Confirmando os rumores, a Intel oficializou que o governo americano adquiriu cerca de 9,9% de participação na companhia, em um investimento de US$ 8,9 bilhões. A ação marca uma guinada estratégica na política industrial americana de chips. =
Como o acordo foi estruturado
Segundo comunicado oficial, a compra será feita a US$ 20,47 por ação, um valor abaixo do mercado — na última sexta-feira (22), os papéis da Intel fecharam em US$ 24,80, após alta de 5,53%. No total, serão adquiridas 433,3 milhões de ações.
O investimento vem de duas frentes:
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US$ 5,7 bilhões de repasses ainda pendentes do CHIPS and Science Act;
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US$ 3,2 bilhões destinados ao programa Secure Enclave, ligado ao Departamento de Defesa.
Vale lembrar que a Intel já havia recebido US$ 2,2 bilhões do fundo do CHIPS Act, criado para estimular a produção doméstica de semicondutores.
O que muda para a Intel
Apesar do peso financeiro, o governo não terá assento no conselho da empresa. Pelo acordo, seu direito de voto seguirá alinhado às decisões da diretoria, salvo em raras exceções. Na prática, o aporte garante estabilidade à Intel sem interferir diretamente na gestão.
Para o CEO Lip-Bu Tan, o investimento sinaliza confiança:
“A Intel é a única fabricante que ainda realiza pesquisa, desenvolvimento e produção de chips de ponta em solo americano. Esse compromisso é vital para a segurança econômica e nacional dos EUA.”
Trump e a pressão sobre chips
O anúncio foi antecipado pelo presidente Donald Trump, que destacou o papel da Intel como peça central na corrida tecnológica contra a China. O republicano chegou a pressionar a saída do executivo-chefe em razão de antigas ligações com fabricantes chinesas, mas agora reforça a parceria.
Já o secretário de Comércio, Howard Lutnick, afirmou que a decisão está ligada à estratégia de garantir soberania em áreas críticas como inteligência artificial e defesa. Curiosamente, Lutnick chegou a antecipar o acordo no X, antes mesmo da nota oficial.
O contraste com a era Biden
Durante o governo Biden, a Intel havia sido prometida US$ 10,9 bilhões em subsídios, condicionados a metas como a expansão de fábricas (incluindo uma megaplanta em Ohio) e o avanço em nós de litografia. Com o novo acordo, essas exigências foram suavizadas, eliminando cláusulas de “claw-back” (devolução de recursos) e de profit-sharing (divisão de lucros).
Curiosamente, o mesmo modelo não será aplicado a outras companhias que receberam apoio do CHIPS Act, como TSMC e Micron. Fontes do Wall Street Journal indicam que o governo Trump não pretende buscar participações acionárias nessas empresas.
Reforço de caixa e SoftBank na jogada
Além do governo, a Intel também recebeu um aporte de US$ 2 bilhões do SoftBank, que comprou ações a US$ 23 cada. O movimento mostra a busca por liquidez e reforça a posição da empresa num mercado cada vez mais competitivo, especialmente diante da ascensão da TSMC, da Samsung e de novos players na corrida global dos chip