Atualmente as discussões acerca do avanço na área de Inteligência Artificial (IA) estão bem acaloradas. De um lado, pessoas que acreditam que essa tecnologia pode ser um problema para a sociedade no futuro e até mesmo perigosa, e do outro pessoas que acreditam que isso não está nem perto de ser uma realidade e que as IAs são inofensivas.
Quem faz parte desse último grupo e falou sobre isso durante uma entrevista para a CNBC foi Yann LeCun, que é atualmente cientista chefe de IA da Meta e um dos pioneiros da área. Segundo ele, é ridículo temer a tecnologia e que sua inteligência não chega nem ao nível da dos cachorros.
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Padrinho da Inteligência Artificial diz que não há o que temer
Yann LeCun é um nome conhecido na área, tendo vencido em 2018 o prêmio Turing Awards ao lado de Geoffrey Hinton e Yoshua Bengio por causa do trabalho relacionado a avanços na IA. Desde então, os três ficaram conhecido como os padrinhos da IA.
Geoffrey Hinton foi destaque nas notícias há poucos dias quando deixou o Google e revelou temer o rumo do desenvolvimento da tecnologia atualmente, deixando claro que faz parte do grupo de pessoas que acha que ela pode ser perigosa no futuro. Se quiser saber mais sobre a visão de Hinton, clica aqui e confere a matéria.
Agora foi a vez de Yann LeCun falar um pouco sobre o assunto e sua visão é bem mais otimista do que a do colega.
Assim que o ChatGPT foi lançado, LeCun deixou bem clara sua opinião de que ela não seria tão revolucionária quanto muitos acreditavam. E ele mantém esse ponto de vista, deixando isso muito claro durante uma entrevista feita à CNBC.
Segundo ele, esse tipo de inteligência não chega nem perto da humana e pode ser equiparada com a de um cachorro, não sendo mais esperta do que o animal. Isso porque esses sistemas são treinados apenas com dados de linguagem.
“Esses sistemas ainda são muito limitados, eles não têm nenhuma compreensão da realidade subjacente do mundo real, porque são puramente treinados em texto, uma enorme quantidade de texto”
LeCun afirmou que a maior parte do conhecimento humano e da inteligência humana parte de coisas que vão além da linguagem, o eu significa que grande parte dessa experiência humana não pode ser entendida e captada por uma IA.
Em comparação, ele diz que um sistema de IA pode ser inteligente o suficiente para ser aprovado em um exame da Ordem dos Advogados nos EUA, porém ele não consegue organizar pratos em uma máquina de lavar louças, algo que uma criança de 10 anos faz sem problemas.
“O que isso diz é que estamos perdendo algo realmente grande… para alcançar não apenas a inteligência de nível humano, mas até mesmo a inteligência canina”
Em outra comparação ele diz que um bebê de 5 meses veria um objeto flutuando no ar e não daria muita importância para isso. Porém um bebê de 9 meses ficaria surpreso porque ele perceberia que o objeto não deveria estar flutuando.
Um cachorro também perceberia se um objeto estivesse se comportando de uma forma diferente do que o normal e daria atenção a esse tipo de interação. LeCun afirmou que ainda não é possível reproduzir esse tipo de capacidade com máquinas atualmente.
“Até que possamos fazer isso, não teremos inteligência de nível humano, não teremos nível de cão ou nível de gato [inteligência]”
Ele revelou que está trabalhando com a Meta em um treinamento para IA em vídeo, não apenas no idioma, e que isso é uma tarefa mais difícil de ser feita.
Os robôs com IA vão dominar o mundo?
O ChatGPT é uma IA generativa desenvolvida pela OpenAI que vem dando o que falar. O sistema foi treinado a partir de uma grande quantidade de dados e idiomas, e por isso os usuários podem fazer perguntas ou digitar prompts de comandos que logo são atendidos pelo chatbot.
Isso mostra o quão acelerado está o desenvolvimento na área de IA e acabou chamando a atenção de muitas pessoas, até mesmo de alguns tecnólogos que acabaram expressando preocupações quanto a isso. De acordo com eles, se a IA não for controlada, ela pode ser um perigo para a sociedade.
Elon Musk, CEO da Tesla, disse que a IA é “um dos maiores riscos para o futuro da civilização”. Nessa semana, na conferência Viva Tech, um teórico econômico e social francês chamado Jacques Attali, disse que a IA pode ser algo bom ou ruim, dependendo de como ela for usada.
“Se você usar IA para desenvolver mais combustíveis fósseis, será terrível. Se você usar IA [para] desenvolver armas mais terríveis, será terrível. Pelo contrário, a IA pode ser incrível para a saúde, incrível para a educação, incrível para a cultura.”
Ele revelou ainda que a humanidade vai enfrentar muitos perigos nas próximas 3 ou 4 décadas, apontando fatos como desastres climáticos, guerra e a possibilidade dos “robôs se voltarem contra nós”.
Durante esse mesmo evento, LeCun respondeu perguntas sobre o tema e disse que sim, no futuro pode existir máquinas que serão tão inteligentes quanto os humanos, mas que elas não devem ser temidas ou vistas como um perigo.
“Não devemos ver isso como uma ameaça, devemos ver isso como algo muito benéfico. Cada um de nós terá um assistente de IA… será como uma equipe para ajudá-lo em sua vida diária que é mais inteligente do que você”
Segundo ele, esses sistemas já seriam criados como “controláveis e basicamente subservientes aos humanos”, rejeitando assim essa ideia de que os robôs poderiam controlar o mundo.
“Um medo popularizado pelas ficções científicas [é] que, se os robôs forem mais inteligentes do que nós, eles vão querer dominar o mundo… não há correlação entre ser inteligente e querer dominar”
Sobre o assunto de criar barreiras para o desenvolvimento da tecnologia, o cientista chefe da Meta questionou quem vai ser o responsável por criar e colocar as fronteiras. A regulamentação de IA é um tópico bem discutido durante a Viva Tech.
Fonte: CNBC
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