Os engenheiros do Facebook não sabem exatamente como a empresa usa os dados de seus usuários. Com o número gigante de sistemas em uso obscurecendo onde os dados são armazenados, é natural que os próprios engenheiros da companhia não saibam o que acontece com as informações. Mesmo assim, não deixa de ser assustador.
Dona dos maiores serviços online da atualidade (Facebook, Instagram e WhatsApp), a Meta tem o dever de cuidar dos dados de seus usuários. Isso significa manter e armazenar todas as informações com segurança e de forma organizada. No entanto, parece que essa tarefa é difícil demais para qualquer engenheiro trabalhando na empresa.
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Não há clareza quanto ao fluxo dos dados
Durante uma audiência realizada em março, que foi feita sob sigilo, dois engenheiros do Facebook admitiram que a tarefa de descobrir onde os dados dos usuários são armazenados em toda a empresa teria que ser um esforço de equipe devido ao amplo escopo da tarefa.
A audiência, parte de um processo de longa data sobre o escândalo da Cambridge Analytica, foi liderada pelo “Discovery Special Master” Daniel Garrie. O Mestre Especial tinha a tarefa de descobrir se o Facebook precisava produzir mais documentos para o caso.
A transcrição da audiência foi divulgada como parte de um documento judicial não lacrado, conforme relatado pela primeira vez pelo The Intercept. Os dois engenheiros eram o diretor de engenharia do Facebook, Eugene Zarashow, e o gerente de engenharia de software, Steven Elia.
“Seria preciso várias equipes do setor de anúncios para rastrear exatamente para onde os dados fluem”, disse Zarashow na audiência. “Eu ficaria surpreso se houvesse uma única pessoa que pudesse responder a isso de forma conclusiva.“
Meta possui mais de 50 subsistemas para lidar com os dados
Isso se deve, em parte, à política de fronteira aberta do Facebook para coleta de dados e ao uso de 55 subsistemas diferentes. Zarashow observou a “estranha cultura de engenharia” que não “gerava muitos artefatos” na criação de código. Além disso, o código é “seu próprio documento de design“, o que inicialmente ele achou “aterrorizante”.
Os comentários da audiência confirmam a legitimidade de um documento interno vazado que surgiu em abril de 2022. Este documento também afirma que os engenheiros não tinham uma maneira real de acompanhar os dados coletados pela empresa.
Os sistemas de fronteira aberta coletam e consolidam dados de uma ampla variedade de fontes próprias e de terceiros. Mas não há como descobrir quais dados são fornecidos especificamente pelo Facebook, revelou o documento.
“Não temos um nível adequado de controle e explicabilidade sobre como nossos sistemas usam dados e, portanto, não podemos fazer alterações de política controladas ou compromissos externos com confiança, como ‘não usaremos dados X para fins Y’”, revela o relatório interno. “E, no entanto, é exatamente isso que os reguladores esperam que façamos, aumentando nosso risco de erros e deturpação“.
Meta se manifesta
Em um comunicado emitido várias horas após o relatório, um porta-voz da Meta respondeu às alegações:
“Nossos sistemas são sofisticados e não deveria ser surpresa que nenhum engenheiro da empresa possa responder a todas as perguntas sobre onde cada informação do usuário é armazenada”, disse a porta-voz do Facebook, Dina El-Kassaby. “Criamos um dos programas de privacidade mais abrangentes para supervisionar o uso de dados em nossas operações e para gerenciar e proteger cuidadosamente os dados das pessoas. Fizemos – e continuamos fazendo – investimentos significativos para cumprir nossos compromissos e obrigações de privacidade, incluindo amplos controles de dados.”
Fonte: The Intercept
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