A questão das frequências

Um efeito colateral do UMTS é que ele trouxe de volta o problema do uso de freqüências diferentes em diferentes partes do mundo. Nos EUA são usadas freqüências de 850 e 1900 MHz, na Europa são usadas as freqüências de 900 e 2100 MHz e, no Brasil, são usadas as freqüências de 850 e 2100 MHz, de acordo com o estado e a operadora usada.

Com isso, os aparelhos voltaram a ser lançados em versões diferentes, de acordo com o país ao qual são destinados. O Nokia E71, por exemplo, foi lançado em três versões:

E71-1 (versão Européia): 900 e 2100 MHz
E71-2 (versão para os EUA): 850 e 1900 MHz
E71-3 (versão Brasileira): 850 e 2100 MHz

Veja que apenas a versão nacional suporta ambas as freqüências usadas por aqui. Durante a época do lançamento, muitos compraram a versão Européia (que suporta a faixa dos 2100 MHz, mas não a dos 850 MHz) apenas para descobrir que não conseguiam usá-lo em conjunto com o 3G a Claro ou da TIM nos diversos estados onde é utilizada a faixa dos 850 MHz.

A mesma história se repete em outros modelos, nem sempre com final feliz. O Nokia N95, por exemplo, existe em apenas duas versões. O N95-1, que é a versão Européia, suporta apenas a faixa dos 2100 MHz, enquanto o N95-3 (a versão americana) suporta apenas as faixas dos 850 MHz e 1900 MHz, como você pode conferir nas especificações exibidas no site da Nokia:

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A Nokia vendeu ambas as versões no Brasil, com a Claro vendendo um grande volume de modelos N95-3, que funciona apenas na Claro e apenas nas cidades onde é usado 850 MHz. O N95-1, por sua vez (vendido pelas demais operadoras), funciona tanto na Tim quanto na Vivo e na Oi, mas falha nas cidades com cobertura de 850 MHz da Claro e da própria TIM (onde o aparelho chaveia para o EDGE), uma confusão que resultou em muitos usuários insatisfeitos.

Com relação às operadoras, tanto a Claro quanto a TIM e a Vivo possuem licenças para operar tanto na faixa dos 850 MHz quanto na dos 2100 MHz. A faixa dos 850 MHz oferece vantagens do ponto de vista do alcance (a freqüência mais baixa permite que os sinais se propaguem por uma distância maior, usando a mesma potência de transmissão), mas a maior disponibilidade de equipamentos que utilizam a faixa dos 2100 MHz tem feito com que as operadoras deem preferência a esta faixa de frequência.

A TIM chegou a implantar redes 3G na faixa dos 850 MHz em Minas, Paraná e em Brasília, mas logo adotou o uso da faixa dos 2100 MHz, assim como a Vivo, que também chegou a usar a faixa dos 850 MHz em Minas, antes de também padronizar a rede em torno dos 2100 MHz.

A Claro implantou redes de 850 MHz em AL, CE, DF, ES, GO, MS, MT, PB, PE, PI, RJ, RN, RS e SP, mas também já anunciou que pretende migrar para os 2100 MHz ao longo do ano de 2009. A Oi, que chegou um pouco depois, também optou por utilizar a faixa dos 2100 MHz. Com isso, temos (no final de 2008) o seguinte resumo:

Claro: 850 ou 2100 MHz, de acordo com a região.
TIM: 2100 MHz; 850 MHz em MG, PR e DF (em processo de migração)
Vivo: 2100 MHz
Oi: 2100 MHz

Como pode ver, tudo indica que a faixa dos 2100 MHz predominará no Brasil, de forma que não é aconselhável investir em aparelhos em versão americana, que suportam apenas 850 e 1900 MHz (como no caso do Nokia N95-3 e do E71-2). Na falta de um modelo tri-band, como o E71-3, a melhor escolha são as versões européias (900 e 2100 MHz).

Modelos antigos, como o E61 (que foi vendido em versão única, com suporte apenas à faixa dos 2100 MHz), não funcionavam inicialmente, devido ao uso dos 850 MHz, mas acabaram sendo reabilitados com a implantação das redes de 2100 MHz, diferente de aparelhos como o N95-3, que fizeram o caminho oposto.

Além de atrapalhar a vida dos usuários, essa confusão de freqüências também não é boa para os fabricantes, que são obrigados a produzir diferentes versões dos mesmos aparelhos. Isso tem levado ao aumento na produção de aparelhos tri-band, capazes de operar nas três freqüências (850/1900/2100MHz). Eles devem se tornar mais comuns a partir da segunda geração de aparelhos 3G, resolvendo o impasse.

O uso da faixa dos 850 MHz na implantação inicial do 3G da Claro se deve a um fator burocrático. No início de 2007 a Claro ganhou na justiça o direito de implantar sua rede 3G usando a faixa dos 850 MHz, que estava vaga devido à desativação da antiga rede TDMA. Isso permitiu que a Claro fizesse a implantação inicial da rede antes das demais operadoras, que foram obrigadas a esperar pelo leilão das freqüências na faixa dos 2100 MHz por parte da Anatel.

Continuando, outra medida importante é verificar quais são os protocolos suportados pelo aparelho. A maioria dos modelos oferecem suporte ao WCDMA e ao HSDPA de 3.6 megabits, de forma que as especificações incluem algo como:

WCDMA HSDPA with simultaneous voice and packet data
(PS max speed DL/UL= 3.6Mbps/384kbps, CS max speed 64kbps)

ou

WCDMA 900/2100 or 850/1900 or 850/2100, maximum speed 384/384 kbps (DL/UL)
HSDPA class 6, maximum speed 3.6 Mbps/384 kbps (DL/UL)

O grande problema é que existem muitos aparelhos com suporte apenas ao WCDMA, o que limita suas taxas de download a apenas 384 kbits, um problema sobretudo se você pretende usar o smartphone como modem. Nesse caso, você encontrará algo como:

WCDMA 900/2100 or 850/1900 or 850/2100, maximum speed 384/384 kbps (DL/UL)

No outro extremo, temos alguns aparelhos que já suportam o HSDPA de 7.2 megabits, mas eles ainda são raros. A falta de suporte a ele não chega a ser um grande problema, já que, muito provavelmente, o plano não permitirá o acesso a 7.2 megabits de qualquer forma.

O principal motivo para alguns aparelhos suportarem apenas o WCDMA é que o suporte ao HSDPA exige o uso de um processador ARM extra (encarregado da modulação e do processamento dos sinais) que, naturalmente, aumenta o custo de fabricação. Isso faz com que alguns modelos de baixo custo (como o Nokia E63) fiquem limitados ao WCDMA.

Assim como no ADSL e outras modalidades de acesso, as altas taxas do UMTS podem ser limitadas pela operadora de acordo com o plano. Isso permite aumentar o número de assinantes suportados dentro de uma determinada estrutura e adiciona a possibilidade de cobrar mais caro pelos planos mais rápidos. A Claro, por exemplo, oferecia planos de 500 kbits e 1 megabit durante o lançamento do serviço com, respectivamente, quotas de tráfego de 5 GB e 10 GB.

Concluindo, temos também o HSUPA (também chamado de EUL), um padrão atualizado, que complementa as melhores taxas de download do HSDPA com melhoras também nas taxas de upload, indo de 730 kbps (no HSUPA categoria 1) até 5.76 megabits (HSUPA categoria 6), de acordo com a implementação. Por ser apenas uma extensão do UMTS e não um novo padrão 3G, os investimentos necessários para migrar as redes são relativamente pequenos, já que é necessário apenas substituir alguns equipamentos nas torres e redimensionar a estrutura de roteamento, sem exigir o licenciamento de novas faixas de freqüências ou substituição de antenas.

O HSUPA já é suportado por alguns aparelhos, entre eles o HTC Touch Pro e o Nokia 6260 e já é usado por operadoras de diversos países. Uma das primeiras a migrar foi a CellCom de Israel, que concluiu a atualização da rede em 2008. Espera-se que, a partir de 2009, a maior parte dos aparelhos vendidos já ofereçam suporte a ele.

É importante enfatizar que o HSDPA e o HSUPA são dois padrões complementares e não concorrentes. O HSDPA melhora as taxas de download em relação ao WCDMA, enquanto o HSUPA melhora as taxas de upload. De acordo com os equipamentos usados, as operadoras podem suportar ambos os padrões, oferecendo tanto download quanto upload mais rápidos, ou suportar apenas o HSDPA.

No Brasil, a única operadora a já utilizar o HSUPA (no início de 2009) é a Vivo, o que pode resultar em um diferencial competitivo no futuro. Ainda não existem notícias sobre o HSUPA por parte da Claro, da TIM ou da Oi, já que elas optaram por inicialmente implantar apenas o HSDPA e precisarão trocar equipamentos para oferecerem o HSUPSA. Como não existe tanta demanda por melhores taxas de upload quanto existe por downloads mais rápidos, pode ser que a atualização demore um pouco.

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