Editando os arquivos de configuração

Complementando os comandos de terminal, existem os arquivos de configuração. Ao contrário do Windows, onde as configurações são salvas numa caixa preta, o registro, difícil de entender e ainda mais de editar, no Linux as configurações são salvas sempre dentro de arquivos de texto, na maior parte das vezes legíveis, que você pode editar manualmente quando necessário.

Na verdade, a maioria dos programas de configuração nada mais são do que assistentes que facilitam a configuração destes arquivos. O programa lhe mostra as opções de uma forma amigável, mas na hora de salvá-las eles simplesmente reescrevem os arquivos correspondentes. Eu tenho uma certa experiência no desenvolvimento destes utilitários, pois ao longo dos anos desenvolvi muitos deles para incluir no Kurumin, mas, para não alongar muito, vou me limitar a dar uma visão geral sobre os principais arquivos de configuração do sistema.

Não é realmente necessário que você estude cada um destes arquivos (a menos que você esteja estudando para alguma prova de certificação), mas é importante ter pelo menos uma idéia geral sobre a função de cada um, pois ao pesquisar sobre instalação de drivers e programas, pesquisar soluções para problemas diversos, ou mesmo receber ajuda de alguém através dos fóruns, você vai ver muitas referências a arquivos de configuração diversos. Eles são o denominador comum entre as diversas distribuições, por isso a única forma de escrever algum artigo ou howto explicando sobre como instalar um driver de um modem ou placa wireless, por exemplo, em diversas distribuições diferentes, é explicar o caminho das pedras através dos arquivos de configuração, que é justamente a abordagem que a maioria dos autores acaba adotando.

Ou seja, gostando ou não, muitas vezes você precisará editar algum arquivo de configuração, ou talvez prefira fazer isso algumas vezes para ganhar tempo ou para ter acesso a opções que não estejam disponíveis nos utilitários de configuração.

Para editar os arquivos, você precisará apenas de um editor de textos. Existem vários exemplos: você pode por exemplo usar o kedit ou o kwrite no KDE, o gedit no Gnome, ou o mcedit, joe, nano ou mesmo o antigo e pouco amigável vi, caso esteja em modo texto.

Lembre-se de que em qualquer um deles você pode abrir o editor diretamente no arquivo que quiser editar, como em “mcedit /etc/fstab”.

Tanto o kedit quanto o gedit são editores relativamente simples, que lembram até certo ponto o notepad do Windows. O kwite já é um editor mais avançado, voltado para quem escreve scripts ou mesmo programa em linguagens diversas. Ele é capaz de realçar a sintaxe de várias linguagens, diferenciando os comandos, condicionais, comentários, etc., através de cores. Isso ajuda muito a entender o código e permite identificar erros muito mais rápido.

Nos editores de modo texto as coisas são um pouco mais complicadas, já que eles são controlados através de atalhos de teclado, mas você acaba precisando deles para resolver problemas em situações onde o modo gráfico não está mais abrindo, ou ao usar outras máquinas remotamente, via SSH.

O mais simples é o mcedit. Ele faz parte do pacote “mc“, que é encontrado em todas as distribuições. Se ele não estiver instalado, você resolve o problema instalando o pacote. Nele, as funções são acessadas usando as teclas F1 a F10, com uma legenda mostrada na parte inferior da tela. Para salvar você pressiona F2 e para sair, F10.

O joe é um meio termo. Ele é muito parecido com o antigo Wordstar do DOS e usa as mesmas teclas de atalho que ele. Para salvar o arquivo e sair, você pressiona Ctrl+K e depois X. Para salvar e sair no nano, pressione Ctrl+X, depois S e Enter.

Finalmente, temos o vi, que por algum motivo conquistou um grupo de usuários fiéis ao longo de seus quase 30 anos de vida e, graças eles, continua vivo até hoje, muito embora seja um dos editores menos amigáveis.

O vi tem três modos de operação: comando, edição e o modo ex. Ao abrir o programa, você estará em modo de comando; para começar a editar o texto, pressione a tecla “i. A partir daí, ele funciona como um editor de textos normal, onde o Enter insere uma nova linha, as setas movem o cursor, etc.

Quando terminar de editar o arquivo, pressione Esc para voltar ao modo de comando e em seguida “ZZ (dois Z maiúsculos) para salvar o arquivo e sair. Para sair sem salvar pressione Esc e digite “:q!” (exatamente como aqui, dois pontos, quê, exclamação, seguido de Enter). Uma segunda opção para salvar e sair é pressionar Esc seguido de “:wq“. Para apenas salvar, sem sair, pressione Esc seguido de “:w” e para sair sem salvar use o Esc seguido de “:q!“.

Resumindo, o Esc faz com que o vi volte ao modo de comando, o “:” nos coloca no modo ex, onde podemos salvar e fechar, entre outras funções. O “q” fecha o programa, o “w” salva o arquivo e o “!” é uma confirmação.

Embora não seja exatamente pequeno (se comparado a editores mais simples, como o joe ou o nano), muito menos fácil de usar, o vi é praticamente o único editor que pode ser encontrado em qualquer distribuição. Em muitos casos é usado o elvis, uma versão simplificada, mas que funciona mais ou menos da mesma forma. O pequeno grupo de usuários forma um bando bem organizado, que urra, balança os galhos das árvores e atira cocos nas cabeças dos desenvolvedores, sempre que uma distribuição se atreve a removê-lo :-P.

Ao sair do editor, volta para o terminal. Você pode verificar se o arquivo realmente foi salvo corretamente usando o cat, como em “cat /etc/fstab”. No caso de arquivos longos, acrescente “| more“, que permite ler uma página de cada vez, como em “cat /var/log/syslog | more”.

Alguns arquivos particularmente importantes são:

/etc/fstab: Aqui vai uma lista das partições que são acessadas pelo sistema, onde cada uma é montada e quais delas são montadas automaticamente na hora do boot. Além das partições, o fstab pode ser usado também para incluir CD-ROMs e até mesmo compartilhamentos de rede.

/etc/modules: Neste arquivo vão módulos que são carregados durante o boot. Em geral, usamos este arquivo para ativar o carregamento de módulos para placas wireless, modems e placas de som que não foram instalados manualmente, ou que não foram detectados automaticamente durante a instalação. Você vai ver muitas referências a este arquivo em tutoriais falando sobre a instalação de drivers diversos.

/etc/lilo.conf: O lilo é o gerenciador de boot, responsável por carregar o sistema. O lilo pode ser configurado para carregar diversos sistemas operacionais diferentes, onde você escolhe qual usar na hora do boot. Você pode fazer dual-boot entre Linux e Windows, ou até mesmo instalar diversas distribuições diferentes no mesmo HD. Sempre que fizer alterações no arquivo, rode o comando “lilo” (como root) para salvar as alterações.

/boot/grub/menu.lst: Muitas distribuições adotam o grub como gerenciador de boot ao invés de usar o lilo. No caso do grub, as alterações no arquivo são aplicadas automaticamente.

/etc/X11/xorg.conf: Este é o arquivo onde vai a configuração do vídeo, que inclui o driver usado, resolução, taxa de atualização e configuração de cores do monitor, além da configuração do mouse. Hoje em dia, praticamente todas as distribuições (com exceção do Slackware) são capazes de configurar o vídeo corretamente durante a instalação, mas você pode manter uma cópia do arquivo à mão para poder restaurar a configuração do vídeo em caso de problemas. Você pode também usar o arquivo gerado em outras distribuições.

O xorg.conf é usado pelo X.org, que é a versão atual do servidor gráfico. Distribuições antigas usam o Xfree, que armazena as configurações num arquivo diferente, o “/etc/X11/XF86Config-4”.

/etc/passwd, /etc/shadow e /etc/group: Estes arquivos armazenam a base de dados dos usuários, senhas e grupos do sistema. Naturalmente, você não precisa se preocupar em alterá-los, pois eles são modificados automaticamente pelo adduser, users-admin e outras ferramentas, mas é interessante saber que eles existem. Você pode ver o conteúdo dos três apenas como root.

O “/etc/passwd” guarda os logins e outras informações sobre ou usuários. Você notará que além do root e dos usuários que adicionou, existem vários usuários de sistema, como o cupsys, proxy, sys, etc. Estes usuários são usados internamente pelos programas, você não pode fazer login através dele. Esta prática de ter usuários separados para cada programa aumenta bastante a segurança do sistema. Apesar do nome, o “/etc/passwd” não armazena as senhas, elas vão no arquivo “/etc/shadow” num formato encriptado.

Sobre o Autor

Redes Sociais:

Deixe seu comentário

X