Na semana passada a Unity anunciou que começaria a cobrar uma taxa para desenvolvedores dos jogos que rodassem em seu motor gráfico, que é muito utilizado na indústria de jogos, o que acabou gerando muita revolta.
Agora, a empresa está ensaiando recuar nessa taxa, porém sem muitas promessas concretas já que nenhum plano novo foi confirmado oficialmente. Não se sabe se vai baixar o valor da taxa ou desistir dela ainda.
Leia também:
Games: qual a diferença entre motor de jogo e motor gráfico?
Startup brasileira oferece curso gratuito de ChatGPT voltado para desenvolvedores
O anúncio da taxa para desenvolvedores
Na semana passada a Unity anunciou uma nova política de taxas em relação aos desenvolvedores que utilizam seu moto gráfico para rodar seus jogos. Em uma postagem no blog, eles disseram que:
“Estamos introduzindo uma Unity Runtime Fee baseada em cada vez que um jogo qualificado é baixado por um usuário final. Escolhemos isso porque cada vez que um jogo é baixado, o Unity Runtime também é instalado.”
Ou seja, na prática, o desenvolvedor teria que pagar uma taxa cada vez que um jogo rodando com o motor gráfico da Unity fosse instalado em uma máquina. Isso só valeria para a primeira instalação naquela máquina, mas ainda assim acabou gerando uma reviravolta.
Essa taxa seria cobrada depois que os jogos ultrapassem o limite mínimo de receita dos últimos 12 meses, e o valor iria varia a depender do plano usado. Os desenvolvedores que fizessem parte do Unity Personal e do Unity Plus pagariam US$ 0,20 para cada instalação dos jogos que atingissem US$ 200.000 em receita nos últimos 12 meses, com 200.000 instalações vitalícias.
No caso do Unity Pro seria para os jogos que ultrapassagem a receita de US$ 1 milhão no último ano com taxa de US$ 0,15, enquanto o Unity Enterprise seria de US$ 0,125 por instalação.
Essa nova política de taxas começaria a valer a partir de 1 de janeiro de 2024.
Desenvolvedores se revoltam e Unity recebe ameaças
Obviamente a notícia não foi bem recebida pelos desenvolvedores, principalmente para aqueles que já contam com jogos rodando o motor gráfico da Unity e que já estão desenvolvendo seus jogos. Um deles foi Tomas Sala, desenvolvedor do Falconeer, que revelou como essa mudança seria abusiva.
What I also dislike also about this @unity debacle.
I already committed to their engine for my new game. Put years and years of work into my pipeline. I did so under a simple per seat license I am happy to pay.
Now while I am close to release they spring something new on me.…
— Tomas Sala (@FalconeerDev) September 12, 2023
“Já me comprometi com o motor [do Unity] para meu novo jogo. Coloquei anos e anos de trabalho em meu pipeline. Fiz isso com uma licença simples por assento que terei prazer em pagar. Agora, enquanto estou perto do lançamento, eles lançam algo novo para mim. Não é um aumento de preços, mas uma mudança fundamental na forma como fazemos negócios juntos. Não tenho opções, não posso voltar atrás, só posso me curvar e [pagar]. É [uma] forma de chantagem. Não é confiável. Como eles vão mudar isso daqui a dois anos, uma década? É nojento e me faz querer ir para outro lugar com meu negócio.”
O desenvolvedor de Slay the Spire, Mega Crit Games, fizeram um anúncio de que iriam mover seus jogos que já vinham sendo construídos no Unity há vários anos para outro motor caso essa taxa fosse mesmo cobrada.
Porém a empresa acabou recebendo ameaças que iam além de postagens em redes sociais. Ainda na semana passada, a Unity fechou temporariamente os escritórios em São Francisco e Austin, no Texas, e até cancelou reuniões depois de receber ameaças de morte.
Um porta-voz da empresa revelou ao engadget que:
“Hoje, fomos informados de uma ameaça potencial a alguns dos nossos escritórios. Tomamos medidas imediatas e proativas para garantir a segurança dos nossos funcionários, que é a nossa principal prioridade. Estamos fechando nossos escritórios hoje e amanhã, que poderiam ser alvos potenciais desta ameaça, e estamos cooperando totalmente com as autoridades policiais na investigação”.
Empresa resolve voltar atrás e promete mudanças
Após toda essa repercussão negativa, a Unity parece que decidiu recuar nessa taxa e prometeu uma mudança na política de cobrança de taxa para os desenvolvedores. Em publicação no X (antigo Twitter), eles disseram que:
We have heard you. We apologize for the confusion and angst the runtime fee policy we announced on Tuesday caused. We are listening, talking to our team members, community, customers, and partners, and will be making changes to the policy. We will share an update in a couple of…
— Unity (@unity) September 17, 2023
“Nós ouvimos você. Pedimos desculpas pela confusão e angústia causada pela política de taxas de tempo de execução que anunciamos na terça-feira. Estamos ouvindo, conversando com os membros da nossa equipe, comunidade, clientes e parceiros, e faremos alterações na política. Compartilharemos uma atualização em alguns dias. Obrigado pelo seu feedback honesto e crítico.”
Com isso, ainda não dá para saber exatamente quais mudanças vêm por aí. A empresa ainda tem alguns caminhos a se tomar como aumentar o limite mínimo da receita para cobrar a taxa, ou diminuir o valor da taxa, ou só começar a cobrar para jogos que comecem a ser desenvolvidos a partir de uma determinada data no presente ou futuro, entre outras coisas.
Essa cobrança de taxa para os desenvolvedores surge como uma das tentativas da empresa de se recuperar de um período difícil nos últimos anos. Uma mudança de privacidade da Apple acabou diminuindo muito a receita publicitária da empresa e no ano passados as ações da empresa caíram muito. Isso acabou gerando demissões que afetaram 8% das pessoas, um total de 600 funcionários.
Isso também tem a ver com o CEO John Riccitiello, que vem somando algumas controvérsias em sua fala, como por exemplo quando ele disse que criadores de jogos que não monetizam são “idiotas”.
Agora só resta esperar para saber quais mudanças serão essas e se vão beneficiar os desenvolvedores. Um deles pediu para que a empresa seja honesta, direta e confiável, já que eles precisam de estabilidade.
Deixe seu comentário