A Fundação Mozilla, famosa pela criação do navegador Firefox, publicou recentemente um estudo que examina a forma como os fabricantes de carros lidam com informações pessoais.
O relatório revela deficiências significativas na segurança de dados dos consumidores por parte dessas empresas. A análise abrangeu as práticas de privacidade de 25 fabricantes de veículos. E os dados são realmente preocupantes.
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Pelo menos 4 falhas críticas de segurança
Em seu website oficial, a Fundação Mozilla ressalta quatro áreas críticas onde as empresas do setor automobilístico falham em garantir a privacidade dos dados de seus clientes. São elas:
- Todas elas coletam dados pessoais demais;
- 84% das empresas compartilham ou vendem seus dados pessoais;
- 92% das empresas dão pouco controle aos usuários sobre seus próprios dados;
- Não foi possível confirmar se as empresas seguem os padrões mínimos de segurança.
Todas essas informações pessoais são coletadas, por exemplo, por meio de sensores nos carros e aplicativos na interface de controle. Renault e Dacia receberam as notas “menos ruins”. Ambas fazem parte do mesmo conglomerado.
O estudo sugere que a “melhor gestão” de dados por parte do Grupo Renault pode ser atribuída ao fato de que os carros avaliados são comercializados exclusivamente na Europa. Isso os obriga a cumprir o rigoroso Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês), uma lei da União Europeia voltada para a privacidade do consumidor.
Fabricantes de carros coletam dados demais e “desnecessários”
Vamos falar um pouco sobre o primeiro problema identificado pela Mozilla, ou seja, a coleta excessiva de dados por todas as montadoras. E o termo “excessiva” não é hiperbólico: tanto a Nissan quanto a Kia coletam dados relacionados à vida sexual dos usuários.
Será que os carros dessas marcas “espionam” o que você anda fazendo no banco traseiro? Não, não é nada disso. Acontece que ao instalar o aplicativo da montadora ou sincronizar seu smartphone com o sistema do carro, há uma chance de o software da empresa acessar informações de outros aplicativos em seu telefone ou adquiri-las de terceiros. É uma prática semelhante à da Amazon, que usa seus dados para direcionar anúncios.
Mas por que a Nissan estaria interessada em suas compras de preservativos, por exemplo? Pelo mesmo motivo que outras montadoras e empresas desejam seus dados: para criar um perfil de consumidor e monetizar isso. No caso do Grupo Renault, os usuários têm a opção de apagar seus dados, razão pela qual suas marcas foram “melhor avaliadas” pela Fundação Mozilla. No entanto, são apenas duas das 25 marcas analisadas.
76% das empresas admitem vender os dados pessoais dos clientes
O estudo revela também que 84% das montadoras podem comercializar ou compartilhar informações de clientes com prestadores de serviços, bancos de dados ou outras empresas. Além disso, 76% admitem que podem vender esses dados e 56% podem compartilhá-los com entidades governamentais ou forças de segurança sem a necessidade de ordem judicial.
A investigação da Mozilla conclui que é incerto se as montadoras estão cumprindo os padrões mínimos de segurança de dados. A organização de tecnologia não conseguiu determinar se essas informações são de alguma forma criptografadas.
A Fundação Mozilla tentou entrar em contato com as empresas envolvidas, mas apenas Ford, Honda e Mercedes-Benz responderam, sem fornecer detalhes claros sobre como protegem os dados sensíveis de seus clientes.
É aquela velha história: não existe almoço grátis. Sem dúvida, é muito bom termos carros cada vez mais tecnológicos. Mas isso pode acabar custando os seus dados pessoais.
Fonte: Mozilla Foundation
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