OPINIÃO: fanboys de Xbox estão em pânico

Por: William R. Plaza

É preciso admitir. Não tem sido fácil a vida daqueles que estão mais interessados no flame do que em jogar. As mudanças do mercado de games passam a cada novo balanço financeiro, ou pronunciamento público de executivos, a sola do tênis sobre a marca de giz que separava concorrentes diretos, e que moldou a cultura gamer de A x B.

O sofrimento dos fanboys

Vemos um mercado que tem se tornado cada vez mais difícil, do ponto do crescimento, e medidas emergenciais precisam ser adotadas, a contragosto de parte da sua própria base de usuários, desagradando aqueles que querem apenas se orgulhar de afirmar que “meu console tem esse jogo, o seu não”.

Embora esteja envernizado com o discurso de “queremos encontrar os jogadores onde eles estejam”, a máxima do que estamos acompanhando no mercado de jogos é uma ineficiência clara de uma autossustentação apenas em seus “próprios domínios”. A expansão para outros territórios é uma necessidade. O bônus é que torna mais amplo a possibilidade de jogar determinado título, sem ter que adquirir outra plataforma. Acho isso excelente, e é a kriptonita do fanboy.

Mas esse é o pensamento de quem visa o play, de quem gosta de jogos acima do debate. No entanto, pegando o microcosmo de sessões de comentários, é possível perceber que, em muitas situações, jogar está em segundo plano. Comemorar que você pode algo e o outro não se destaca. Isso é cultural do mercado de jogo. Em partes, impulsionou o próprio mercado, construiu um apego de certos consumidores a determinada plataforma.

Mas esse ciclo está perdendo força. Gamers de gerações anteriores estão se deparando com uma nova realidade implacável. Para muitos era impossível cogitar a possibilidade de que um jogo como Forza pudesse chegar ao PlayStation. No contexto atual, você duvida disso?

Hora de acelerar também no PlayStation

Segundo noticiou nosso coirmão, a Game Vicio, todos os jogos first-party do Xbox, incluindo Forza e Halo, podem ser lançados no PlayStation. Inicialmente isso foi posto como uma informação, que teria partido de uma apuração do Jez Corden, editor-chefe do Windows Central,  mas ele mesmo confirmou que é uma percepção, uma opinião pessoal. Um olhar sobre o que ele anda vendo do mercado de games. Algo que pode ou não acontecer. Você se surpreenderia com Forza chegando no PS? Eu não.

Boa parte da discussão sobre as decisões tomadas pela Microsoft com o Xbox caem na conta de Phil Spencer, que líder da divisão de jogos da Microsot, e Sarah Bond, que assumiu a presidência do Xbox no ano passado. Mas as pessoas esquecem que acima deles há o CEO da Microsft, Satya Nadella. O discurso de Nadella, a todo momento, esteve alinhado com o que estamos vendo acontecer, e sobre qual será o futuro da Microsoft na parte de games.

Pense por um segundo no maior fanboy de Xbox que você conhece. Agora imagine ele trabalhando na Microsoft, comandando a divisão de games, considerando a realidade de 2024. Apostando em ideias e medidas centralizadas somente no console da empresa, e descartando qualquer possibilidade de levar isso para outras fronteiras, incluindo o mercado mobile.

Adicione na equação que estamos falando de uma empresa de capital aberto, com acionistas, e com um CEO completamente orientado por resultados, e por apresentar números. O modo de atuação desse executivo seria podado rapidamente.

Xbox em busca de jogadores

O CEO da Microsoft, e o próprio Phil Spencer e a Sarah Bond, estão diante de balanços financeiros que indicam o que está acontecendo com o Xbox como plataforma. E sabe o que está acontecendo? O Xbox precisa estar em todos os lugares! Isso não é apenas uma visão hedonista para o mercado, é uma necessidade urgente.

E seguir essa estratégia tem dado resultado, do ponto de vista de vendas. Recentemente, numa reunião com investidores e acionistas, Nadella reforçou que o compromisso é encontrar os jogadores onde quer que eles estejam: “Levaremos grandes jogos para mais pessoas em mais dispositivos”, afirmou o executivo.

Satya Nadella, CEO da Microsoft

O executivo também comemorou o fato de que games que pertencem à Microsoft estarem entre os mais vendidos da PS Store. Ele mencionou Call of Duty Modern Warfare III, Overwatch 2, Sea of Thieves, Fallout 4, Minecraft, Fallout 76 e Grounded.

Temos aqui então um claro contraste. Segundo o balanço financeiro da Microsoft, relacionado ao primeiro trimestre de 2024, as vendas de consoles Xbox apresentaram um encolhimento de 31%, quando comparado ao mesmo período do ano passado. O Xbox, como console, apenas segue em queda livre. Isso é um fato!

No outro lado do espectro temos a venda de jogos. Aqui está o ponto focal de Nadella, Spencer, Bond e os acionistas da Microsoft. No último trimestre, a divisão de games da Microsoft registrou crescimento de 55%. Esse setor já é o quarto mais lucrativo da empresa.

Considerando os 25 games mais vendidos da PS Store, temos atualmente a seguinte divisão por publisher: 

  • Microsoft: 28%
  • Sony: 20%
  • Take-Two: 12%
  • EA: 12%
  • Cognosphere miHoyo: 8%
  • Ubisoft: 4%
  • Capcom: 4%
  • Epic Games: 4%
  • Roblox Corp: 4%
  • Hi-Rez Studios: 4%

O jornalista Derek Strickland, do site Tweak Town, foi muito feliz ao fazer a seguinte afirmação:

“PlayStation e Xbox são tão cooperativos quanto competitivos. Eles competem para vender consoles e fazer com que jogadores joguem em suas plataformas e em seus jogos, mas também têm uma dependência mútua. A Microsoft depende da loja da Sony para vender os seus jogos, e a Sony se beneficia da contribuição dos jogos da Microsoft para as receitas do PlayStation”.

Essa é a realidade do mercado que fanboys, tanto do Xbox quanto do PlayStation, não enxergam, ou fingem que não estão vendo. Tudo em prol da manutenção de suas briguinhas por caixas com chips.

É o fim do Xbox como console?

Tudo o que foi mencionado aqui significa que o Xbox como console acabou? Não teremos mais consoles da Microsoft? Acredito que não, ao menos por enquanto.

A própria Microsoft já confirmou estar comprometida com o roteiro da próxima geração, um novo console que promete entregar o maior salto técnico em uma geração.

Mas a dinâmica pode ser outra. Será que o Xbox pode deixar de ser uma ponta de lança para uma competição direta com o PlayStation e se transformar mais em um produto que vise gerar interesse naquele fã do Xbox? Naquela base que seguirá apoiando o console. Corden defende essa linha de pensamento, e também é algo que faz um certo sentido. 

Xbox Series X

Hoje em dia eu posso ouvir praticamente qualquer música por streaming, mas sigo tendo a possibilidade de comprar o álbum físico, alguns até mesmo numa versão em fita cassete. O Xbox pode se transformar num item de colecionismo, que uma parcela de gamers irão querer comprar. Atender a um nicho. E esse próximo Xbox pode até mesmo abraçar outras lojas, como a Steam.

Como afirmou o próprio Phil Spencer, durante a Game Developers Conference 2024, um dos planos é o de derrubar os “jardins murados” que tradicionalmente limitavam os jogadores a comprar jogos apenas nas lojas oficiais ligadas a cada console.

Enquanto o fanboy briga pelo hardware, a Microsoft já olha para outro prisma. A derrota na guerra de consoles está mais do que clara, mas o timão desse navio, até mesmo por uma obrigação na apresentação de resultados, já está em outra direção.

Quero encerrar esse artigo com o comentário de um dos nossos leitores que eu vi no post sobre a declaração do CEO da Microsoft em relação aos bons resultados, em vendas, de games do Xbox lançados para PlayStation:

“Que isso se torne o padrão da indústria e os jogos do PS também vá para outras plataformas, tem que parar com essa briga por “audiência”, queremos jogos divertidos para passar o tempo, é para isso que eles são feito e que o consumidor decida aonde ele quer jogar.

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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