BlackBerry

O BlackBerry nasceu em 1999 como um pager bi-direcional, que podia ser integrado aos servidores de e-mail corporativos usados nas empresas, criando uma solução de e-mail móvel. Na época, a Internet ainda engatinhava, e as únicas opções de “e-mail móvel” consistiam em usar um Palm ou Pocket PC, sincronizado manualmente em relação ao PC, de forma que a possibilidade de ter uma ferramenta de comunicação móvel, para troca de mensagens, atraiu um grande número de empresas e profissionais móveis.

Com o tempo, o serviço migrou para as redes CDMA e GSM, incluindo voz e navegação web. Nos EUA, o BlackBerry chegou a ter mais de 50% do mercado de smartphones. Nos últimos anos, a percentagem caiu bastante devido ao aparecimento de novas plataformas, mas o número de usuários continua sendo expressivo.

No Brasil, os aparelhos chegaram apenas em 2005, inicialmente disponíveis apenas para clientes corporativos da TIM e a preços exorbitantes. Os primeiros planos destinados a usuários finais (e com preços mais acessíveis) começaram a ser oferecidos em 2006, o que marcou o início da popularização da plataforma por aqui.

O grande atrativo era a possibilidade de ter acesso aos e-mails e navegação web ilimitada através do aparelho, pagando uma taxa mensal fixa. Em 2006, o acesso móvel ainda era um luxo reservado a poucos, com os planos de acesso ilimitado via GPRS e EDGE sendo ainda caros e restritos aos usuários corporativos. Ter um BlackBerry era, então, uma boa solução para quem precisava de acesso contínuo aos e-mails e a aplicativos corporativos, com uma mensalidade acessível.

Embora possam ser usados para falar, escutar músicas e tirar fotos, como qualquer outro aparelho, os BlackBerry são moldados e otimizados para comunicação, e-mail e troca de mensagens, incluindo um bom volume de recursos e opções de personalização relacionadas à produtividade. Um bom exemplo disso é a opção de fazer com que o aparelho ligue e desligue sozinho em determinados horários, coincidindo com os horários de trabalho do dono. Essa combinação de recursos explica por eles são populares entre executivos e profissionais móveis, mas incomuns entre os usuários finais.

Diferente de outras plataformas, onde os aparelhos simplesmente acessam a web diretamente, os BlackBerry são fortemente baseados no uso do BES (BlackBerry Enterprise Server), um servidor de aplicativos que faz a interface entre os servidores de e-mail e outros aplicativos corporativos (Exchange, Domino e GroupWise) e os aparelhos, servindo também como um proxy para o acesso web.

Ao se conectar à rede, o BlackBerry cria uma VPN encriptada entre ele e o servidor, que é então usada para todo o tráfego de dados. Todos os e-mails e outras informações que chegam até os aparelhos, passam primeiro pelo servidor BES (o que permite logar as atividades, implantar filtros de conteúdo, etc.) e são, só então, enviados aos aparelhos, usando a rede de dados da operadora. O sistema foi desenvolvido de forma que os aparelhos sejam completamente dependentes do BES, sem acesso direto à Internet.

Existe também a possibilidade de sincronizar os e-mails e contatos com o Outlook no desktop, usando o BlackBerry Desktop. Apesar disso, muitos usuários preferem simplesmente continuar respondendo no próprio BlackBerry, sem se dar o trabalho de sincronizar. Como os e-mails ficam na verdade armazenados no servidor BIS (para o qual o BlackBerry é um simples terminal), é possível, também, migrar a conta para outro aparelho sem grande dificuldade em caso de perda ou roubo.

Cada BlackBerry possui um identificador único (PIN), que precisa ser cadastrado no servidor para que ele tenha acesso à rede. Isso serve como uma camada adicional de segurança contra o acesso por parte de aparelhos não autorizados. Em caso de roubo ou perda de algum dos aparelhos, o administrador precisa apenas bloquear o acesso no servidor. É possível, também, travar o aparelho remotamente, de forma a proteger dados confidenciais que estejam armazenados na memória.

Os planos de acesso para grandes empresas incluem não apenas os aparelhos e os planos de acesso, mas, também, a instalação do servidor BES e o suporte necessário, o que explica o preço elevado. No caso dos planos para usuários finais, é usado um BIS (BlackBerry Internet Service), que é um servidor mantido pela própria BlackBerry, em parceria com a operadora, que permite o acesso à web e às suas contas de e-mail. Estas ilustrações da Vivo ilustram o conceito:

Antes de usar o serviço, é necessário criar a conta e cadastrar o aparelho através do vivo.blackberry.com, timbrasil.blackberry.com, nextel.blackberry.com ou claro.blackberry.com. Durante a configuração, você pode cadastrar diversas contas de e-mail de provedores diferentes, deixando que o BIS se encarregue de baixar as mensagens e enviá-las para o aparelho, usando o sistema push. Você pode pensar no BIS como uma versão simplificada do BES, sem a integração com a rede e os sistemas internos da empresa:

Sem a assinatura do plano de acesso e a ativação do serviço, você ainda pode usar o BlackBerry para ligações de voz, como player de mídia ou organizador pessoal, mas todas as funções de navegação, mensagens e acesso a e-mails (que são a alma do aparelho), ficam desabilitadas. Mesmo que você tenha um chip com um plano de dados, o aparelho percebe a falta da associação com o servidor e se recusa a usar a conexão, pedindo que entre em contato com a operadora:

Naturalmente, existem alguns workarounds; você pode, por exemplo, navegar usando o OperaMini, que é capaz de se conectar diretamente, mas, de qualquer forma, sem o uso do servidor BIS você fica de fora da maior parte das funções.

Para instalar o OperaMini sem ter conexão com a rede, baixe os arquivos .jad e .jar da versão genérica no www.operamini.com e copie-os para dentro da pasta “blackberry” do cartão de memória (você pode também acessar o cartão ligando o blackberry ao PC e ativando o modo de transferência).

Em seguida, abra o player de mídia, acesse a opção “Explorar” (pressionando o botão do menu) e indique o arquivo .jad dentro do cartão, escolhendo, em seguida, a opção “download”, o que fará com que ele inicie a instalação.

Para que o OperaMini consiga acessar a rede, é necessário fornecer também a APN da operadora (zap.vivo.com.br, claro.com.br, tim.br, etc.) no “Opções > Opções Avançadas > TCP”. Os campos de usuário e senha (na mesma janela) podem ficar com qualquer valor, já que eles na verdade não são usados.

Em outras palavras, o BlackBerry não é exatamente um smartphone dentro do conceito tradicional, mas sim uma ferramenta de comunicação que trabalha em conjunto com o servidor BIS ou BES, utilizando a rede celular para o tráfego de dados. Para poder realmente utilizar o aparelho, você precisa seguir as regras e aderir ao plano de acesso.

De volta aos pontos positivos, além da praticidade do sistema push (que faz com que os e-mails sejam atualizados automaticamente) e do bom conjunto de ferramentas de comunicação, outra vantagem dos planos de acesso para o BlackBerry em relação aos planos regulares de acesso ilimitado é que as mensalidades são um pouco mais baixas. Na Claro, o plano de acesso pessoal (BIS) custa R$ 75 mensais, enquanto na Vivo e na TIM custa R$ 69 (mais o valor do plano de voz), contra de R$ 99 a R$ 119 para os planos regulares de acesso web ilimitados das mesmas operadoras.

A limitação é que, como pode imaginar, os planos são apenas para acesso através do servidor BIS ou BES (ou seja, apenas acesso a partir do próprio BlackBerry). É possível, também, usar o BlackBerry como modem, instalando o BlackBerry Device Manager (o que faz com que o BlackBerry apareça como modem dentro do gerenciador de dispositivos) e, a partir daí, configurar a conexão manualmente, informando a APN da operadora e o número de discagem, como faria ao usar outro smartphone qualquer como modem, mas isso não é visto com bons olhos pelas operadoras.

Mesmo quando usado como modem, o BlackBerry continua atrelado ao BES e continua transmitindo todos os dados através dele. Isso torna bastante difícil para a operadora diferenciar o tráfego proveniente do próprio BlackBerry do tráfego proveniente de um PC conectado através dele, de forma que as operadoras geralmente optam por fazer vistas grossas. Apesar disso, é importante lembrar que o acesso pode ser bloqueado pela operadora, ou, eventualmente, gerar cobrança adicional. Em outras palavras, é aconselhável usar o recurso com cautela.

Outra observação é que se você está usando um BlackBerry Curve, Pearl ou qualquer outro modelo anterior ao Bold (que é o primeiro BlackBerry com suporte a 3G), o acesso será feito via EDGE, muito mais lento que os planos de acesso 3G oferecidos atualmente.

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