O que é criptografia de ponta a ponta usada no WhatsApp?

Desde 2016 que o WhatsApp conta com criptografia de ponta a ponta, garantindo assim mais segurança e privacidade para os usuários. O WhatsApp é o mensageiro mais utilizado pelos brasileiros.

Em fevereiro de 2020 foi feita uma pesquisa que revelou que o WhatsApp está instalado em 99% dos smartphones em uso no Brasil. Simplesmente 93% dos brasileiros usam o WhatsApp todos os dias. Sem falar nos comércios (grandes e pequenos) que se valem do serviço para ter um contato mais próximo com o cliente e aumentar suas vendas.

Por essas e outras que é de fundamental importância que o mensageiro tenha uma camada de segurança bem robusta. Afinal de contas, são milhões de mensagens trocadas todos os dias. É aí que entra a criptografia de ponta a ponta. Neste artigo você irá entender o que é criptografia de ponta a ponta usada no WhatsApp e como ele ajuda a manter as suas mensagens privadas.

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O que é criptografia?

criptografia

A palavra criptografia se origina do latim: cryptographia. Crypto significa ininteligível, obscuro, oculto ou secreto. E graphia significa escrita. Logo, criptografia é uma escrita oculta, secreta ou que não pode ser entendida por outras pessoas.

Esse é o mesmo princípio aplicado na tecnologia. Um algoritmo pega uma mensagem clara e compreensível por todos e, através de várias técnicas, embaralha a mensagem, tornando-a incompreensível. A mensagem, nesse caso, só pode ser lida pelo emissor e pelo destinatário, que possuem as chaves de descriptografia.

Um exemplo bem interessante é o da Máquina Enigma, usada na Segunda Guerra Mundial pelos alemães para coordenar diversos ataques. As mensagens eram passadas por rádios e telégrafos, sendo facilmente interceptadas. No entanto, era impossível entender o conteúdo, que ia desde condições meteorológicas até data, hora e local de ataques alemães.

Foi preciso o trabalho árduo de inúmeros matemáticos talentosos de vários países para conseguir quebrar o código de criptografia da máquina enigma. Um deles é o famoso Alan Turing, conhecido como pai da computação moderna. Caso você queira saber um pouco mais sobre essa história, recomendo assistir ao filme O Jogo da Imitação, estrelado por Benedict Cumberbatch.

Criptografia simétrica e assimétrica

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Existem dois tipos de criptografia. A simétrica e a assimétrica. A primeira é a mais simples e comum de todas. Na criptografia simétrica, a mesma chave é usada para codificar e decodificar a mensagem. Portanto, ela precisa estar presente em ambos os lados da comunicação (emissor e remetente).

A criptografia simétrica era usada, por exemplo, na Máquina Enigma. Esse tipo de criptografia é menos segura, já que as chaves de codificação e decodificação podem ser interceptadas com mais facilidade. E foi mais ou menos isso que aconteceu com a Máquina Enigma.

Na tecnologia moderna, a criptografia simétrica é usada nos protocolos de proteção de dados SSL (Secure Sockets Layer) e TLS (Transport Layer Security). O SSL, por exemplo, é o que garante a privacidade e segurança de milhões de sites ao redor do globo.

Já a criptografia assimétrica, por sua vez, é mais segura. E é justamente ela que é usada pelo WhatsApp. Aqui são usadas duas chaves em cada ponto da comunicação. Uma chave pública e uma chave privada. Então, imagine que Joãozinho vai enviar uma mensagem no WhatsApp para Mariazinha. Joãozinho tem a sua chave pública e a sua chave privada. O mesmo para Mariazinha. As duas chaves são complementos uma da outra.

Joãozinho usa a chave pública da Mariazinha para criptografar a mensagem que será enviada para ela. Quando a mensagem chega lá, Mariazinha vai usar sua chave pública e também sua chave privada para decodificar a mensagem. Por isso que mesmo que outra pessoa intercepte a mensagem, será impossível decodificá-la, pois é preciso ter também a chave privada, que só pertence a Mariazinha.

A existência da chave privada é o que garante a segurança da criptografia assimétrica. Essa chave não precisa ser compartilhada com ninguém. Portanto, é muito mais difícil ter acesso a ela. Esse é o princípio por trás da criptografia de ponta a ponta.

O que é criptografia de ponta a ponta?

criptografia de ponta a ponta

Vamos falar agora um pouco mais sobre a criptografia de ponta a ponta em si (end-to-end encryption ou E2EE). Ela leva esse nome pois a proteção das mensagens é feita de uma ponta a outra da comunicação. Ou seja, apenas o remetente e o destinatário podem decodificar as mensagens.

Nem mesmo o WhatsApp consegue decodificar as mensagens. E a ideia é que nenhuma outra pessoa ou organização consiga, tais como grupos hackers ou entidades governamentais. Eles podem até conseguir interceptá-las, mas não vão conseguir decifrar o conteúdo.

A criptografia de ponta a ponta é fundamental na comunicação de hoje. Ela protege os usuários e as empresas. Afinal de contas, o governo não vai conseguir pressionar as empresas a liberarem informações confidenciais pois elas não possuem as chaves privadas em seus servidores.

No entanto, é válido ressaltar que a criptografia de ponta a ponta protege apenas o processo de envio da mensagem. Ou seja, do momento que ela é enviada até o momento em que ela chega no dispositivo do usuário. Caso um hacker, por exemplo, tenha acesso ao aparelho do usuário e consiga desbloqueá-lo, não há muito o que fazer. O mesmo vale para banco de dados de empresas que são invadidas. As mensagens poderão ser lidas.

O processo de criptografia de ponta a ponta ocorre automaticamente. Não é exigido nenhuma ação do usuário. E em todos os aplicativos e serviços que se valem desse recurso de segurança, ele já vem ativo por padrão.

Aplicativos que usam a criptografia de ponta a ponta

O que é criptografia de ponta a ponta

Este é um recurso de segurança tão importante que já está sendo adotado em vários aplicativos e serviços que promovem comunicação entre duas pessoas. Além do WhatsApp, que implementou o recurso em 2016, temos também o Telegram, o Signal e o Threema.

Esses dois últimos, por sinal, levam a segurança e privacidade realmente à sério. O Signal é usado até por Edward Snowden, que está foragido por revelar que a CIA espionou cidadãos americanos.

Outro serviço bastante popular que implementou a criptografia de ponta a ponta foi o Zoom. Com a pandemia, as reuniões online aumentaram bastante. Foi aí que o Zoom sentiu a necessidade de aumentar a segurança do seu serviço e até mesmo de melhorar a criptografia.

E cada vez mais serviços e aplicativos adotam a criptografia para melhorar a segurança e privacidade de seus usuários.

A criptografia de ponta a ponta do WhatsApp é realmente segura?

Claro que ter este recurso de segurança implementado é melhor do que não ter nada. Então, sim, a criptografia do WhatsApp é segura e aumenta muito a privacidade dos usuários. Porém, dentre todos os aplicativos de mensagens, ele é menos seguro.

A seguir explico os motivos.

WhatsApp não garante o anonimato

O que é criptografia de ponta a ponta

Com a criptografia de ponta a ponta, o WhatsApp promete proteger o conteúdo de suas conversas. Mas isso não significa que ele vai proteger a sua identidade. Nas mensagens existe uma coisa chamada de metadados. Eles contêm justamente as informações de com quem você conversou e até mesmo o dia e o horário. Em outras palavras, é o cabeçalho da mensagem.

Então, por mais que terceiros não tenham acesso ao teor das mensagens trocadas, eles poderão saber exatamente qual dia e hora você conversou com determinada pessoa. Essas informações não são criptografadas.

Com isso, o WhatsApp e o Facebook (que é a empresa controladora do mensageiro) poderão usar essas informações para fins comerciais ou compartilhá-las com as autoridades.

Não tenho certeza, mas creio que isso está de acordo com a Constituição brasileira. No artigo 5º, inciso IV lemos: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Portanto, creio que do ponto de vista legal nenhuma empresa pode garantir o anonimato de terceiros.

Nesse caso, se você realmente quer ter privacidade máxima, recomendo o uso do Signal, que também criptografa os metadados.

Existe criptografia na nuvem, mas é preciso habilitá-la

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No começo, a criptografia de ponta a ponta era feita apenas nas mensagens armazenadas no celular. Se você optasse por usar o backup na nuvem (iCloud para iOS e Google Drive para Android) perdia a criptografia e os dados eram armazenados nestes servidores sem proteção alguma.

Porém, isso mudou. Primeiramente, o WhatsApp levou a criptografia para o iCloud. Dessa forma, as mensagens em texto, vídeos, fotos e áudios também são criptografados na nuvem, com direito até mesmo a definição de senha para acesso.

Mas durante muito tempo o backup do Android (Google Drive) ficou sem proteção alguma. Somente em setembro de 2021 o WhatsApp implementou a criptografia na nuvem para usuários Android. Mesmo assim, a opção não é ativada automaticamente. É preciso ativá-la nas configurações do aplicativo.

Para ativá-la siga os seguintes passos:

  1. Vá até as Configurações do WhatsApp;
  2. Toque na opção “Conversas”, depois vá em “Backup de Conversas” e toque em “Backup criptografado de ponta a ponta”;
  3. Clique em “Continuar” e depois siga as instruções para criar uma senha ou gerar uma chave criptográfica;
  4. Clique em “Ok” e espere o WhatsApp terminar o serviço.

Pronto! Dessa forma você terá mais proteção e privacidade também no backup na nuvem. Mas lembre-se que se você esquecer a senha ou perder a chave criptográfica não tem como acessar suas mensagens e arquivos salvos no backup. Portanto, muito cuidado!

Mensageiros mais seguros

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Como vimos ao longo desse artigo, o WhatsApp aumentou a segurança e privacidade dos seus usuários por implementar a criptografia de ponta a ponta. Mas existem mensageiros ainda mais seguros.

O Telegram, por exemplo, que é concorrente direto do WhatsApp tem alguns recursos que eu acho interessante. Eles contam com um servidor dedicado para criptografia das mensagens. A codificação abrange cliente-servidor/servidor-cliente. E é neste servidor superprotegido que são armazenadas as mensagens dos usuários, com total proteção.

Caso você queira algo mais radical, pode tentar usar o Signal ou o Threema. O Signal não faz nenhum tipo de backup e ainda criptografa os metadados. Então, para ter acesso às mensagens é preciso ter acesso ao seu celular.

Já o Threema nem sequer associa o seu número de telefone ao aplicativo. Ele cria um ID para cada usuário, aumentando ainda mais o anonimato. Além disso, todas as informações são salvas em uma pasta segura que também não é salva na nuvem. O usuário precisa ter atenção para fazer o backup manual dessa pasta quando for trocar de celular.

Conclusão

Se você é um usuário comum ( e não um ativista político ou criminoso) e não tem nada a esconder das autoridades, a criptografia de ponta a ponta do WhatsApp já está de bom tamanho. Só lembre-se de ativar a criptografia no backup na nuvem.

Mas se você é paranóico com segurança e privacidade, recomendamos que use o Signal, Threema ou Telegram. Eles possuem sistemas de criptografia mais robustos. Os dois primeiros são os mais radicais e nem sequer fazem backup das conversas.

Postado por
Cearense. 37 anos. Apaixonado por tecnologia desde que usou um computador pela primeira vez, em um hoje jurássico Windows 95. Além de tech, também curto filmes, séries e jogos.
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