Como diria John Steinbeck, é fácil ganhar dinheiro quando é isso que se quer. O problema é que as pessoas em geral desejam o fausto, querem amor e admiração. Dirigentes do Banco do Brasil, por meio da Cobra Tecnologia, estão em fase de “construção” de
uma organização que certifique empresas de tecnologia para o mercado corporativo no país e organize o descentralizado segmento em termos internacionais. Essa é a meta da Organização Mundial do Software Livre, que visa dar aparato gerencial às empresas
interessadas em vender programas de código aberto. A primeira reunião da OMSL aconteceu terça feira, 24 de abril, na sede do Banco do Brasil na Capital Federal.
Empresários, programadores e integrantes da Comunidade Software Livre Brasil estiveram presentes para debater a criação da ONG a convite do BB. No momento, o vice-presidente do Banco de capital misto, Cerqueira César, explicou o projeto falando na
“descontinuidade tecnológica” que afeta os programas usados nos sistemas bancários, em referência ao pagamento de licenças a MS e a necessidade de “aproveitar a indústria tecnológica” num claro sinal de receio que a onda brasileira do software livre passe
e não dê resultados. Logo, abriu-se para perguntas e a grita começou com os participantes puxando a conversa cada um para o seu lado. Alguns tiveram eco positivo nas explanações, outros nem tanto.
Objetivamente, há pontos obscuros no projeto, tal como os critérios de seleção das empresas uma vez que inicialmente se dará por adesão. Encontrando-se já na sua terceira edição (será a ANCINAV do Software Livre?), o projeto é uma proposta de interação
entre governo, comunidade desenvolvedora e mercado. Até termos semelhantes aos que permearam as discussões no Ministério da Cultura foram utilizados. “Temos que fazer uma organização nascer e não cair em debates histéricos”,correu em socorro de Cerqueira
o vice-presidente do Instituto de Tecnologia da Informação, Renato Martini, em seqüência ao tom cabreiro das palavras iniciais, em especial de Gandhi (sic) da ONG Quilombo Digital.
Orçamento, data de efetivação, padrões, propriedade intelectual e aparato jurídico foram algumas das questões pertinentemente levantadas que não obtiveram resposta ainda. É fato que o trabalho em software livre é descentralizado e defendido por uma
parcela como filosofia intrínseca da liberdade do usuário diante do computador. Os militantes defendem o desenvolvimento e a troca de experiência não atrelados a grandes corporações, muito embora vários programadores trabalhem com tecnologia da informação
no governo e em empresas como IBM e Oracle.
Fato também é que muitos programadores no Brasil sobrevivem da programação em pequenas empresas, desenvolvendo softwares para padarias, lojas e supermercados. Enfim, uma camada economicamente ativa graças ao trabalho com software livre. A grita da
comunidade se estabelece na fronteira entre software livre e open source. O software livre tem suas liberdades resguardadas pela Licença Pública Geral GNU – poder de modificar, copiar e distribuir o programa a partir do código fonte – enquanto os
programas open source não têm licenças próprias, mas certifica as existentes dentro de seus próprios parâmetros de software aberto. É como se as duas correntes atuassem em paralelo, porém divergindo na ponta da pirâmide.
O consenso parece caminhar em direção a definição desses parâmetros e lincar com os interesses dos verdadeiros programadores em Linux, deixando em stand by o mero ideal e efetivando ações para o desenvolvimento econômico social na esfera real e, por
representatividade, na virtual. Ao que tudo indica, nessa Primeira Reunião da Fase de “Construção” da OMSL (o nome também é amplamente criticado pela óbvia pretensão) a discussão ideológica começa a cambalear. A organização se focará em negócios restando
saber qual será o critério de adesão para as pequenas, médias e grandes empresas. Ademais, o termo modelo econômico distributivo organizado por adesão se apresenta muito amplo no mercado de TI.
As perguntas pipocam e o esclarecimento vago do projeto que se propõe a trabalhar com as comunidades sugerem que o debate vai longe. Uma alternativa seria trabalhar apenas com empresas de pequeno a médio portes open source. Por outro lado, essa escolha
pode inviabilizar o processo colaborativo uma vez que o intercâmbio dos upgrades dos softwares corre o risco de ser travado por interesses puramente mercadológicos.
Mesmo que a diversificação gere concorrência mais justa no mercado de softwares corporativos, a empresa usuária estaria atrelada a uma “licença” do criador do programa. E a segunda rodada de discussões tem data marcada. Durante o Fórum Internacional do
Software Livre, de 02 a 04 de Junho em Porto Alegre, governo, empresários e comunidades terão a oportunidade de ajustar as arestas, coexistir ou estabelecer o racha.
Fonte: http://www.infomediatv.com.br/materia.php?id_texto_coluna=16
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