UMPCs e MIDs

Por: Rodrigo Amar

Conforme a tecnologia foi avançando, os computadores deixaram de ser mastodontes do tamanho de armários para se tornarem desktops e depois notebooks. Temos ainda os celulares e palmtops, que desempenham uma função complementar, servindo como dispositivos de comunicação e gerenciamento pessoal.

Os UMPCs e MIDs se enquadram entre as duas categorias. Eles são mais portáteis que os notebooks, mas são muito mais poderosos que os palmtops e são equipados com processadores x86, o que garante a compatibilidade com os aplicativos destinados a micros PC.

Originalmente, a plataforma UMPC era um projeto desenvolvido por um conjunto de fabricantes, com destaque para a Intel e Microsoft. O interesse de ambos era óbvio: a Intel pretendia vender mais processadores e chipsets e a Microsoft queria vender mais cópias do Vista.

A idéia era boa: criar uma plataforma de PCs ultra-compactos, menores, mais leves e com uma maior autonomia que os notebooks, equipados com processadores dual-core, aceleração 3D, wireless e, opcionalmente, também a opção de se conectar à web via GPRS, EVDO ou outra tecnologia de rede celular. Com um UMPC, você teria um PC que poderia levar com você o tempo todo, carregando seus aplicativos e arquivos, o que permitiria que você se conectasse à web ou assistisse vídeos em qualquer lugar.

Dentro da idéia inicial, até o final de 2006 teríamos UMPCs a preços acessíveis, criando um nicho intermediário entre os notebooks e os smartphones. Quem realmente precisasse de um PC completo, poderia comprar um notebook, enquanto quem quisesse apenas ter um PC portátil, para rodar tarefas leves, poderia usar um UMPC.

Embora a maioria dos protótipos de UMPC não tivesse teclados embutidos, você poderia utilizar um teclado e mouse USB ou Bluetooth, aproveitando para plugar também um monitor externo enquanto estivesse em casa ou no escritório e utilizar o teclado onscreen no restante do tempo.

Apesar disso, o plano não deu muito certo. Os poucos modelos disponíveis inicialmente eram muito caros e as vendas ínfimas, tornando a plataforma mais um objeto de curiosidade, do que uma alternativa real.

Um dos UMPCs mais bem sucedidos até a primeira metade de 2007 (pelo menos do ponto de vista técnico) foi o Sony VGN-UX1XN. Ele é um dos poucos modelos com potência suficiente para rodar o Vista:

Ele é baseado em um processador Intel Core Solo, de 1.33 GHz, com 1 GB de memória DDR2 e vídeo Intel GMA 950 integrado. A tela tem apenas 4.5 polegadas, mas mesmo assim usa resolução de 1024×600. Ao invés de utilizar um HD, ele utiliza um SDD, com 32 GB de memória Flash, o que permitiu reduzir o peso e o consumo elétrico, além de tornar o aparelho mais resistente a impactos.

Além da tela touch-screen e da câmera de 1.3 mp integrada, ele inclui um joystick no canto superior direto (que pode ser usado para funções diversas de navegação), diversas teclas de atalho e um teclado embutido. Além de navegar utilizando redes wireless próximas, você pode se conectar utilizando um celular com Bluetooth, desde que, naturalmente, tenha um plano de dados com uma quota generosa de tráfego.

Medindo apenas 15 x 9.5 x 3.5cm e pesando apenas 500 gramas, ele se encaixa muito bem no conceito proposto inicialmente. Embora não seja um topo de linha, ele possui uma configuração poderosa o suficiente para rodar todo tipo de aplicativos e as limitações com relação ao tamanho da tela e do teclado podem ser supridas através do uso de um monitor, teclado e mouse externos, ataxados à dock-station que acompanha o aparelho. Com um destes, você não precisaria mais sequer carregar o notebook.

O problema todo se resume a uma única palavra: preço. O VGN-UX1XN custava, em maio de 2007, nada menos que 2000 euros, uma verdadeira bolada. Caso ele chegasse a ser vendido no Brasil, não custaria menos de 10.000 reais, dinheiro suficiente para comprar 5 notebooks low-end.

O mesmo problema afetou todos os outros UMPCs lançados. Ou eles eram muito caros (a maioria dos modelos custava a partir de US$ 1.600), ou possuíam uma configuração muito fraca, ou ainda ambas as coisas combinadas, o que fez com que, sem exceção, todos tivessem vendas medíocres. A realidade mostrou que construir um UMPC com um processador dual-core, capaz de rodar o Vista (ou mesmo o XP) por US$ 500 era uma idéia um pouco à frente de seu tempo.

Para piorar, temos ainda a questão dos softwares e da ergonomia. Os UMPCs da safra inicial eram baseados no Windows XP ou no Vista e rodavam os mesmos aplicativos que você usaria em uma PC de mesa. O problema é que as pequenas dimensões da tela e ausência de um teclado e mouse “de verdade” tornam o conjunto bastante desconfortável de usar.

Apesar disso, a Intel não desistiu de criar uma nova plataforma que se encaixe entre o notebook e o smartphone e seja capaz de reforçar suas vendas. Este slide exibido durante o IDF de 2007 dá uma pista do que vem pela frente:

Como você pode ver, o UMPC foi retirado da lista e substituído pelo “Handtop” (ou MID), uma nova plataforma, que pode vir a fazer sucesso ao longo dos próximos anos, conquistando o espaço que os UMPCs não conseguiram.

MID é a abreviação de “Mobile Internet Device”. A idéia central é oferecer um dispositivo portátil, baseado em um processador x86 que possa rodar um navegador, leitor de e-mail e comunicadores diversos. A principal diferença entre um MID e um UMPC é que o MID é baseado em um processador muito mais simples, possui menos memória e utiliza alguns poucos GB de memória Flash no lugar do HD. A configuração mais fraca visa permitir o desenvolvimento de dispositivos mais baratos e ao mesmo tempo mais leves que os UMPCs.

Não existe um formato rígido a seguir. Os fabricantes podem criar produtos seguindo o conceito de “tablet”, usado nos UMPCs, com uma tela touch-screen e um teclado retrátil (ou um teclado onscreen), ou então criar “mini-notebooks”, com teclados completos e mouses touch-pad, porém mais leves que um notebook tradicional.

Os MIDs serão inicialmente baseados nos processadores A100 e A110, versões de baixo consumo do Pentium M (com core Dothan), que trabalham a respectivamente 600 e 800 MHz. Embora baratos de se produzir, eles ainda consomem em torno de 3 watts, o que ainda passa longe da meta de 0.5 watts exibida no slide.

O plano é deixar os fabricantes brincarem com esta solução provisória, produzindo modelos conceito que sejam capazes de atrair a atenção do público e deixar as coisas começarem a acontecer de verdade a partir de 2008, com o lançamento da plataforma Menlow. Ela será baseada em processador x86 de baixo consumo, produzido com base na mesma técnica de produção de 45 nanômetros Hi-k, que será utilizada na produção do Penryn. Este novo processador, batizado de Silverthorne, terá um desempenho similar ao de um Celeron M atual, mas terá um consumo brutalmente mais baixo, além de um custo de produção reduzido.

Complementando o Silverthorne, teremos o Poulsbo, um chipset que incluirá técnicas agressivas de gerenciamento de energia e um grande número de periféricos integrados, novamente com o objetivo de reduzir os custos de produção e consumo elétrico.

Ao invés de repetir o mesmo erro que cometeu nos UMPCs, tentando utilizar versões adaptadas de processadores da sua linha desktop, a Intel optou por desenvolver do zero o projeto do Silverthorne e do Poulsbo, o que permitiu reduzir brutalmente o número de transístores. É este conjunto otimizado que deve atingir a prometida marca de 0.5 watts de consumo para o processador.

Ao que tudo indica, o Silverthorne será um processador de 32 bits, com um conjunto de instruções muito similar ao do Pentium M e o conseqüente suporte a um máximo de 4 GB de memória RAM. Em outras palavras, ele será uma espécie de versão modernizada do Pentium M, com um consumo elétrico muito baixo, mas sem grandes novidades na questão do processamento.

O plano é que os MIDs utilizem telas com 4.5 ou 6 polegadas, utilizando resoluções de 800×480 ou 1024×600, pesem em torno de 300 gramas e custem na faixa dos 500 dólares. A bateria duraria pelo menos 4 horas e, para atingir ambos os objetivos, o HD seria substituído por uma certa quantidade de memória Flash, que armazenaria o sistema operacional, aplicativos e arquivos salvos.


Protótipo de MID, rodando uma distribuição Linux customizada

Os UMPCs também tinham como meta serem vendidos abaixo da faixa dos 500 dólares, mas na prática acabaram custando pelo menos o triplo disto. Desta vez, entretanto, a meta parece ser pelo menos um pouco mais realística, já que estamos falando de uma plataforma muito mais simples.

Outra característica que chama a atenção é que os MIDs não rodarão o Windows XP ou alguma versão simplificada do Vista, mas sim um sistema Linux customizado, com uma série de aplicativos adaptados ou desenvolvidos especialmente para a nova plataforma, como demonstra este outro slide exibido durante o IDF:

Os principais motivos divulgados são a redução do custo (já que mesmo uma cópia OEM do Windows custa pelo menos 50 dólares para os fabricantes, o que representa mais de 10% do custo final planejado) e o simples fato da Microsoft não ter uma versão do Windows adequada para a nova plataforma, já que o Vista é pesado demais para a configuração modesta dos MIDs e o XP não oferece os recursos de personalização necessários. Pode ser que a Microsoft resolva investir em uma versão “Mobile” do Vista, de forma a tentar reaver o terreno perdido, mas ela demoraria para ficar pronta e não resolveria o problema do custo.

Possivelmente, o primeiro projeto ambicioso de MID dentro do modelo proposto pela Intel é o Asus Eee, um projeto derivado do Intel ClassMate, porém destinado ao uso geral e não apenas dentro do ramo educacional. Além de ser bastante compacto e portátil, ele chama a atenção pelo preço, com a versão mais simples custando apenas US$ 249 (no EUA).

O Eee é baseado em uma versão de baixo consumo do Celeron M, baseada no core Dothan (ele ainda não é baseado no Menlow, embora possa vir a ser utilizado nas próximas versões). O processador opera a 900 MHz e faz par com um chipset Intel 910GM e 512 MB de RAM (DDR2).


Asus Eee

Para cortar custos e reduzir o tamanho do aparelho, optaram por utilizar uma tela de apenas 7″, com resolução de 800×480. Assim como no caso dos processadores, o preço das telas de LCD é diretamente relacionado ao tamanho. Isso faz com que a tela de 7 polegadas do Eee custe quase um oitavo do preço de uma tela de 19″, como as usadas em monitores para desktops. Se calcularmos que hoje já é possível comprar um LCD de 19″ (ou EUA) por menos de US$ 300, vemos que a tela usada no Eee pode ser muito barata se produzida em quantidade.

O Eee inclui também uma placa wireless, placa de rede, modem, som e portas USB como qualquer notebook. Ele usa uma bateria de quatro células (a maioria dos notes usa baterias de 6 células), mas devido ao baixo consumo geral, ela dura cerca de 3 horas. O HD foi substituído por uma unidade de estado sólido de 2, 4, 8 ou 16 GB (de acordo com o modelo). A memória Flash caiu muito de preço nos últimos meses (já temos pendrives de 2 GB por menos de 70 reais, mesmo aqui no Brasil) de forma que, apesar da redução na capacidade, usar 8 ou mesmo 16 GB de memória Flash já é mais barato do que usar um HD.

Como era de se esperar, o Eee roda uma distribuição Linux otimizada para o aparelho (baseada no Xandros). A proposta é que ele seja fácil de usar, com foco no público geral, que quer um aparelho portátil para acessar a web e rodar aplicativos leves. Ao contrário de um palmtop, que utiliza um processador ARM e um sistema operacional próprio, o Eee é um PC, de forma que nada impede que a distribuição Linux pré-instalada seja substituída por outra distribuição, ou até mesmo por alguma versão do Windows, desde que você consiga instalar o sistema através de um pendrive ou CD-ROM USB e seja capaz de configurar o sistema e otimizá-lo para rodar dentro das limitações do aparelho.

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