A notícia que vou reportar agora é o típico caso do “feitiço virando contra o feiticeiro”. O YouTube Shorts, lançado em 2021, surgiu para concorrer com outras plataformas de vídeos curtos. O exemplo mais proeminente é o TikTok e também a função Reels, do Instagram. Ambas fazem muito sucesso com o público.
E deu certo. Bem, mais ou menos… Em fevereiro desse ano o YouTube Shorts já contava com mais de 50 bilhões de visualizações diárias. Mas acontece que os vídeos curtos do YouTube estão “canibalizando” os vídeos longos. E isso é um grande problema para o YouTube, já que a principal fonte de receitas da plataforma vem justamente dos vídeos longos.
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YouTube Shorts está provocando desinteresse por vídeos longos
A informação foi revelada pelo Financial Times. Fontes não identificadas disseram ao jornal que o Shorts está desviando os espectadores dos vídeos tradicionais, que têm sido o principal pilar financeiro da empresa por anos.
Discussões internas na companhia indicam que o formato convencional do YouTube estaria em declínio, enquanto os usuários estão se voltando para vídeos mais curtos, impulsionados pelo uso frequente de smartphones e pelo crescimento do concorrente TikTok.
Conforme o artigo, estatísticas internas apontam que os produtores de conteúdo estão cada vez mais relutantes em publicar vídeos de maior duração. Isso estaria ligado ao desinteresse do público em assistir a esses vídeos e às taxas de publicidade mais atrativas para vídeos mais curtos.
O esquema de monetização do YouTube repassa 45% dos lucros para os criadores que utilizam o Shorts e 55% para aqueles que fazem vídeos mais longos. Ou seja, como dá mais trabalho produzir um vídeo longo, muitas vezes é mais vantajoso investir no Shorts, já que a divisão dos lucros é praticamente a mesma. Além disso, o YouTube expandiu as alternativas para distribuir a receita publicitária aos produtores de conteúdo via Shorts em fevereiro deste ano.
Mas porquê o Shorts prejudica o YouTube?
Os vídeos de maior duração, considerados o formato “tradicional” no YouTube, representam a principal fonte de receitas para o Google. Comumente, ao iniciar um vídeo, você é exposto a dois anúncios, seguidos de um terceiro no meio e mais dois no final.
Cinco empresas pagaram por esses anúncios. Consequentemente, Google lucra e os dados indicam que as taxas de cliques nos anúncios são elevadas, levando os anunciantes a investirem mais vezes. Essa é a razão pela qual a companhia está empenhada em eliminar os bloqueadores de anúncios.
Aplicar essa estratégia em um vídeo de 10 minutos é simples. O desafio está em adaptar esse modelo de anúncios a um vídeo que tem, no máximo, um minuto de duração.
Considerando o cenário de cinco anúncios em um vídeo extenso, mesmo que todos possam ser ignorados, você acaba assistindo a 25 segundos de publicidade quando seu objetivo é ver um vídeo de, no máximo, 60 segundos. Naturalmente, é impraticável para o YouTube simplesmente “transplantar” seu modelo de anúncios para o formato Shorts.
Receitas com anúncios já estão diminuindo
E isso já está começando a afetar as receitas do Google. Em outubro de 2022, por exemplo, a plataforma registrou o primeiro trimestre de declínio em receitas publicitárias desde que começou a divulgar esses números separadamente em 2020.
Os dois trimestres subsequentes também mostraram retrações em relação ao ano de 2021, e apenas no segundo trimestre do ano corrente houve um aumento de 4,4% na receita. Mas essa melhora não durou muito tempo. No mais recente balanço financeiro, o Google revelou uma diminuição nas receitas advindas de publicidade.
Agora, o desafio da empresa é gerir diversas questões: a preferência do público por vídeos mais curtos, os criadores de conteúdo adotando esse formato e como monetizá-lo eficazmente. Uma baita dor de cabeça para os executivos e diretores da empresa resolverem.
Fonte: Financial Times
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