Sobre o caso Microsoft x Yahoo

Nas últimas semanas, temos visto uma série de notícias sobre a possível aquisição do Yahoo pela Microsoft. A Microsoft ofereceu nada menos do que US$ 44.6 bilhões pelo Yahoo, uma proposta bem acima do valor de mercado da empresa, que é estimado em pouco mais de US$ 30 bilhões. Apesar disso, a proposta foi recusada pela diretoria do Yahoo que (provavelmente esperando que a Microsoft aumentasse a proposta) alegou que o valor era insuficiente.

Agora, no mais novo capítulo da novela, Steve Ballmer, em sua atitude hostil habitual, ameaçou iniciar uma tomada hostil caso a proposta não seja aceita em 3 semanas. Uma “tomada hostil” consiste em levar a proposta diretamente aos acionistas da empresa, convencendo-os de que a proposta é financeiramente vantajosa. Como são os acionistas que elegem a diretoria, a partir do momento em que os acionistas estão convencidos, é possível fazer com que a diretoria atual seja substituída por outra, favorável à aquisição. Este é um processo relativamente demorado que fica no limite do que pode ser considerado legal e pode prejudicar a (já muito ruim) imagem da Microsoft como empresa.

monkey

O motivo de tanto desespero é bastante simples. Com a popularização da web e o crescimento do uso de webapps e do mercado de publicidade via web de uma forma geral, os sistemas operacionais e aplicativos como o Office estão se tornando menos relevantes a cada ano. Cada vez mais pessoas usam apenas o navegador e mais um conjunto de aplicativos básicos, de forma que o sistema operacional deixa de ser importante.

Percebendo que não pode continuar contanto com as vendas do Windows e do Office como principal fonte de recursos, a Microsoft decidiu investir no ramo de serviços e publicidade online. Como conquistar um grande volume de usuários é um processo demorado, decidiram fazer um atalho, comprando o Yahoo e absorvendo sua equipe e sua base de usuários.

A aquisição do Yahoo por parte da Microsoft lembra um pouco a aquisição da ATI pela AMD. Na época, AMD considerou comprar a nVidia, mas, depois de fazer as contas, perceberam que a compra seria inviável, pois o valor de mercado da nVidia era bem maior do que o valor que tinham disponível. Partiram então para a segunda opção, que foi a compra da ATI, que possuía um valor de mercado muito menor. Da mesma forma, o que a Microsoft gostaria mesmo seria poder comprar o Google, que é atualmente o número 1 no ramo de pesquisas e anúncios online. Como o Google é grande demais para ser comprado pela Microsoft, partiram para a segunda opção, que é a compra do Yahoo.

É difícil prever o resultado de fusões como esta, mas me parece óbvio que a Microsoft perderá dinheiro. Embora o Yahoo tenha uma grande base de usuários nos EUA, ele é relativamente pouco usado no restante do mundo. Pelas estatísticas do Alexa (que não são lá muito confiáveis, mas são o melhor que temos) você pode ver que a maior parte dos usuários utilizam o mail.yahoo, enquanto apenas 14% utilizam o mecanismo de busca propriamente dito. O Yahoo só não está pior do que o próprio MSN, que apesar de ser a página default do Internet Explorer em todas as instalações do Windows, é ainda menos usado. Para ter uma idéia, o msn.com.br é o 97° site mais visitado do Brasil segundo o Alexa, enquanto o Guia do Hardware é o 109°. Ou seja, por pouco não perdem para nós, que somos um site especializado :).

Mesmo que a Microsoft consiga manter toda a base de usuários atual do Yahoo, continuarão ocupando um distante segundo lugar, atrás do Google, e terão que correr atrás do prejuízo de qualquer forma. A curto prazo, nada mudará, com a diferença de que a Microsoft terá US$ 44.6 bi a menos em caixa (que corresponde a quase 1/6 do valor total da empresa) e terão o trabalho de digerir uma empresa de cultura bastante diferente, comprada à força.

Postado por
Siga em:
Compartilhe
Deixe seu comentário
Img de rastreio
Localize algo no site!