Wi-Fi: 20 anos desse padrão revolucionário e indispensável

Wi-Fi: 20 anos desse padrão revolucionário e indispensável

Em 1999, durante a edição daquele ano do evento MacWord, o mago das apresentações de produtos, Steve Jobs, exibiu um notebook chamado iBook. O aparelho, além da tradicional conexão por cabo, devido a sua compatibilidade com o padrão Ethernet. tinha uma versão alternativa que permitia “surfar na web” (termo que já esteve na moda) de forma sem fio. Recurso que foi bem explorado por Jobs na apresentação, arrancando aplausos eufórico dos presentes. Essa apresentação marcou o pontapé no que seria uma revolução marcada por uma onda cada vez maior de dispositivos compatíveis com um padrão, um conjunto de normas técnicas, para a conectividade sem fio, o Wi-Fi, que tem como data oficial de comemoração o dia 2o de junho.

iBook

Evidentemente que esses 20 anos não correspondem a toda história de tecnologias e projetos envolvendo conexão sem fio. A data marca estritamente um dia de comemoração ao Wi-Fi além de levantar uma bandeira social ao redor da tecnologia, já que o dia 20 de junho foi escolhido para celebrar o papel que o conjunto de tecnologias e padronagens que o cercam tem sobre um mundo cada vez mais conectado e inclusivo.

Mas, afinal de contas, o que é Wi-Fi? Muitos consideram como uma extensão da internet, para algumas gerações, que já nasceram com dispositivos conectados seguindo os padrões estabelecidos por essa sigla, se trata da própria internet. Na verdade o Wi-Fi é um padrão, uma normativa técnica que acabou impulsionando o mercado de dispositivos sem fio. Assim como tantas outras tecnologias que mudaram o mundo, partiu de um conglomerado de empesas.

Em agosto de 1999 foi constituída a WECA (Wireless Ethernet Compatibility Alliance), entidade formada por empresas de renome (3Com, Aironet, Harris Semiconductor, Lucent, Nokia and Symbol Technologies) que apostavam numa especificação que viria se tornar o grande porta-voz da massificação para um mundo com menos cabos, o IEEE 802.11. 

No entanto, o nome WECA é desconhecido por muitos, o nome que pegou mesmo é o que a entidade adotou de forma oficial a partir de outubro de 2002: Wi-Fi Alliance. Essa aliança, em apenas 20 anos, pavimentou todo um mercado de dispositivos, um gigantesco ecossistema de produtos que seguem o padrão IEE 802.11.

A constituição do Wi-Fi como conhecemos hoje percorreu um longo caminho até se tornar um padrão redondinho, pronto para ser implantado por milhares de fabricantes. Conforme relata o livro História da Computação (Raul Sidnei Wazlawick / Editora: Elsevier Academic), em 1985, o órgão regulador americano FCC (Federal Communications Commission) resolveu liberar algumas bandas específicas de radiofrequência para uso sem autorização do governo. As três bandas liberadas foram as seguintes: 900 MHz, 2,4 GHz e 5,8 GHz. Os padrões que se tornariam o norte para a adoção só apareceriam em 1997, o IEEE 802.11a e o IEEE 802.11b, o primeiro operando em 5.8 GHz e o segundo em 2.4 GHz.

Um ano após esse acerto na padronagem, a Lucent, uma das empresas envolvidas na aliança, ofereceu para a Apple a tecnologia Wireless Lan. Jobs enxergou uma oportunidade de novamente chamar a atenção para sua empresa e o novo produto da casa, o iBook, que ostentaria a conectividade sem fio.

Nesses 20 anos o Wi-Fi evoluiu de forma arrebatadora, tanto em questões de segurança – a tão importante passagem do WEP para o WPA e suas versões subsequentes (a mais atual é a WP3), como também em velocidade de transmissão. Enquanto na primeira geração, o 802.11 ficava entre  1 Mb/s ou 2 Mb/s, o padrão atual (IEEE 802.11ac) alcança uma velocidade teórica de 7 Gbps.

Wi-Fi

Os padrões 802.11n e ac podem ser considerados como emblemáticos, devido ao salto significativo na velocidade e pelas características que surgiram com eles. No caso do padrão n a grande novidade foi o uso de múltiplas antenas MIMO, que atua para oferecer velocidades mais consistentes em múltiplo dispositivos conectados ao mesmo tempo. No caso do padrão ac a grande novidade foi a obrigatoriedade da tecnologia Beamforming, que concentra a propagação do sinal para pontos que a demanda no momento é mais importante.

Essa necessidade de distribuição do sinal de acordo com a demanda dos dispositivos conectados acabou se tornando um produto completamente novo que aos poucos começa a se tornar popular, as redes Wi-Fi Mesh.

“A tecnologia Mesh funciona como uma malha, em que cada ponto é um nó de conexão que distribui a velocidade de acesso à internet de acordo com a necessidade de capa aparelho conectado. Com isso, os usuários ganham suporte extra para realizar downloads mais rápidos, assistir a canais de streaming, jogar games sofisticados sem risco de interrupções no sinal, além de acessar redes sociais via smartphone e utilizar as opções mais básicas de conexão com uma qualidade adicional”, explica Rodrigo Paiva, gerente de marketing e produtos da D-Link.  A invés de apenas um roteador, a rede mesh tem como premissa um conglomerado de nós, vendidos em kits com três pontos de acesso, com possibilidade de expansão.

 

Isso sem contar todo o mérito de ser um grande impulsionador do uso da web. O mundo está cada vez mais conectado e o Wi-Fi, como padrão, foi fundamental para que em tão pouco tempo tivéssemos tantas pessoas com acesso ao universo online (eu sei, mais um termo fora de moda!). A Cisco prevê que em 2022 mais da metade do tráfego da web (51%) será via Wi-Fi. Conexões por cabo serão responsáveis por 29% e redes móveis por 20%. A ABI Research prevê que mais de 20 bilhões de dispositivos Wi-Fi sejam vendidos entre 2019 e 2024.

O Wi-Fi também pode receber o título um dos responsáveis por todas essas discussões e pesquisas e mais pesquisas sobre a dependência das pessoas aos seus dispositivos, o apego, em certo ponto doentio, por smartphones e afins. Essa dependência fica escancarada em levantamentos como o que a empresa de segurança Kaspersky revelou no ano passado: 22% dos brasileiros preferem estar sem roupas em público do que sair sem seu dispositivo.

Esse sair sem o dispositivo é, em grande medida, estar desconectado do mundo, desplugado de checagens e rechecagens em redes sociais e outros apps, comportamento que o Wi-Fi ajudou a moldar.  A marca Wi-Fi é tão grande quanto seus aspectos técnicos que a tornaram possível. Quatro letras que representam avanços e também retrocessos no comportamento da sociedade.

De acordo com Kevin Robinson, vice-presidente de marketing da Wi-Fi Alliance, o Wi-Fi contribuiu em cerca de US$ 2 trilhões para a economia. Há mais de 13 bilhões de dispositivos Wi-Fi no mundo atualmente. 80% do tráfego mundial de internet nos smartphones é por Wi-Fi.

A próxima etapa dessa evolução sem freio é o padrão  802.11ax, ou como a Wi-Fi Alliance resolveu chamar, o Wi-Fi 6. Nessa nova geração é esperado uma velocidade, teórica, de 14 Gb/s, enquanto na prática transmissão estará na casa dos 10 Gb/s. Além de ser dual-band – 2.4 GHz e 5 GHz, e reduzir a latência de 30ms para 10ms.

Nicolas Driesen, Diretor de Tecnologia da Huawei no Brasil, diz que o Wi-Fi 6 é essencial para transformar a maneira como oferecemos suporte a aplicativos nas redes Wi-Fi atuais. Sua implantação permite uma experiência de usuário nova e aprimorada em cenários de implantação densos em comparação com as gerações anteriores de Wi-Fi.

Esse padrão vem para impulsionar a Internet das Coisas (IoT), aplicações de vídeo UltraHD e 4K, telemedicina, cidades inteligentes, entre tantas outras coisas. Steve Jobs estava certo quando classificou a conexão sem fio, quando lhe foi apresentada a Wireless Lan, na reunião com a Lucent, como a melhor coisa da terra!

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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