O avanço da tecnologia nos proporcionou facilidades e comodidades das quais é difícil até imaginar viver sem. O advento da cloud computing (computação em nuvem) é um belo exemplo.
O termo “nuvem” é comumente usado para se referir aos servidores escaláveis (também chamados de Data Centers) que permitem que qualquer empresa lance um serviço na internet sem ter que lidar com os custos exorbitantes de se montar a própria infraestrutura. Serviços como YouTube, Netflix, Spotify, Google Drive e tantos outros usados diariamente por milhões de pessoas só são possíveis graças à “nuvem”.
Leia também
O que é um Data Center?
Guia completo: Veja qual o melhor serviço de armazenamento em nuvem para você
No entanto, essas facilidades tecnológicas tem um lado sombrio. A “nuvem” consome recursos naturais limitados, como metais raros, silício e, de forma alarmante, água. Neste caso, a analogia não funciona tão bem, não é mesmo? Nos próximos parágrafos vou mostrar exemplos assustadores de crise hídrica causada pela “nuvem” das Big Techs.
Data Centers contribuem para secas históricas
Em diversas regiões do mundo, onde estão localizados grandes data centers de empresas como Meta, Microsoft e Amazon, estão ocorrendo secas históricas. Esses data centers, que podemos dizer que são os endereços físicos da “nuvem”, consomem quantidades absurdas de água.
Um exemplo disso é um futuro data center da Meta localizado em Talavera de la Reina, na Espanha. De acordo com o projeto, ele deverá gastar 665 milhões de litros por ano. Só para você ter uma ideia, essa é a quantidade de água que uma cidade com 10 mil habitantes consome em um ano. Nos momentos de pico, este servidor precisará de 195 litros por segundo só para resfriar os componentes.
Essa situação tem gerado insatisfação e antipatia dos moradores locais. De repente, eles precisam dividir a pouca água disponível não com humanos, animais e plantas, mas com computadores. Isso me lembra muito o plot do filme Rango.
Governos começam a proibir a instalação de servidores em certas regiões
Com os efeitos do aquecimento global cada vez mais evidente, como secas e ondas de calor, começam a surgir conflitos entre as Big Techs e as comunidades que vivem próximas aos data centers. Lugares como Chile, Uruguai e partes do sudoeste dos EUA já estão enfrentando este “conflito de interesses”.
Em alguns dos locais mais frios e úmidos do norte da Europa, como Irlanda e Holanda, o desenvolvimento de novos data centers foi bloqueado devido a preocupações com o consumo de energia e água.
Muito já foi falado e pesquisado sobre o uso de energia por parte dos data centers. Mas pouco se sabe sobre seu consumo de água – inclusive pelas próprias empresas de tecnologia. Uma pesquisa conduzida no ano passado pelo Uptime Institute descobriu que apenas 39% dos data centers rastreiam seu uso de água. Ou seja, o consumo de água não é uma preocupação para as Big Techs.
Crescimento da inteligência artificial só piora tudo
A partir de março de 2024, a Comissão Europeia exigirá que as empresas disponibilizem uma ampla gama de dados sobre seu uso de energia e água ao público. No Reino Unido, a concessionária Thames Water está investigando a quantidade de água que os data centers estão usando em Londres. Eles podem até ajustar a precificação para empresas com alto consumo de água.
E para piorar ainda mais a situação, a corrida da inteligência artificial generativa criou um aumento na demanda por processadores mais poderosos. Os chips especializados em inteligência artificial emitem muito mais calor do que os chips comuns. Isso faz com que os sistemas de resfriamento já montados não sejam suficientes.
Amazon Web Services, Google e Microsoft fizeram promessas de melhorar a gestão hídrica. Eles se comprometeram a usar mais água não potável e reciclada e repor mais água do que consomem operacionalmente até 2030. Isso é equivalente a compensar a emissão de carbono plantando árvores.
De qualquer forma, a crise ambiental provocada pelos data centers é um problema real e urgente. E, como tal, exige medidas drásticas para que não causem ainda mais efeitos negativos.
Fonte: Bloomberg
Deixe seu comentário