Em um cenário onde interferências e fraudes no sinal de GPS colocam em risco tanto voos comerciais quanto operações militares, uma nova tecnologia baseada no campo magnético da Terra começa a ganhar destaque.
Desenvolvida pela Airbus em parceria com a SandboxAQ, a solução chamada MagNav utiliza sensores quânticos para mapear a posição de aeronaves de forma absolutamente autônoma, precisa e à prova de hackers.
Navegação aérea sob ameaça: o problema com o GPS
A popularização da navegação via satélite revolucionou o transporte aéreo. Mas também trouxe novos riscos. Com o aumento dos casos de “jamming” (bloqueio de sinal) e “spoofing” (falsificação de coordenadas), o GPS passou a ser um alvo estratégico — e vulnerável.
Em zonas de conflito e regiões sensíveis, milhares de voos já foram afetados por interferências intencionais, comprometendo a segurança e a confiabilidade da aviação civil. A urgência por alternativas mais robustas deixou de ser teoria e se tornou uma necessidade real.
MagNav: sensores quânticos em vez de satélites
A resposta da Airbus veio de forma inesperada: usar o próprio campo magnético da Terra como referência para navegação.
A tecnologia, batizada de MagNav, emprega sensores quânticos de altíssima sensibilidade para captar as variações magnéticas únicas de cada região do planeta. Cada pedaço de terreno possui uma “assinatura magnética” própria — e é justamente essa leitura que permite determinar a posição do avião com precisão surpreendente.
Esses dados são processados por uma IA embarcada, que compara as informações coletadas com mapas magnéticos ultra detalhados. O resultado: uma navegação totalmente independente de satélites, funcionando de forma interna e autossuficiente no avião.
Precisão além das expectativas — e sem risco de hacking
Durante os mais de 150 horas de testes em voo realizados nos EUA, o MagNav apresentou desempenho impressionante. Em muitos casos, sua precisão superou os padrões exigidos pela FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA), atingindo margens de erro inferiores a 550 metros — mesmo sem auxílio de GPS ou sistemas inerciais externos.
O segredo? A tecnologia quântica.
O sistema funciona ao disparar um pulso de laser que excita elétrons, produzindo uma resposta energética que revela a intensidade do campo magnético local. Essa resposta é única para cada ponto da superfície terrestre, tornando a navegação virtualmente à prova de interferência externa ou falsificação.
Segundo a SandboxAQ, empresa responsável pelos sensores e pela IA do projeto, trata-se do primeiro sistema de navegação absoluto totalmente novo em mais de 50 anos.
Muito além da aviação: aplicações futuras
Embora a prioridade atual seja a segurança aérea, os usos potenciais dessa tecnologia são amplos e impactantes.
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Na defesa nacional, sensores quânticos podem detectar submarinos, túneis ou estruturas ocultas, aproveitando distúrbios magnéticos no solo ou na água.
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Na medicina, a mesma tecnologia pode ser adaptada para captar sinais magnéticos extremamente sutis do cérebro ou do coração, oferecendo novos caminhos para diagnósticos não invasivos.
Segundo Joe Depa, diretor global de inovação da EY (Ernst & Young), não se trata de uma previsão para daqui a 20 anos. “Essa tecnologia já está entre nós”, afirma.
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