Um lugar para o Slackware

Um lugar para o Slackware

As distribuições Linux são um bom exemplo de ação da lei de seleção natural. Novas distribuições surgem praticamente a cada dia, mas poucas continuam ativas por mais do que alguns meses. O motivo é bastante simples: qualquer um com conhecimentos técnicos suficientes pode criar uma nova distribuição, tomando como base alguma distribuição já existente. Entretanto, apenas as que conseguem reunir um grupo suficientemente grande de usuários e desenvolvedores conseguem sobreviver a longo prazo.

Conforme o Linux passou a ser usado por cada vez mais pessoas e a atingir usuários com cada vez menos conhecimentos técnicos, as distribuições foram se tornando também cada vez mais fáceis de usar, atendendo ao público que quer apenas usar o micro, sem perder tempo configurando o sistema ou resolvendo problemas. Desde que não exista nenhuma incompatibilidade com o hardware da máquina, ou algum outro imprevisto, muitos distribuições praticamente se instalam sozinhas.

Entretanto, se você está interessado em se aprofundar e entender como o sistema funciona por baixo da superfície, este nível de automatização acaba sendo um obstáculo. É nesse ponto que chegamos ao Slackware que, justamente por ser uma das distribuições mais espartanas, abre brecha para falar sobre muitos detalhes que passariam despercebidos por uma distribuição mais automatizada.

À primeira vista, o Slackware parece ser um sistema extremamente complicado. Ele é uma das poucas distribuições Linux que ainda não possuem instalador gráfico e toda a configuração do sistema é feita manualmente, com a ajuda de alguns poucos scripts simples de configuração. Entretanto, o Slackware oferece um estrutura de arquivos de configuração e de pacotes muito mais simples que outras distribuições, o que o torna uma distribuição ideal para entender mais profundamente como o sistema funciona.

>Se as distribuições fossem carros, o Slackware seria o Fusca. Ele não possui nenhum dos confortos encontrados em outros carros atuais, mas em compensação possui uma mecânica extremamente simples, o que também o torna fácil de modificar e de consertar. É justamente por isso que o Slackware possui tantos fans, apesar da idade avançada. Ele é complicado na superfície, porém simples e confiável no interior.

Ele é também uma distribuição interessante para uso em PCs com poucos recursos, já que usa configurações bastante otimizadas na compilação dos pacotes e mantém poucos serviços ativados por padrão. Ele é uma das poucas distribuições que ainda podem ser utilizadas sem grandes percalços em micros com apenas 128 MB de memória RAM.

O Slackware é o exemplo mais proeminente de “distribuição de um homem só”. Ele foi desenvolvido desde o início por uma única pessoa, Patrick Volkerding, que esporadicamente conta coma ajuda de outros desenvolvedores. Ele se encarrega de testar e incluir novos pacotes, aperfeiçoar o instalador e outras ferramentas e, periodicamente, lança uma nova versão incluindo todo o trabalho feito até então.

A primeira versão foi disponibilizada em julho de 1993 (época em que a instalação era ainda feita usando disquetes) e novas versões vem sendo lançadas uma ou duas vezes por ano desde então. A versão 11.0 foi lançada em outubro de 2006, a 12.0 foi lançada em julho de 2007 e a 12.1 (a mais atual enquanto escrevo) foi disponibilizada em maio de 2008. Uma curiosidade dentro da história do Slackware é que as versões 5 e 6 não existiram, já que a numeração pulou do 4.0 (lançado em maio de 1999) para o 7.0 (outubro de 1999), para acompanhar os números de versão usados no Red Hat Desktop (que era na época a distribuição mais popular), evitando assim que o Slackware parecesse desatualizado.

Embora tenha uma estrutura interna relativamente simples, o Slackware intencionalmente conta com poucas ferramentas de configuração e por isso é considerado uma das distribuições mais difíceis, já que quase tudo, desde as configurações mais básicas precisam ser feitas manualmente. Ao contrário da maioria das distribuições atuais, o foco do desenvolvimento é manter o sistema fiel às suas raízes, ao invés de tentar facilitar o uso automatizando funções. Mesmo a inclusão do suporte ao hal, um recurso utilizado pelo KDE (e também pelo Gnome) para detectar a inserção de pendrives e outros dispositivos removíveis foi intencionalmente postergado durante várias versões.

Em termos de configuração e detecção de componentes, o Slackware é uma espécie de denominador comum entre as distribuições: ele inclui apenas as ferramentas mais básicas, o que permite que você trace uma linha imaginária entre o que é detectado pelos serviços padrão do sistema e o que é automatizado por ferramentas específicas incluídas em outras distribuições.

Ao contrário do que se costuma ouvir, a instalação do Slackware pode ser tão simples quanto a do que a do Mandriva ou Fedora, o problema é justamente o que fazer depois da instalação. Quase nada é automático: som, impressora, montagem das partições, tudo precisa ser configurado manualmente depois. O “Slack” no nome significa “preguiçoso” no sentido de que o software não fará muita coisa por você. A proposta da distribuição é justamente lhe proporcionar problemas, para que você possa aprender pesquisando soluções para eles. Esta acaba sendo a principal limitação, mas ao mesmo tempo o diferencial que mantém a distribuição relevante.

Sobre o Autor

Redes Sociais:

Deixe seu comentário

X