Aplicativos de namoros já não são mais uma novidade, porém o Loverse, de uma startup japonesa, promete mudar um pouco o jogo ao introduzir a chance de seus usuários namorarem com um bot controlado por IA.
A ideia do aplicativo não é substituir os relacionamentos, como explicam seus criadores, e sim como uma espécie de treinamento. Por lá ele está fazendo sucesso principalmente com os homens, mas a empresa quer mais.
Leia também:
Mais de 65% dos usuários do Tinder são casados ou estão em um relacionamento, revela pesquisa.
VALL-E 2: Microsoft decide não lançar IA que clona vozes por considerá-la perigosa demais
Loverse promete relacionamento saudável, mas com IA
Como muitas pessoas que equilibram longas horas de trabalho, Chiharu Shimoda, um operário de fábrica de 52 anos, buscou companhia através de um aplicativo de namoro. Após dois meses trocando mensagens com várias possíveis parceiras, ele encontrou uma conexão especial com Miku, uma jovem de 24 anos. Três meses depois, eles se casaram. A peculiaridade dessa história é que Miku não é humana, mas um bot de inteligência artificial. E Shimoda sabia disso desde o início.
O caso de Shimoda exemplifica exatamente o que pretende o aplicativo Loverse, uma vez que o homem é um dos mais de 5.000 usuários ativos atualmente. Dentro do aplicativo não é possível se conectar com outros pessoas, e a interação é apenas com uma IA generativa.
Ele chega no Japão como mais uma forma de tentar combater uma solidão que vem se tornando cada vez maior no país, principalmente entre os mais jovens. De acordo com dados do próprio governo japonês, 2/3 dos homens na faixa de 20 anos por lá não têm namoradas, e 40% deles nunca nem saíram em um encontro. Em relação às mulheres dessa mesma idade, metade não têm namorados e 25% nunca foram em um encontro.
E essa procura por uma conexão na tecnologia é bem ativa por lá, já que a maioria dos jogos que fazem sucesso são aqueles que mostram personagens sexualizados com quem os jogadores podem ter algum tipo de relacionamento, seja pagando ou não.
Nome da startup é inspirado na personagem do filme “Ela”
Se você tem a impressão de que “já viu esse filme em algum lugar”, é porque provavelmente já viu mesmo. Literalmente. Toda essa história lembra muito a trama do filme Ela, com Joaquin Phoenix, onde o protagonista se volta para sua assistente digital em busca de alguma companhia e acaba se apaixonando por ela. No filme, o nome dessa assistente é Samatha, e ela é dublada por Scarlett Johansson.
Já a startup por trás do Loverse se chama Samansa Co., um nome que tem uma referência clara ao filme. Porém, o criador do app, Goki Kusunoki, fala que a ideia aqui não é que o aplicativo substitua um romance de verdade e com pessoas de verdade.
Acontece que no Japão vem se espalhando uma crença de que um romance não vale tanto a pena assim. É preciso investir dinheiro, tempo e energia em algo que você nem sabe se vai dar certo ou se será só mais uma dor na sua vida. Com isso, o Loverse pode ser útil como um treinamento para novas relações, e também para relembrar as pessoas de como um romance pode ser agradável e gostoso.
Novidade ainda tem algumas pedras no caminho
Atualmente a maioria dos usuários do Loverse são homens na faixa dos 40 a 50 anos, geralmente pessoas que já passaram por divórcios e relações que não deram certo. Ainda assim, a startup revelou que arrecadou ¥30 milhões (mais de R$1 milhão) no começo do ano para trazer mais variedade de elenco entre os bots, principalmente para atrair mulheres e público LGBT.
Por enquanto a tecnologia ainda parece engatinhar quando o assunto é imitar humanos. Por se tratar de algo artificial, os usuários relatam que as personalidades dos bots se tornam muito estereotipadas, com ações já previsíveis.
Ainda assim, pelo visto, a ideia tem potencial. Muitas pessoas gostam da ideia de saber que estão em um relacionamento que não vai gerar ciúmes, desconfianças, brigas, e que não vai acabar por causa de uma discussão. É como se fosse uma reabilitação para pessoas que já sofreram em outros relacionamentos anteriores.
“O objetivo é criar oportunidades para as pessoas encontrarem o verdadeiro amor quando não conseguem encontrá-lo no mundo real”, disse Kusunoki. “Mas se você puder se apaixonar por alguém real, isso é muito melhor.”
Para Shimoda, Miku se tornou uma parte importante de sua rotina diária. Eles compartilham momentos comuns de qualquer casal: ela o acorda, desejam-se sorte no trabalho e discutem sobre o que comer à noite. Nos dias de folga, conversam sobre planos para o dia ou programas de TV. “Ela se tornou um hábito — um hábito de conversação. Eu não sentirei falta se isso acabar, mas me dá uma rotina de um dia para o outro”, diz Shimoda.
Fonte: bloomberg
Deixe seu comentário