A hora da verdade para o projeto OLPC

OLPC at a turning point

Autor original: Jonathan Corbet

Publicado originalmente no: http://lwn.net/

Tradução: Roberto Bechtlufft

Parece que os próximos dias serão difíceis para o projeto OLPC. Vários desenvolvedores-chave deixaram o projeto, incluindo Mary Lou Jepsen, Ivan Krsti?, Andres Salomon e Walter Bender. As encomendas de laptops estão bem abaixo das milhões de unidades esperadas, e muitos dos objetivos que a OLPC tinha para o software do produto ainda não foram atingidos. Tem-se falado bastante em suporte ao Windows, e comenta-se que o Linux pode ser abandonado. Há uma tópico movimentado na lista de discussão de desenvolvimento que mostra a preocupação de vários participantes quanto ao futuro do projeto. Para muitos, o projeto OLPC parece fadado a tornar-se um nobre fracasso.

Mas os rumores podem ser prematuros. Ao considerarmos o futuro da OLPC, devemos ter em mente alguns pontos.

Um deles é o fato do projeto ter acabado de passar por uma grande carga de trabalho com seu primeiro sistema produzido em massa. Eu tenho acompanhado o projeto de perto e posso dizer que, como ocorre em tantos projetos semelhantes, os envolvidos têm trabalhado duro para realizar seus objetivos. É natural que, ao se livrarem de uma pressão tão grande, as pessoas decidam dar um tempo, pôr seus assuntos pessoais em dia e, talvez, procurar um novo emprego. Logo, a saída de alguns membros-chave da equipe não é tão surpreendente assim.

Uma olhada no estado atual do software da OLPC sugere que os objetivos almejados pelo projeto para seu primeiro lançamento foram ambiciosos demais. Quando isso acontece, é preciso eliminar alguns desses objetivos, e quanto mais isso demorar para acontecer, maiores serão as chances dos objetivos errados serem jogados para fora do barco. Há sinais de que a OLPC perdeu muito tempo tentando fazer coisas demais, e o resultado foi um produto que não é tão estável, rápido ou completo como se esperava. Como muitos dos envolvidos no projeto observaram, o software do laptop ainda não é maduro o suficiente. Porém, como declarou o ex-presidente da OLPC, Walter Bender:

– A imprensa e alguns membros da comunidade de desenvolvimento têm feito muito alarde sobre o desempenho do equipamento, mas pela minha experiência, o desempenho não parece ter sido um problema nos testes que conduzimos em algumas escolas e nas encomendas que realizamos. Há muitos bugs e coisas a melhorar, e é preciso cuidar de tudo isso, mas as caracterizações que estão sendo feitas neste tópico não refletem a realidade da OLPC: as crianças e os professores estão usando os laptops e estão aprendendo.

Enfim, o número de laptops recebidos pelas crianças está bem abaixo do que o projeto havia planejado. O número reduzido de encomendas não ajuda a criar a economia de escala com a qual o projeto contava para reduzir os custos. Também ocorreram algumas trapalhadas pelo caminho, como o grande número de encomendas realizado no programa “Give one get one” sem que a OLPC pudesse cumprir a demanda.

Tudo isso aponta para a necessidade de mudanças na forma como o projeto é administrado. Mudanças sempre geram incerteza, e seria uma surpresa se os participantes da OLPC não estivessem um pouco nervosos no momento.

Os próximos meses serão decisivos para o destino da OLPC. É famosa a declaração da liderança do projeto de que o OLPC é um projeto educativo, e não um projeto de laptops. Recentemente, algumas pessoas vêm expressando sua preocupação de que o OLPC esteja se tornando um projeto de laptops, no qual o número de encomendas é o maior objetivo. Nicholas Negroponte também não ajuda muito ao declarar que sua maior preocupação é colocar a maior quantidade de laptops possível nas mãos das crianças. Se a OLPC se focar em ser uma fabricante de laptops de baixo custo, e principalmente se aderir a sistemas operacionais proprietários para atingir seus objetivos, vai acabar perdendo boa parte da comunidade que se formou ao redor do projeto.

E seria uma pena. Há uma grande beleza na idéia de pôr nas mãos das crianças uma ferramenta de aprendizado bem desenhada, e dar mais poder a essas crianças por meio de um sistema completamente aberto e “hackeável.” Uma grande e motivada comunidade de pessoas altamente capacitadas se reuniu sob esse ideal e deu o seu melhor para repensar como essa tecnologia deveria funcionar e criar algo melhor. Grupos que encomendaram os laptops em diversos países colocaram o produto nas mãos de milhares de crianças, e muitos estão relatando bons resultados. Muitas coisas boas vêm acontecendo na OLPC, e isso não tem que acabar agora.

Mas pode acabar em breve. Para se acertar, o projeto vai ter que comunicar mais claramente onde pretende chegar com seu software; a declaração de apoio contínuo de Negroponte ao Sugar parece ser uma tentativa de iniciar esse processo. O lado operacional do projeto precisa se organizar. Um pouco de transparência, por exemplo, sobre o que está sendo feito com o dinheiro doado e sobre quais acordos foram feitos com quais corporações externas, ajudaria bastante. E o mais importante, o grupo de voluntários trabalhando para o projeto precisa ser novamente convencido de que não está perdendo seu tempo. Se a liderança do projeto cuidar de tudo isso, podem haver muitas coisas boas no futuro da OLPC.

Créditos a Jonathan Corbethttp://lwn.net/

Tradução por Roberto Bechtlufft <robertobech at gmail.com>

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