Configuração da rede

Assim como quase tudo na informática, as redes funcionam graças a uma mistura de hardware e software. A parte “física” da rede, que inclui as placas, cabos e switchs é responsável por transportar os sinais elétricos de um micro ao outro. Para que eles possam efetivamente se comunicar, é necessário utilizar um conjunto de normas e protocolos, que especificam como enviar informações e arquivos. Chegamos então ao TCP/IP, o protocolo comum que permite que computadores rodando diferentes programas e sistemas operacionais falem a mesma língua.

Pense nas placas, hubs e cabos como o sistema telefônico e no TCP/IP como a língua falada que você usa para realmente se comunicar. Não adianta nada ligar para alguém na China que não saiba falar Português. Sua voz vai chegar até lá, mas a pessoa do outro lado não vai entender nada. Além da língua em si, existe um conjunto de padrões, como por exemplo dizer “alô” ao atender o telefone, dizer quem é, se despedir antes de desligar, etc.

Ligar os cabos e ver se os leds do hub e das placas estão acesos é o primeiro passo. O segundo é configurar os endereços da rede para que os micros possam conversar entre si, e o terceiro é finalmente compartilhar a internet, arquivos, impressoras e o que mais você quer que os outros micros da rede tenham acesso.

Graças ao TCP/IP, tanto o Windows quanto o Linux e outros sistemas operacionais em uso são intercompatíveis dentro da rede. Não existe problema para as máquinas com o Windows acessarem a internet através da conexão compartilhada no Linux, por exemplo.

Independentemente do sistema operacional usado, as informações básicas para que ele possa acessar a internet através da rede são:

– Endereço IP: Os endereços IP identificam cada micro na rede. A regra básica é que cada micro deve ter um endereço IP diferente, e todos devem usar endereços dentro da mesma faixa.

O endereço IP é dividido em duas partes. A primeira identifica a rede à qual o computador está conectado (necessário, pois numa rede TCP/IP podemos ter várias redes conectadas entre si, veja o caso da internet), e a segunda identifica o computador (chamado de host) dentro da rede. É como se o mesmo endereço contivesse o número do CEP (que indica a cidade e a rua) e o número da casa.

A parte inicial do endereço identifica a rede, enquanto a parte final identifica o computador dentro da rede. Quando temos um endereço “192.168.0.1”, por exemplo, temos o micro “1” dentro da rede “192.168.0”. Quando alguém diz “uso a faixa 192.168.0.x na minha rede”, está querendo dizer justamente que apenas o último número muda de um micro para outro.

Na verdade, os endereços IP são números binários, de 32 bits. Para facilitar a configuração e a memorização dos endereços, eles são quebrados em 4 números de 8 bits cada um. Os 8 bits permitem 256 combinações diferentes, por isso usamos 4 números de 0 a 255 para representá-los.

Todos os endereços IP válidos na internet possuem dono. Seja alguma empresa ou alguma entidade certificadora que os fornece junto com novos links. Por isso não podemos utilizar nenhum deles a esmo.

Quando você conecta na internet, seu micro recebe um (e apenas um) endereço IP válido, emprestado pelo provedor de acesso, algo como por exemplo “200.220.231.34”. É através desse número que outros computadores na Internet podem enviar informações e arquivos para o seu.

Quando quiser configurar uma rede local, você deve usar um dos endereços reservados, endereços que não existem na internet e que por isso podemos utilizar à vontade em nossas redes particulares. Algumas das faixas reservadas de endereços são: 10.x.x.x, 172.16.x.x até 172.31.x.x e 192.168.0.x até 192.168.255.x

Você pode usar qualquer uma dessas faixas de endereços na sua rede. Uma faixa de endereços das mais usadas é a 192.168.0.x, onde o “192.168.0.” vai ser igual em todos os micros da rede e muda apenas o último número, que pode ser de 1 até 254 (o 0 e o 255 são reservados para o endereço da rede e para o sinal de broadcast). Se você tiver 4 micros na rede, os endereços deles podem ser, por exemplo, 192.168.0.1, 192.168.0.2, 192.168.0.3 e 192.168.0.4.

– Máscara de sub-rede: A máscara é um componente importante do endereço IP. É ela que explica para o sistema operacional como é feita a divisão do endereço, ou seja, quais dos 4 octetos compõem o endereço da rede e quais contêm o endereço do host, isto é, o endereço de cada micro dentro da rede.

Ao contrário do endereço IP, que é formado por valores entre 0 e 255, a máscara de sub-rede é formada por apenas dois valores: 0 e 255, como em 255.255.0.0 ou 255.0.0.0, onde um valor 255 indica a parte do endereço IP referente à rede, e um valor 0 indica a parte do endereço IP referente ao host dentro da rede.

Se você está usando a faixa 192.168.0.x, por exemplo, que é um endereço de classe C, então a máscara de sub-rede vai ser 255.255.255.0 para todos os micros. Você poderia usar uma máscara diferente: 255.255.0.0 ou mesmo 255.0.0.0, desde que a máscara seja a mesma em todos os micros.

Se você tiver dois micros, 192.168.0.1 e 192.168.0.2, mas um configurado com a máscara “255.255.255.0” e o outro com “255.255.0.0”, você terá na verdade duas redes diferentes. Um dos micros será o “1” conectado na rede “192.168.0”, e o outro será o “0.2”, conectado na rede “192.168”.

– Default Gateway (gateway padrão): Quando você se conecta à internet através de um provedor de acesso qualquer, você recebe apenas um endereço IP válido. A princípio, isso permitiria que apenas um micro acessasse a web, mas é possível compartilhar a conexão entre vários micros via NAT, opção disponível tanto no Windows quanto no Linux.

Quando você compartilha a conexão entre vários micros, apenas o servidor que está compartilhando a conexão possui um endereço IP válido, só ele “existe” na internet. Todos os demais acessam através dele. O default gateway ou gateway padrão é justamente o micro da rede que tem a conexão, é ele que os outros consultarão quando precisarem acessar qualquer coisa na internet.

Por exemplo, se você montar uma rede doméstica com 4 PCs, usando os endereços IP 192.168.0.1, 192.168.0.2, 192.168.0.3 e 192.168.0.4, e o PC 192.168.0.1 estiver compartilhando o acesso à internet, as outras três estações deverão ser configuradas para utilizar o endereço 192.168.0.1 como gateway padrão.


– Servidor DNS
: Memorizar os 4 números de um endereço IP é muito mais simples do que memorizar o endereço binário. Mas, mesmo assim, fora os endereços usados na sua rede interna, é complicado sair decorando um monte de endereços diferentes.

O DNS (domain name system) permite usar nomes amigáveis em vez de endereços IP para acessar servidores, um recurso básico que existe praticamente desde os primórdios da internet. Quando você se conecta à internet e acessa o endereço https://www.hardware.com.br/, é um servidor DNS que converte o “nome fantasia” no endereço IP real do servidor, permitindo que seu micro possa acessar o site.

Para tanto, o servidor DNS mantém uma tabela com todos os nomes fantasia, relacionados com os respectivos endereços IP. A maior dificuldade em manter um servidor DNS é justamente manter esta tabela atualizada, pois o serviço tem que ser feito manualmente. Dentro da internet, temos várias instituições que cuidam dessa tarefa. No Brasil, por exemplo, temos a FAPESP. Para registrar um domínio é preciso fornecer à FAPESP o endereço IP real do servidor onde a página ficará hospedada. A FAPESP cobra uma taxa de manutenção anual de R$ 30 por esse serviço. Servidores DNS também são muito usados em intranets, para tornar os endereços mais amigáveis e fáceis de guardar.

Faz parte da configuração da rede informar os endereços DNS do provedor (ou qualquer outro servidor que você tenha acesso), que é para quem seu micro irá perguntar sempre que você tentar acessar qualquer coisa usando um nome de domínio e não um endereço IP. O jeito mais fácil de conseguir os endereços do provedor é simplesmente ligar para o suporte e perguntar.

O ideal é informar dois endereços, assim se o primeiro estiver fora do ar, você continua acessando através do segundo. Também funciona com um endereço só, mas você perde a redundância. Exemplos de endereços de servidores DNS são: 200.204.0.10 e 200.204.0.138.

Um exemplo de configuração de rede completa para um dos micros da rede, que vai acessar a internet através do micro que está compartilhando a conexão seria:

IP: 192.168.0.2
Máscara: 255.255.255.0
Gateway: 192.168.0.1 (o endereço do micro compartilhando a conexão)
DNS: 200.204.0.10 200.204.0.138

O micro que está compartilhando a conexão, por sua vez, terá duas placas de rede, uma para a internet e outra para a rede local, por isso vai ter uma configuração separada para cada uma. A configuração da internet é feita da forma normal, de acordo com o tipo de conexão que você usa, e a configuração da rede interna segue o padrão que vimos até aqui.

É possível usar também um servidor DHCP, que faz com que os clientes possam obter a configuração da rede automaticamente, a partir do servidor. Hoje em dia, mesmo os modems ADSL mais simples oferecem a opção de ativar um servidor DHCP, onde você só precisa especificar a faixa de endereços que será fornecida aos clientes. Também é possível ativar o DHCP ao compartilhar a conexão, tanto no Linux, quanto no Windows.

Aqui temos um exemplo de configuração do servidor DHCP, num modem ADSL Kayomi LP-AL2011P. Assim como outros modems atuais, ele possui uma interface de administração que pode ser acessada via navegador, através de outro micro da rede:

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