O Kernel e as distribuições

Nas reportagens sobre o Linux você lerá muito sobre Linus Torvalds, o criador do Kernel do Linux. Ele (o Kernel) é a peça fundamental do sistema, responsável por prover a infra-estrutura básica para os programas funcionarem. O Kernel é algo comum em todas as diferentes distribuições; muda a versão, mas o Kernel do Linus está sempre ali.

O Kernel é o responsável por dar suporte aos mais diferentes periféricos: placas de rede, som, e o que mais você tiver espetado no micro. Uma nova versão sempre traz suporte a muita coisa nova, o que faz diferença principalmente para quem pretende trocar de PC em breve ou está de olho em algum handheld ou mp3player exótico. É por isso que o lançamento de uma atualização importante, como o Kernel 2.6, é sempre tão comemorado.

Mas, apesar de toda a sua importância, o grande objetivo dos desenvolvedores é que o Kernel seja invisível. Ele deve simplesmente fazer seu trabalho sem que você precise se preocupar com ele. Você só se dá conta que o Kernel existe quando algo não funciona, de forma que quanto menos você notá-lo melhor, sinal de que as coisas estão funcionando bem… :-).

Uma distribuição Linux é como uma receita, ao invés de ficar compilando o Kernel e os programas como faziam os pioneiros, você simplesmente instala um conjunto que uma equipe desenvolveu e disponibilizou. O bom dos softwares é que uma vez criados eles podem ser distribuídos quase sem custo. Ao contrário de um objeto material, que se quebra ao ser dividido, quanto mais pessoas copiarem e usarem sua distribuição melhor: seu trabalho terá mais reconhecimento e apoio.

Alguns exemplos de distribuições são o Debian, Mandriva, Fedora, SuSE, Slackware e Gentoo.

Qualquer pessoa ou empresa com tempo e conhecimentos suficientes pode desenvolver uma distribuição. O mais comum é usar uma distribuição já existente como ponto de partida e ir incluindo novos recursos a partir daí. No mundo open-source não é preciso reinventar a roda, os trabalhos anteriores são respeitados e reutilizados, aumentando radicalmente a velocidade de desenvolvimento de novos projetos.

A distribuição mais antiga, ainda ativa é o Slackware, que em julho de 2006 completou 13 anos. O Slackware é uma das distribuições mais espartanas, que tem como objetivo preservar a tradição dos sistemas Unix, provendo um sistema estável, organizado, mas com poucas ferramentas automatizadas, que te obriga a estudar e ir mais a fundo na estrutura do sistema para conseguir usar. Muita gente usa o Slackware como ferramenta de aprendizado, encarando os problemas e deficiências como um estímulo para aprender.

Pouco depois, em novembro de 1994, foi lançado o Red Hat, que foi desenvolvido com o objetivo de facilitar a configuração e automatização do sistema, incluindo várias ferramentas de configuração. Apesar de sua alma comercial, todas as ferramentas desenvolvidas pela equipe do Red Hat tinham seu código aberto, o que possibilitou o surgimento de muitas outras distribuições derivadas dele, incluindo o Mandrake (França) e o Conectiva (Brasil). Devido à sua origem comum, estas distribuições preservam muitas semelhanças até hoje, sobretudo na estrutura do sistema e localização dos arquivos de configuração.

A partir de 2003, a Red Hat mudou seu foco, concentrando seus esforços no público empresarial, desenvolvendo o Red Hat Enterprise e vendendo pacotes com o sistema, suporte e atualizações.

O Red Hat Desktop foi descontinuado em 2004, pouco depois do lançamento o Red Hat 9. A partir daí, passou a ser desenvolvido o Fedora combinando os esforços de parte da equipe da Red Hat e vários voluntários que, com a maior abertura, passaram a contribuir com melhorias, documentações e suporte comunitário nos fóruns. O Fedora herdou a maior parte dos usuários do Red Hat Desktop e é atualmente uma das distribuições mais usadas.

O Mandrake começou de uma forma modesta, como uma versão modificada do Red Hat, lançada em julho de 1998, cuja principal modificação foi a inclusão do KDE (ainda na versão 1.0). O Mandrake conquistou rapidamente um número relativamente grande de usuários e passou a ser desenvolvido de forma independente, com foco na facilidade de uso. Em 2005 aconteceu a fusão entre o Mandrake e o Conectiva, que deu origem ao atual Mandriva, que passou a ser desenvolvido combinando os esforços dos desenvolvedores das duas distribuições.

A história do SuSE é um pouco mais complicada. As primeiras versões foram baseadas no SLS, uma das primeiras distribuições Linux que se têm notícia. Em 1995 os scripts e ferramentas foram migrados para o Jurix, que por sua vez era baseado no Slackware. A partir a versão 5.0, lançada em 1998, o SuSE passou a utilizar pacotes RPM, o formato do Red Hat e passou a incorporar características e ferramentas derivadas dele. Todas estas ferramentas foram integradas no Yast, um painel de controle central que facilita bastante a administração do sistema.

Devido a todas estas mudanças, o SuSE é difícil de catalogar, mas atualmente o sistema possui muito mais semelhanças com o Fedora e o Mandriva do que com o Slackware, por isso é mais acertado colocá-lo dentro da família Red Hat.

Em 2003, a SuSE foi adquirida pela Novell, dando origem ao Novell Desktop (uma solução comercial) e ao OpenSuSE, um projeto comunitário, que usa uma estrutura organizacional inspirada no exemplo do Fedora.

Finalmente, temos o Debian, cuja primeira versão oficial (chamada Buzz) foi lançada em 1996. O Debian deu origem a uma grande linhagem de distribuições, que incluem de produtos comerciais, como o Linspire e o Xandros a projetos comunitários, como o Ubuntu, Knoppix, Mephis e o próprio Kurumin.

As principais características do Debian são a grande quantidade de pacotes disponíveis (atualmente, quase 25 mil, se incluídas as fontes não oficiais) e o apt-get, um gerenciador de pacotes que permite baixar, instalar, atualizar e remover os pacotes de forma automática.

O Debian utiliza um sistema de desenvolvimento contínuo, onde são desenvolvidas simultaneamente 3 versões, chamadas de Stable (estável), Testing (teste) e Unstable (instável). A versão estável é o release oficial, que tem suporte e atualizações de segurança freqüentes. A versão estável atual é o Sarge (3.1), lançado em junho de 2005; antes dele veio o Woody (3.0), lançado em julho de 2002 e o Potato (2.2), lançado em agosto de 2000. O lançamento da próxima versão estável (batizada de Etch), está planejada para o final de 2006.

Apesar do longo intervalo entre os lançamentos das versões estáveis, os pacotes ficam congelados, recebendo apenas correções de segurança. Isso faz com que os pacotes do Stable fiquem rapidamente defasados em relação a outras distribuições. Para solucionar este problema, existe a opção de usar o Testing, composto de pacotes recentes porém menos testados e, como última opção, existe o Unstable, que é a porta de entrada para as últimas versões e por isso sujeito a mais problemas. Em algumas épocas, o uso do Unstable é impraticável, pois muitas alterações são feitas simultaneamente, fazendo com que muitos pacotes fiquem quebrados e apareçam problemas diversos.

Tipicamente, os pacotes começam no Unstable, onde recebem uma primeira rodada de testes. Depois de algumas semanas, são movidos para o Testing. Periodicamente, os pacotes no Testing são congelados, dando origem a uma nova versão estável. Além destes, existe o Experimental, usado como um laboratório para a inclusão de novos pacotes.

O Debian em si é bastante espartano em termos de ferramentas de configuração e por isso reservado a usuários mais avançados. Porém, muitas distribuições derivadas dele, como Ubuntu, o Mepis e o Kurumin, são desenvolvidas com foco na facilidade de uso e incluem muitas ferramentas e assistentes de configuração.

Você pode ver uma tabela mais completa com as origens de cada distribuição neste link do Distrowatch:

http://distrowatch.com/dwres.php?resource=independence

Veja que dentre as distribuições cadastradas no site, a grande maioria é baseada no Debian (129) ou no Knoppix (50). Naturalmente, as distribuições baseadas no Knoppix também são indiretamente derivadas do Debian e, de fato, muitas distribuições são incluídas dentro das duas categorias.

Em seguida temos as distribuições derivadas do Fedora (63), do Slackware (28) e do Mandriva (14). Até o Kurumin já entrou na lista, com 5 filhos.

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