A transformação provocada pela inteligência artificial no mercado de trabalho brasileiro deixou de ser uma projeção futura — ela já está em curso. De acordo com o Barômetro Global de Empregos em IA 2025, elaborado pela PwC, o número de vagas que exigem competências em IA no Brasil saltou de 19 mil, em 2021, para 73 mil em 2024 — uma alta de 284% em apenas três anos.
O estudo, que analisou quase um bilhão de anúncios de emprego em seis continentes, revela ainda que os salários dessas posições cresceram duas vezes mais rápido em relação às funções que não utilizam a tecnologia. Para além da remuneração, as áreas mais expostas à IA registram um avanço três vezes maior na receita por funcionário, indicando que empresas que integram IA ao trabalho humano estão colhendo frutos significativos.
Empregos “aumentados” crescem mais que os “automatizados”
Segundo a PwC, há dois grandes grupos de ocupações impactadas pela IA: os empregos automatizados, em que tarefas inteiras podem ser delegadas à tecnologia, e os aumentados, nos quais a IA atua como apoio para que o profissional execute melhor sua função.
Ambas categorias registraram crescimento no número de vagas. Mas o ritmo é mais intenso entre os empregos “aumentados”, apontando uma tendência: a IA está sendo adotada como alavanca de produtividade, e não apenas como mecanismo de corte de custos.
Esse padrão também reflete nos bônus globais: a média subiu para 56% em 2024, contra 25% no ano anterior.
Agro brasileiro lidera adoção de IA no mundo
O agronegócio se destaca como o setor com maior avanço no uso da IA para alavancar o trabalho humano. No Brasil, a oferta de empregos “aumentados” no agro subiu mais de 600% desde 2021 — índice superior até mesmo ao crescimento global no setor.
Já as posições “automatizadas” no agro cresceram mais de 400%, puxadas por inovações como agricultura de precisão e sistemas inteligentes de gestão rural.
Atacado e Varejo apostam em IA para escalar
Outro setor em forte ascensão é o de Consumer Markets. O varejo e o atacado brasileiros ampliaram em 300% as vagas que demandam competências automatizadas em IA. A aceleração está ligada à expansão do e-commerce, à busca por eficiência logística e ao uso crescente de soluções automatizadas de atendimento.
IA eleva produtividade — mas exige nova mentalidade
Desde o “boom” da IA generativa em 2022, os setores mais expostos à tecnologia viram a produtividade quase quadruplicar, passando de 7% para 27% entre 2018 e 2024. No sentido oposto, setores como Mineração e Hotelaria — menos impactados pela IA — tiveram queda na taxa de crescimento da produtividade, de 10% para 9%.
“O uso da IA para potencializar pessoas está gerando mais valor do que sua simples adoção como ferramenta de corte”, afirma Camila Cinquetti, sócia da PwC Brasil. “Empresas que focam apenas em redução de headcount podem estar perdendo chances valiosas de inovar e expandir mercado.”
Diploma perde espaço — e as habilidades mudam rápido
A exigência de diploma formal caiu significativamente em empregos ligados à IA. Nos cargos “aumentados”, o número de vagas que pedem graduação caiu de 66% (em 2019) para 59% em 2024. Já nas funções “automatizadas”, a queda foi ainda maior: de 53% para 44%.
Mais do que certificados, o mercado busca agora habilidades técnicas em evolução constante. A pesquisa mostra que, nas ocupações mais expostas à IA, o perfil profissional desejado muda 66% mais rápido do que em áreas convencionais — mais que o dobro da taxa registrada no ano anterior.
Segundo Cinquetti, isso exige das empresas um esforço contínuo para identificar e desenvolver talentos. “A IA por si só não garante resultado. O diferencial está em capacitar as pessoas para atuar com confiança e adaptabilidade junto à tecnologia.”