Um teste do Gnome 3

Um teste do Gnome 3

Tivemos muitos lançamentos importantes na área de desktops no Linux esse ano. Logo no início do ano foram lançadas as novas versões do KDE e Xfce (4.6 e 4.8 respectivamente) que trouxeram o fim do HAL (o Gnome já era HAL-less a algum tempo). E depois de mais de 10 anos finalmente lançaram a versão 1.0 do EFL (Enlightenment Foundation Libraries), o que deve acelerar o desenvolvimento do E17 (e quem sabe fazer um lançamento ainda esse ano).

Mas sem dúvida o lançamento mais importante desse ano será no dia 6 de Abril, quando a versão 3.0 do desktop mais usado no Linux finalmente sairá: Gnome. Como eu tinha uma máquina parada aqui rodando Arch Linux, resolvi migrar para o repositório de testes, ativar o repositório gnome-unstable e brincar um pouco com a versão beta do Gnome 3. O resultado você confere nesse post.

O desktop padrão do Gnome 3

O desktop padrão do Gnome 3

É bom se acostumar com a tela acima, já que ela vai ser basicamente sua nova área de trabalho a partir de Abril se você não usar o Ubuntu (que vai migrar do Gnome Shell para o Unity, outra interface que vai quebrar os paradigmas tradicionais) ou outro desktop como o KDE. Veja que não há um menu ou barra de tarefas como antigamente e o desktop é bem limpo: não é possível colocar ícones aí no meio ou adicionar widgets.

Área de Atividades, "Exposé" e Notificações

Área de Atividades, “Exposé” e Notificações

Essa imagem acima é da parte de “Atividades”, onde você vai poder iniciar novos programas (clicando num dos atalhos do lado esquerdo ou indo em “Applications”; o “Alt+F2? ainda funciona, mas ele não auto-completa mais a não ser que você aperte a tecla “Tab”). Ela também exibe todas as janelas ativas de um jeito “Exposé-like“. Clicar em uma dessas janelas volta para a área de trabalho com a janela escolhida em primeiro plano, como o esperado.

Na parte inferior podemos ver a nova área de notificações e do lado inferior direito ficam os ícones dos aplicativos que antes ficavam ao lado do relógio. O novo sistema de notificação também é mais usado pelos aplicativos nativos: quando fui abrir um arquivo que ficou em segundo-plano, o Nautilus avisou pelo sistema de notificações que o arquivo foi aberto com sucesso.

Aplicativo em primeiro plano

Aplicativo em primeiro plano

Na janela dos aplicativos, chama a atenção a falta de um botão de minimizar/maximizar e o tamanho do único botão restante (fechar). O ato de minimizar se tornou inútil com a área de “Atividades”, enquanto o botão de maximizar virou uma ação: mover uma janela maximizada volta a mesma ao normal; mover uma janela normal para perto da barra superior a maximiza.

Menu de aplicativos

Menu de aplicativos

menu de aplicativos se caracteriza com os ícones enormes (que ficam horríveis quando um programa não tem disponível os ícones em alta resolução) separados por categoria em uma lista flutuante. Isso junto com o grande botão “X” da barra de título dos aplicativos mostra a atenção que os desenvolvedores deram as telas sensíveis ao toque. Clicar em um aplicativo já aberto te levará a janela aberta anteriormente, e não abrirá uma nova instância do programa como estamos acostumados (para fazê-lo é necessário clicar com o botão direito do mouse e ir em “Nova janela”).

Áreas de trabalho virtuais

Áreas de trabalho virtuais

Na parte lateral direta do área de Atividades temos as Áreas de trabalho virtuais, obrigatórias em qualquer desktop Linux que se preze. No Gnome 3 o número de áreas virtuais disponíveis é ajustado automaticamente: se uma área tiver pelo menos uma janela dentro dela o Gnome automaticamente criará outra vazia. Não sei realmente se existe algum limite para criar áreas virtuais ou não, mas na imagem acima consegui criar 8, o que seria mais que suficiente mesmo para os usuários mais exigentes.

O Gnome 3.0 realmente é uma mudança completa da versão anterior e uma quebra dos paradigmas tradicionais de desktop (que são basicamente os mesmos desde o Apple Lisa). Ele também tem como foco simplificar o máximo o sistema (daí o lema “made of easy”, ou “feito de facilidade” numa tradução livre), mas isso tornou o desktop menos produtivo. Por exemplo, temos que fazer pelo menos dois cliques para abrir um novo programa, contra um de ambiente de desktop tradicional. Se formos contar aplicativos que não estejam nos atalhos, são dois cliques num ambiente com tradicional, contra 3~5 do Gnome Shell.

O time de desenvolvimento também tentou simplificar as configurações demais o que definitivamente vai irritar os usuários mais avançados. Não achei um jeito simples de trocar o tema do desktop ou o cursor do mouse. Se você é usuário de notebooks, saiba que não é possível mudar ação padrão de quando você fecha a tampa do seu note sem mexer nos arquivos do sistema: ele sempre irá suspender. Também não existe muitas possibilidades de personalização da interface, no máximo trocar o plano de fundo. Se você queria a barra principal embaixo ao invés de em cima, vai ficar chupando o dedo.

Fora isso, tive alguns problemas: por algum motivo os aplicativos não apareceram no “Applications->All” (por isso que eu tirei um screenshot de outra categoria) e uma vez tive um bug bem irritante: todas as fontes passaram a aparecer cortadas. Isso aconteceu quando ainda estava usando o Wicd no lugar do NetworkManager, mas depois que voltei ao NetworkManager aparentemente o problema passou. Mas claro, isso é esperado de uma versão beta.

Apesar dos problemas acima, ainda assim achei a experiência de uso do Gnome 3 agradável. A cobaia é uma máquina antiga (HP Pavillion ze2430br, com um upgrade para 1,2GB de RAM) e mesmo assim não senti lentidão. A GPU é lenta (mal rodo Armagetron Advance nela) mas mesmo assim os efeitos do desktop sempre foram fluidos, diferente do que acontece com o Compiz nesse mesmo notebook. E definitivamente é um desktop diferente e divertido de usar. Não usaria como desktop no meu PC principal, mas com certeza instalarei ele numa máquina secundária.

Para encerrar, gostaria de falar que minha análise foi limitada. Aparentemente o repositório gnome-unstable do Arch ainda não inclui todos os aplicativos do Gnome 3 e eu mesmo só instalei o sistema básico. Faltou uma análise melhor do ecossistema de aplicativos, mas o foco aqui foi mesmo para a maior novidade do Gnome 3: o Gnome Shell.

Por Thiago Okada <thiago.mast3r [at]gmail.com>
http://tecnologiaetc.wordpress.com/

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