Nokia E71

Depois de falar sobre os pesos-leves, vamos concluir o tour pelos aparelhos da Nokia falando sobre o E71, que é uma espécie de pico evolutivo dentro do S60 terceira edição. Ele é, provavelmente, o mais longe que se pode chegar em termos de praticidade em um aparelho com tela QVGA e teclado QWERTY com essas dimensões. Este é um formato que deve continuar sendo atual por algum tempo, convivendo com os aparelhos com telas maiores e teclados QWERTY deslizantes.


E71 em comparação com o Motorola Q8

Um dos destaques do E71 é o uso de uma combinação de metal e um policarboneto duro, que o torna bastante sólido e resistente a quedas. O uso de metal é uma tendência em diversos aparelhos, mas tem a desvantagem de aumentar o peso. Isso explica por que, apesar de possuir quase metade do volume do E62, o E71 tem praticamente o mesmo peso que ele.

Em resumo, temos:

Pontos positivos: Teclado QWERTY, construção bastante sólida, bom design, suporte a cartões microSD de grande capacidade, rede Wi-Fi e GPS integrado, boa autonomia de bateria, bom conjunto de aplicativos pré-instalados (incluindo suporte a edição de arquivos do MS Office), bom desempenho, relativamente barato.

Pontos negativos: Tela de 2.36″ (consideravelmente menor que a do E61/E62), sem suporte a 3D, câmera medíocre.

O teclado é uma das áreas em que as aparências enganam. À primeira vista, o teclado do E71 dá a impressão de ser menos confortável que o do E62, E61 e E61i, já que é menor e tem duas teclas a menos (a tecla Shift da direita foi removida e a tecla Ctrl foi combinada com a tecla Car). Entretanto, a impressão inicial cai por terra assim que você tem a oportunidade de realmente usá-lo por algum tempo.

As teclas são mais macias e têm um feedback tátil melhor. O fato do teclado ser um pouco menor acaba, na verdade, ajudando em vez de atrapalhar, pois seus dedos precisam percorrer uma distância menor. Naturalmente, este é um ponto de debate, já que quem tem as mãos muito grandes provavelmente preferirá o teclado maior do E61. Entretanto, para a maioria, o teclado do E71 acaba sendo mais confortável.

Apesar disso, nem tudo são flores. A posição de algumas teclas é diferente, de forma que migrar do E61 para o E71 exige um pequeno período de adaptação até que você volte à velocidade normal de digitação. A vírgula, por exemplo, passou a ser digitada com Shift-ponto, e a remoção da segunda tecla Shift faz com que você precise digitar todas as maiúsculas com o polegar direito, ou usar dois toques (Shift > letra) para cada uma.

Mesmo com um teclado QWERTY, a entrada dos acentos reduz um pouco sua velocidade de digitação. Uma boa ajuda é o recurso de correção automática (configurado no “Configs. > Geral > Personalização > Idioma > Previsão de texto”), que permite que você digite a maioria das palavras sem os acentos, deixando que ele corrija automaticamente para você. Por outro lado, este recurso tem também suas desvantagens, já que a exibição das sugestões de palavras enquanto está digitando pode ser incômoda. É uma questão de testar e ver até que ponto você se entende com ele:

Em vez de utilizar um cabo mini-USB tradicional no E71, a Nokia optou por migrar para o novo padrão micro-USB, o que contribuiu para a redução na espessura do aparelho. No momento a escolha é ainda inconveniente, pois os cabos e acessórios mini-USB ainda são muito mais comuns, mas no futuro, o micro-USB vai se tornar mais popular. Diferente do N85, que é carregado através da porta USB, o E71 ainda usa o conector de 2 mm separado, mas você pode carregá-lo via USB usando o adaptador CA-100.

As opções de navegação web e e-mails continuam as mesmas dos aparelhos anteriores (o E71 é baseado no mesmo Freescale MXC300 de 369 MHz usado no 6120c e em outros modelos), mas o teclado QWERTY, a orientação horizontal da tela e a melhor disposição das teclas de atalho, fazem com que a produtividade seja muito maior, mostrando como diferenças no formato podem mudar completamente a utilidade dos aparelhos.

Assim como em outros modelos da série E, o E71 oferece o conjunto completo de funções corporativas, incluindo o acesso a servidores Exchange, usando o Mail for Exchange (que pode ser instalado através do “Aplicativos > Downloads”) e a edição de documentos do MS Office usando o Quickoffice 4.1, que vem pré-instalado.

Está disponível também o Mobile VPN (configurado através do “Configs. > Conexão VPN”), um cliente IPsec que permite conectar o E71 à rede corporativa, utilizando um roteador Cisco, um servidor Linux com o Frees/WAN ou outra solução de VPN que suporte o protocolo. A grande deficiência é que ele não suporta o PPTP (que é o protocolo usado pelo OpenVPN e diversos outros softwares), o que limita bastante a compatibilidade.

Devido ao uso do IPsec, a configuração do Mobile VPN não é especialmente simples (já que o foco é o público corporativo), mas é possível usá-lo também em pequenas redes, usando um servidor Linux com o Frees/WAN como gateway. Ele faz par com o Intranet, que permite acessar a rede depois de configurada a VPN:

Um recurso importante para tirar melhor proveito do E71 é a personalização das teclas de atalho, que você define no “Ferramentas > Config. > Geral > Personalização > Tecl. disc. ráp.”.

Programe as teclas com os aplicativos que você usa com mais freqüência e deixe os que sobrarem em locais de fácil acesso na tela inicial (ou no menu), de forma que você possa chavear rapidamente entre eles. A grande vantagem do S60 é justamente permitir que você faça várias coisas ao mesmo tempo e alterne rapidamente entre os programas, indo do navegador para a agenda e dela para os e-mails, por exemplo. Tire proveito disso.

Como o E71 tem 128 MB de RAM, você pode deixar os aplicativos mais utilizados abertos continuamente, sem precisar se preocupar tanto em fechar programas inativos para liberar memória, como no caso do 6120c. Tome cuidado apenas com aplicativos que usam o GPS ou que transmitem dados continuamente, como o Fring. Eles podem acabar com a carga da bateria rapidamente.

Outra opção digna de nota é o suporte a perfis, que você define através do “Ferramentas > Perfis”. Cada perfil armazena um conjunto completo de configurações e você pode alternar entre eles em poucos segundos. A idéia inicial é que você use um perfil para trabalho e outro para uso pessoal, mas existem diversas outras possibilidades, use a criatividade. 🙂

Dentro da configuração dos modos, você pode definir também as funções que ficarão disponíveis na tela inicial, incluindo compromissos, novos e-mails (caso você esteja usando o cliente de e-mails padrão), acesso ao menu de configuração de redes Wi-Fi e assim por diante. Está disponível também uma função de busca, que acaba sendo bastante útil, adicionando um campo para fazer pesquisas no Google (ou nos arquivos locais) diretamente na tela inicial:

Se você usa o aparelho para trabalho ou para armazenar informações importantes, não deixe de ativar as opções de encriptação e o travamento remoto, como vimos no capítulo 4. Além de garantir a segurança, isso acaba tendo um efeito psicológico importante, já que, sabendo que seus dados estão protegidos, você acaba usando o aparelho para mais coisas. É aconselhável usar também um gerenciador de senhas, como o Phone Wallet (http://symbianguru.com/).

O E71 possui tanto suporte a HSDPA quanto a redes wireless, de forma que você pode escolher entre assinar um plano de dados ou navegar via Wi-Fi. De maneira geral, serviços de acesso via Wi-Fi, como o Vex, não são uma boa idéia, já que a cobertura é limitada e os pontos de acesso nem sempre estão operacionais. De qualquer forma, eles podem quebrar o galho em algumas situações. Se a idéia é economizar, considere também a possibilidade de usar um plano de dados com limitação de velocidade (como o plano de 300k da Oi e o de 256k da Claro). Embora a velocidade seja baixa, eles suprem a necessidade principal, que é a conexão contínua com a web.

Mesmo com uma conexão 3G, o OperaMini continua sendo útil, salvando o dia em locais de sinal fraco, onde a velocidade da conexão é ruim. Uma coisa que você logo perceberá é que as 0.38 polegadas a mais da tela fazem uma diferença realmente muito grande na navegação em relação ao que temos em aparelhos com tela de 2.0″ (como no 6120 e no E51), permitindo que você use fontes menores e visualize mais texto. As próprias fontes de tela default do E71 são menores, fazendo com que a resolução pareça maior, muito embora seja exatamente a mesma.

Assim como outros modelos da Nokia, o E71 pode ser usado como um modem 3G, seja através da porta USB ou via Bluetooth. Como ele oferece suporte ao HSDPA e ao EDR (o padrão Bluetooth de 3 megabits), você não terá limitações de velocidade em nenhuma das frentes.

Graças à interface Wi-Fi, você tem também a possibilidade de usar o JoikuSpot (http://www.joikuspot.com/) para compartilhar a conexão, criando um hotspot wireless. Isso acaba sendo mais prático do que usar o Bluetooth, pois a configuração é mais rápida (basta ativar o compartilhamento e conectar na rede ad-hoc que é criada) e é possível conectar a partir de vários PCs simultaneamente. O único problema é a bateria; tenha o carregador por perto. 🙂

Embora o E71 use uma bateria de 1500 mAh (quase o dobro do 6120c), ela pode se esgotar rapidamente ao usar o GPS e o Wi-Fi, de forma que você acaba se acostumando a recarregá-la todas as noites, para não se arriscar a ficar sem carga no dia seguinte. Infelizmente, este é um problema que afeta todos os aparelhos atuais, e que tende a se intensificar no futuro, já que os aparelhos continuarão a acumular cada vez mais funções.

O fato de ser otimizado para texto não elimina a possibilidade de usar o E71 para música e vídeos, assim como em outros modelos. A única observação é que, diferente do que temos no N95 8GB e outros modelos com o TI OMAP 2420, o sistema não se sai bem ao fazer outras tarefas enquanto exibe vídeos. Se você chavear para outro aplicativo sem dar pause, por exemplo, o som do vídeo fica cortado.

Ele inclui também o Podcasting, que é o mesmo aplicativo para baixar e ouvir podcasts encontrado em outros modelos atuais, onde você cadastra os feeds dos pods que acompanha e marca os episódios que quer fazer download, bem mais prático do que baixar um por um através do PC. De acordo com a configuração, os downloads podem ser feitos apenas quando você está conectado a uma rede Wi-Fi, usando a rede 3G, ou ambas.

A grande vantagem dos podcasts é que eles podem ser ouvidos em situações onde você não poderia fazer outra coisa, como quando está preso no trânsito, caminhando na rua ou de pé no metrô, o que explica por que eles se tornaram tão populares.

Uma observação importante é que, estranhamente, o estéreo não vem ativado por padrão no player de áudio (ele usa por padrão o modo de mistura, que é bom para ouvir podcasts, mas não para música). Não esqueça de ativá-lo no “Opções > Configurações de áudio”.

Com relação ao uso de VoIP, um dos grandes diferenciais do E71 em relação aos modelos da linha Classic é o cliente SIP da Nokia, que você pode configurar com as dicas do capítulo 4. A grande vantagem em relação ao Fring é que ele não tem um efeito muito considerável sobre a autonomia da bateria, o que permite que você o mantenha aberto o tempo todo. Isso faz com que o uso se torne mais natural, já que você pode escolher entre fazer cada chamada via VoIP ou via rede celular, de acordo com a situação e as tarifas. Além de ligar, você pode também receber ligações via VoIP, permitindo economizar nos dois sentidos.

O uso de VoIP em aparelhos móveis deve crescer bastante nos próximos anos, empurrando para baixo o custo das ligações tradicionais, especialmente no caso dos interurbanos e ligações internacionais. O próprio sistema de vídeo-chamada oferecido nas redes 3G é baseado em um sistema de VoIP e não no sistema telefônico comutado.

Diferente do E51, o E71 tem um receptor de GPS integrado, o que permite usar o Nokia Maps (ou o Google Maps), adicionar geotagging nas fotos e assim por diante, sem o inconveniente de precisar usar um receptor externo. Como em outros casos, a maior praticidade faz com que você acabe usando bem mais o GPS (experimente instalar o Sports Tracker, por exemplo). A recepção do E71 surpreende, e o uso do A-GPS faz com que o fix do sinal demore apenas 20 ou 30 segundos na maioria das situações.

O principal ponto fraco do E71 é a câmera. A qualidade das fotos é superior à de modelos como o 6120c e o E61i, que ainda utilizam sensores de 2 MP, mas a falta de um botão dedicado, combinado com a baixa potencia do “flash” e a demora do foco (que chega a demorar 5 segundos em algumas situações) fazem com que ela não seja tão prática de usar.

A qualidade das fotos também não é nada espetacular, por isso o uso dos controles de imagem é especialmente importante. Mude para o ajuste de paisagem ao tirar fotos em dias muito iluminados, ou para o modo noturno em fotos com pouca luz (por exemplo), e você notará uma melhora considerável na qualidade das fotos. Se você usa o Flickr, o Ovi ou o Vox, a opção de compartilhar on-line permite dar upload das fotos logo depois de tirá-las:

A principal dica é que o ajuste de foco está disponível através da tecla T. Basta mantê-la pressionada até que o foco esteja ajustado (você ouve um “pirim” de confirmação) e tirar a foto usando o botão central. Com este pequeno truque, a câmera é também capaz de tirar fotos em modo macro de forma bastante competente, capturando objetos a partir de 4 cm de distância.

O LED usado como flash é fraco demais para fazer muita diferença nas fotos, mas ele serve bem como lanterna, com a ajuda do S60SpotOn (http://www.outbank.de/en/download/s60spoton.html), que é um bom candidato a uma vaga entre as teclas de atalho.

Um pequeno bônus é o dicionário que vem pré-instalado. Originalmente, ele vem apenas com o inglês e o português, mas você pode baixar idiomas adicionais gratuitamente através do “Opções > Idiomas > Fazer downl. idiomas”. Ele é mais um daqueles aplicativos simples, mas que acabam sendo bastante úteis no dia-a-dia:

Embora esse esteja longe de ser o principal objetivo, o E71 também pode rodar jogos. Ele não vem com nenhum pré-instalado, mas você pode instalar a versão completa do Global Racer através do “Aplicativos > Downloads”. Ele é um game de corrida que, apesar de utilizar gráficos 3D, roda também em aparelhos sem aceleração (com um FPS um pouco mais baixo). Os gráficos são bem fracos se comparados ao que estamos acostumados a ver nos jogos para PC, mas a jogabilidade é boa.

O E71 é também uma boa plataforma para rodar o Pico Drive (http://www.free-symbian.ic.cz/gm.html) e outros dos emuladores que vimos no capítulo 4 (você pode usar um controle de Wii como joystick com o MobiPad), mas ele fica devendo um pouco com relação aos jogos em Java, já que muitos não rodam por causa da orientação da tela.

Sobre o Autor

Redes Sociais:

Deixe seu comentĂĄrio

X