No começo do mês passado nós publicamos aqui no Hardware uma matéria falando sobre um rumor de que a Meta pode retirar os anúncios de suas redes sociais mediante o pagamento de uma mensalidade. Pois bem, a empresa está mesmo ponderando a criação de um serviço de assinatura para eliminar a publicidade de suas plataformas sociais.
Segundo o Wall Street Journal, o projeto da empresa de Mark Zuckerberg poderia ter um custo mensal variando de US$ 14 (~R$ 71) a US$ 17 (~R$ 87) para retirar os anúncios. O conceito é similar ao do YouTube Premium.
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Ideia de pagar para usar o Facebook e Instagram é bem controversa
Embora seja interessante a ideia de usar o Facebook e Instagram sem anúncios, a medida da Meta é também controversa. O motivo para isso é por que ela transfere para os usuários a responsabilidade de cumprir com as normas da GDPR, a regulamentação da União Europeia sobre a privacidade de dados online. O objetivo da Meta é encontrar uma lacuna na GDPR que permita a continuação da veiculação de anúncios direcionados.
Com essa opção de usar as redes sociais sem anúncios, a Meta busca estar em conformidade com as diretrizes da GDPR, argumentando que oferece aos usuários a escolha de recusar o rastreamento de dados para publicidade direcionada. No entanto, essa leitura da GDPR, já adotada por alguns meios de comunicação, é questionada por entidades de defesa da privacidade.
É provável que, se a Meta realmente avançar com essa proposta, a interpretação da GDPR seja levada ao Tribunal de Justiça da União Europeia. Mas será que a Meta vai realmente tornar o Facebook e o Instagram em serviços pagos? Esse seria um cenário bem atípico.
Pensando do ponto de vista racional, quem, em sã consciência, pagaria para visualizar um post do “Luva de Pedreiro”, os stories das blogueiras ou os stories de um amigo em uma festa com áudio distorcido? Além disso, deve-se lembrar que o conteúdo é gerado por terceiros, sem investimento nenhum da Meta. Qual o sentido de cobrar por um conteúdo gerado gratuitamente pelos usuários?
O direito à privacidade tem um preço?
Um dos grupos mais proeminentes contra essas práticas, o noyb, compara o modelo “pague ou aceite” da Meta com o adotado por veículos de notícias. Para essas empresas, o método serve como uma forma de compensar a perda de receita publicitária que foi desviada para, ironicamente, as redes sociais.
No entanto, é importante salientar que no caso de veículos de comunicação, como jornais e revistas, a assinatura serve como uma maneira de financiar a produção de conteúdo. Já nas plataformas da Meta os usuários postam sem receber pagamento algum da empresa.
A Meta hesita em oferecer aos usuários a opção de desativar o rastreamento por uma razão clara: sem isso, os anúncios direcionados não podem ser veiculados. Se a empresa realmente lançar a opção “pague ou aceite”, uma batalha judicial intrigante está à vista: o direito fundamental à privacidade tem um preço?
O que é a GDPR?
O Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês), é um conjunto rigoroso de regras sobre privacidade que entrou em vigor na União Europeia por volta de 2018.
O GDPR foi criado para proteger os dados e a identidade dos cidadãos da União Europeia, exigindo que todas as empresas e organizações sigam regras estritas para coletar, processar, compartilhar e proteger dados pessoais.
Entre as principais obrigações estão permitir que o usuário escolha como seus dados serão tratados, informar quais dados estão sendo coletados e para quais finalidades, e permitir que o usuário solicite a exclusão de informações pessoais ou interrompa a coleta de dados. O regulamento também tem impacto global, afetando empresas fora da União Europeia que oferecem serviços aos cidadãos do bloco, como é o caso da Meta.
Fontes: The Wall Street Journal, The Verge e TechCrunch
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