A era em que o streaming quase eliminou a pirataria ficou no passado. Dados da consultoria MUSO, sediada em Londres, revelam que visitas a sites de pirataria saltaram de 130 bilhões em 2020 para 216 bilhões em 2024, em um movimento que representa perdas de mais de US$ 113 bilhões para a indústria.
O motivo vai além do preço: a fragmentação. O que antes era “tudo em um só lugar” virou a chamada “TV a cabo 2.0”, com dezenas de serviços cobrando caro por catálogos incompletos.
Quando assinar deixa de fazer sentido
O modelo atual de streaming cobra caro pela conveniência que já não entrega. Uma família europeia gasta, em média, €700 por ano em três ou mais plataformas de vídeo sob demanda, segundo o The Guardian.
Com o plano padrão da Netflix custando US$ 15,49 e rivais seguindo pelo mesmo caminho, muitos consumidores passaram a enxergar a pirataria como uma alternativa racional — não pela economia em si, mas pela frustração com um serviço que se tornou complexo e fragmentado.
Gabe Newell, cofundador da Valve, já havia resumido o dilema em 2011: “A pirataria não é uma questão de preço, é uma questão de serviço.” Hoje, a frase soa quase profética.
O labirinto da fragmentação
As chamadas “guerras de conteúdo” pioram a experiência. Séries favoritas somem de uma plataforma para reaparecer em outra, ou exigem compra adicional mesmo para quem já paga assinatura.
Em alguns casos, nem quem comprou garante acesso. Disputas de licenciamento já levaram consumidores a processar gigantes como a Amazon Prime Video após títulos adquiridos desaparecerem do catálogo.
Segundo a MUSO, 96% da pirataria atual envolve streaming não licenciado de filmes e séries, reforçando que o problema está menos no download e mais no acesso instantâneo a conteúdo bloqueado ou pulverizado.
Estúdios correm atrás do prejuízo
As empresas tentam responder com pacotes integrados, bloqueio de compartilhamento de senhas e promoções temporárias. Mas essas medidas frequentemente têm efeito reverso: usuários se sentem punidos em vez de valorizados.
Um estudo da Antenna mostra que 1 em cada 4 americanos é um “cancelador crônico”, alternando entre serviços conforme o bolso e a paciência permitem.
Especialistas apontam que, ao criar escassez artificial em um ambiente digital que prometia abundância, os estúdios reacenderam a pirataria como fenômeno cultural. E, a menos que encontrem um modelo que devolva simplicidade e conveniência, a tendência é que essa curva continue crescendo.
Cancelamentos em massa? Nem tanto
Apesar das críticas, a Netflix mantém uma taxa de recuperação inédita no setor. Dados da Antenna, 50% dos usuários que cancelam retornam em até seis meses — índice que chega a 61% em um ano. Em serviços concorrentes, a média é de apenas 34%.
O curioso é que, ao retornar, o assinante inevitavelmente paga mais caro — e muitos acabam migrando para o plano com anúncios, que já responde por 55% das novas adesões.
Esse efeito bumerangue ajuda a explicar os resultados mais recentes. No primeiro trimestre de 2025, a empresa registrou receita de US$ 10,5 bilhões (alta de 13% ano a ano) e lucro líquido de US$ 2,9 bilhões, avanço de 24% em relação a 2024.
