

Para aqueles que desejam de pronto envolverem-se em grandes projetos como um curta… lamento informar mas não é uma escolha muito sábia. Projetos como esse não dão muito mas móóóóóóóóito trabalho. Na história da humanidade creio que dá para contar nos dedos os casos de sucesso nessas tentativas.

7 – Cuidado com o prazer excessivo, ele pode acabar com a tua vida social e o teu namoro

Pode rir, mas isso é bem real. É comum que o grau de prazer em relação ao estudo extrapole a esfera da sobriedade tornando-se uma fixação. Nessa fase o educando tende a embrenhar-se num caminho que exclui a vida em sociedade e outras responsabilidade que não incluem as do cotidiano de qualquer vivente tido como normal.

Um dos fatores chaves para o sucesso no mercado e até para a tua autoapreciação é o networking. Que diabos é isso, networking? Simples, é a rede de amigos, de relações que tu formas em razão de algum fim. Nesse caso, de trabalhos com 3D. Portanto, dedique parte do tempo de estudo para a ampliação e solidificação desses laços, não te arrependerás!

8 – Cuidado com o perfeccionismo ele pode esterilizar-te

Alguns vêm essa qualidade como algo louvável, pode até ser, mas geralmente o senso de perfeccionismo acaba anulando as pessoas, que optam por não publicar duas obras imaginando que não estão “boas o suficiente”. Enquando tu fazes isso outras obras que não estão boas o suficiente caem nos olhos do público, ajudam pessoas e até geram lucros para seu criador. Lembre-te da dica 1, seja humilde.

2.3 – Outras dicas

É comum que teus amigos e familiares não nutram interesse pelos teus trabalhos ou avanços, de modo que outra dica que dou é a seguinte:

Quando principiares o estudo de qualquer coisa não contes a ninguém. Mantenhas a tua privacidade pois nessa fase somos vulneráveis a críticas negativas e nada mais eficiente para destruir os nossos sonhos do que isso. Assim que tiveres avanços significativos vás mostrando aos outros os teus trabalhos. Parece algo pouco animador ou ético o que exponho aqui, mas é uma medida de proteção inicial, eu sempre faço isso. As pessoas criticam por que falar é mais fácil que fazer, e nós aceitamos por que desistir é mais fácil do que lutar. Que mistura explosiva, não?

Outra dica que costumo proferir é a de fechar o Msn Messenger e passar longe do Orkut quando estiveres estudando, esses são grandes inimigos para a mente em estudo, pois tranfere a tensão de forma eficientíssima a algo que fica longe dos objetivos didáticos. Nada mais evidente do que isso, afinal é delicioso compartilhar informação com as outras pessoas e dar uma fofocadinha básica “de vez em sempre”.

Durante o processo de aprendizagem surgirá uma grande necessidade de compartilhar informação sobre o objeto de estudo , bem como um desejo incontrolável de enaltecimento dos mesmos. Quando isso acontecer, quando esse anseio despontar no teu coração, procure aproximar-te dos de outros membros da comunidade blenderiana, mas maneres nas solicitações de ajuda, pois com certeza, quase 100% das tuas dúvidas já foram respondidas e estão disponíveis na internet. Aproveite esse fogo inicial e essa sensibilidade em relação as dúvidas essenciais e desenvolvas materiais explicando como resolvê-las. Quem desenvolve tutoriais ou procura ajudar os outros é bem visto pela comunidade, a ponto dessa ajudá-lo sem titubear. Já quem vive perguntando inspira de forma negativa aos outros que detém mais conhecimento, pois eles correram atrás das respostas e não tem tanto tempo para ficar explanando acerca de iquietações iniciais. Portanto antes de perguntar qualquer coisa use o bom senso e procures a resposta na documentação oficial bem como nos fóruns e sites especializados. Isso não significa que os usuários avançados não gostem de conversar ou compartilhar informação, de vez em quando batas um papo com seus colegas blenderianos, mostres teus trabalhos, peças umas dicas e aprecies também a obra deles. Assim o egoísmo é equilibrado e a amizade depontará de forma expontânea e produtiva.

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