Usando o Wine

Por: Rodrigo Amar

O Wine é uma implementação da API do Windows, que já permite rodar muitos programas. No futuro é provável que seja possível rodar todos os programas for Windows, embora nem sempre com o mesmo desempenho, usando o Wine ou outras opções similares. Isso vai tornar o Linux uma opção ainda mais atrativa, já que além de todos os programas livres ou gratuítos que existem para a plataforma teremos a opção de rodar ainda os aplicativos comerciais para Windows.

O Wine acompanha a maior parte das distribuições atuais, inclusive o Mandrake, mas, eu particularmente recomendo a instalação do Code Weavers Wine, que é uma versão modificada, bem mais amigável.

Você pode baixar o programa aqui:

http://www.codeweavers.com/home/

Ou tente este link, que leva direto ao arquivo:

http://www.codeweavers.com/technology/wine/download.php

O arquivo tem pouco mais de 5 MB e é um pacote RPM, que pode ser facilmente instalado. Basta clicar sobre ele através do gerenciador de arquivos (como root) ou usar o comando “rpm -i nome_do_pacote.rpm” num terminal.

Depois de instalado, abra um terminal e digite “winesetup” (com o selu login de usuário, não como root). O comando chama um Wizzard gráfico, que irá ajudá-lo com a configuração do programa.

Existem duas formas de rodar o Wine: com ou sem o Windows. Caso você esteja utilizando Windows e Linux em dual boot, diga ao assistente quando solicitado, assim, o Wine poderá utilizar DLLs, fontes, e outros arquivos necessários que estejam na pasta Windows, o que melhorará bastante o nível de compatibilidade com os programas. Para isso, escolha a opção “Use an existing Windows partition” na configuração do Wine e aponte sua localização.

Caso você não tenha o Windows instalado em outra partição, o assistente criará a pasta “fake_windows“, dentro da pasta “.wine” no seu diretório home que será visto como a unidade C:\ pelos programas Windows. Se você precisar transferir arquivos para o “Windows” basta copiá-los para dentro desta pasta.

No Linux, as pastas cujos nomes começam com um “.” ficam ocultas. Para visualiza-las você deve marcar a opção “mostrar todos os arquivos” no Konqueror.

Em qualquer um dos dois casos, para executar os aplicativos Windows basta digitar “wine nome_do_programa.exe” dentro da pasta onde o arquivo está.

Leia um manual básico, com fotos em:
http://www.codeweavers.com/technology/wine/tour.php

O manual oficial pode ser lido em:
http://www.winehq.com/Docs/wine-user/

Paus, bugs e afins:
http://wine.codeweavers.com/fom-meta/cache/19.html

Enquanto escrevo, o Wine ainda está em desenvolvimento, por isso não espere milagres. Alguns aplicativos rodam sem problemas. Em outros você precisará copiar DLLs, instalar patches ou conviver com travamentos, enquanto outros simplesmente não rodarão. Ter o Windows instalado melhora muito o nível de compatibilidade e diminui exponencialmente as dores de cabeça.

Atualmente o Wine deve ser visto como uma solução para rodar um ou outro programa de que você realmente precise e esteja disposto a pesquisar um pouco para resolver eventuais problemas de compatibilidade do que para uma solução final. Pesquisando na Web você encontrará receitas para rodar muitos programas, incluindo grandalhões como o IE, Office, Photoshop e Dreanweaver.

O grande segredo é sempre copiar as pastas de instalação dos programas de uma máquinas Windows e a partir daí chamar os executáveis. O Wine ainda não é compatível com o Install Shield, o programa de instalação usado pela maioria dos programas.

A partir daí pode ser necessário copiar algumas DLLs ou outros arquivos usados pelos programas, instalados dentro da pasta Windows/System32. Pode ser um pouco complicado conseguir localizar tudo de que o programa precisa, é sempre mais fácil pesquisar no google por um tutorial que explique o que é preciso fazer.

Também é possível “instalar” as novas DLLs no Wine através do winesetup, basta rodá-lo novamente sempre que necessário e incluir os arquivos na sessão DLLs do Wizzard.

Os desenvolvedores prometeram a versão 1.0 do programa, que trará compatibilidade com a maior parte dos aplicativos durante a primeira metade de 2002. Enquanto isso, tenha paciência, veja o Wine como última chance de rodar aplicativos que você não encontre similar no Linux, não como uma solução para todos os seus problemas de compatibilidade. O programa está evoluindo rápido, logo teremos uma versão que funcione com todos os principais aplicativos.

Um dos melhores lugares para procurar dicas de como rodar aplicativos no Wine é o:

http://frankscorner.org

O que já roda e o que não roda

Tanto no Wine original, quanto no Codeweavers e no Wine-X, existe a possibilidade de criar uma partição Windows virtual (por default o diretório .wine/fake_windows, dentro do seu diretório de usuário no Linux) quanto usar uma instalação do Windows presente numa partição do HD. Em qualquer um dos casos, os executáveis do Windows aparecem com um ícone de taça de vinho no gerenciador de arquivos e basta clicar sobre eles, ou executar o comando “wine arquivo.exe” num terminal para tentar rodar o aplicativo.

Os graus de sucesso são bem diferentes ao rodar aplicativos já instalados a partir de uma partição Windows e tentar instala-los e executa-los sem o Windows. Mantendo o Windows numa partição do HD é possível rodar vários programas mesmo usando a versão padrão do Wine, incluindo o IE 5, Office (variados níveis de sucesso) e em segundo alguns usuários até mesmo o Dreanweaver. Aliás, o programa de declaração da receita também roda desta forma.

Sem o Windows, o número de programas compatíveis cai muito e na maioria dos casos é necessário fazer algum tipo de alteração manual, editando arquivos, copiando manualmente DLLs, chaves de registro ou outros componentes usados pelo aplicativo. Numa pesquisa rápida no google você encontrará várias destas receitas de bolo.

Pensando nisso, os desenvolvedores do Codeweavers wine incluíram um aviso, que aparece sempre que você chamar qualquer programa, avisando que o Wine está “tentando” abrir o aplicativo e em seguida exibindo uma mensagem de erro detalhada caso o carregamento não seja bem sucedido.

Claro que este não é um cenário satisfatório. Queremos que o Wine seja capaz de rodar a maior parte dos aplicativos de uma forma prática e sem o Windows. é isso que já conseguiram fazer em escala limitada no Cross-Over Office e no Wine-X e que cada vez mais parece questão de tempo para ser conseguido na versão gratuíta do Wine.

Lendo algumas edições do informativo do projeto, disponíveis no http://www.winehq.com/news/?view=back dá para perceber que andam se esforçando por lá.

A possibilidade de rodar todos os principais aplicativos independentemente do sistema operacional escolhido, trará uma liberdade de escolha maior para muitos usuários. Afinal, existem excelentes programas dos dois lados do barco e poucos exemplos de programas compatíveis com as duas plataformas, basicamente apenas o Gimp, Star Office e Netscape. Misturar representantes dos dois mundos seria sem dúvida a melhor opção para todos os usuários.

Mais um detalhe importante que não poderia deixar de comentar é sobre a performance dos aplicativos emulados. O Microsoft Office roda rápido no Cross-Over Office, com um desempenho visualmente semelhante ao da versão Linux do Star Office 6. Mas, o desempenho do Windows Media Player e o Real Player executados através do Cross-Over Plug-in é bastante inferior à dos mesmos no Windows. Para muitos não chega a ser um grande problema, já que os vídeos de baixa resolução encontrados na Web não demandam muito poder de processamento, mas mantendo a proporção atual seria muito complicado emular um programa de edição de vídeo como o Adobe Premiere ou mesmo um DVD player qualquer.

No Wine-X temos novamente uma perda considerável de performance além de algumas limitações. Devido à tradução das chamadas Direct-X para chamadas OpenGL é necessária uma placa de vídeo com um bom suporte à esta API. Atualmente, apenas nas placas da nVidia (tanto as GeForce quanto as antigas TnT) possuem drivers Open GL for Linux que oferecem o mesmo desempenho que as versões for Windows. Nas ATI Radeon e Matrox 450 o desempenho dos drivers é bastante inferior e em placas como as SiS 6136 e i752 o suporte é feito unicamente via software, resultando em um desempenho sofrível.

Mesmo usando uma GeForce, você notará uma perda de desempenho de 30 a 50% devido à emulação. A perda é maior em jogos 3D, como o Half Life que em títulos 2D como o Diablo II e o StarCraft. Recentemente foram publicados alguns benchmarks no TomsHardware, que você pode conferir no: http://www4.tomshardware.com/howto/02q2/020531/windows_gaming-04.html

Outro inconveniente é o fato do Wine-X não ser capaz de alterar o modo de vídeo ao iniciar o jogo. Como comentei no meu artigo sobre o Diablo II, se o sistema usar uma resolução de 1024×768 e o jogo utilizar 640×480 você terá que jogar dentro de uma janela que ocupa menos da metade da área da tela. Para jogar em tela cheia é preciso ou configurar o jogo para rodar na mesma resolução do sistema ou alterar a resolução manualmente sempre que for jogar.

A partir da versão 2.0, o Wine-X já é capaz de rodar em full-screen em placas nVidia instaladas utilizando os drivers oficiais (da nVidia), mas o problema persiste em outras placas de vídeo.

Muitos jogos, como o Diablo II e o StarCraft rodam na versão padrão do Wine ou na versão gratuíta do Codeweavers mas, devido à falta de suporte à CDs protegidos, você terá que quase sempre recorrer a um crack, o mesmo que usaria para rodar o mesmo jogo no Windows sem o CD na bandeja para conseguir rodar seu jogo legalmente comprado. Embora inconveniente, não deixa de ser interessante que o Wine seja capaz de emular a ação do crack junto com o game 😉

Algo semelhante pode ser notado se você rodar o MS Outlook junto com o CrossOver Office. Vários vírus recebidos via e-mail serão emulados também, o que pode danificar seus arquivos pessoais ou mesmo comprometer o sistema, caso você esteja utilizando o Linux como root. Para minimizar isto, incluíram um sistema de proteção, que impede que qualquer script seja executado automaticamente apenas com a abertura do e-mail. Talvez a Microsoft possa “emular” esta alteração na versão original do outlook; receber 20 ou 30 mails infectados pelo Klez todo dia da turma que usa o outlook é soda… 😉

Fora o Cross-Over Office, não tivemos muitos avanços espetaculares nestes últimos meses, mas o desenvolvimento do Wine continua forte, atraindo a atenção de várias grandes empresas. No ritmo atual, ainda demorará pelo menos mais dois ou três anos para termos uma versão realmente eficiente, mas nunca é demais dar um voto de confiança para quem está desenvolvendo um trabalho tão importante. Sempre que tivermos novidades interessantes, vou publicar algo aqui no Guia do Hardware.

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