LanHouse rodando Linux?

As LanHouses estão se multiplicando rápido, revelando-se um negócio atrativo para muitos. Mas, os gastos com softwares estão levando muitos donos a considerarem o uso do Linux, já que a plataforma roda vários games. Vamos estão a algumas considerações sobre os títulos disponíveis para Linux e uma análise de em quais situações vale à pena utilizá-lo.

Estou realizando um estudo de viabilidade para montar uma Lan House de pequeno porte.

Uma das fontes de pesquisa na área técnica foi os artigos do seu site, para ver uma oportunidade de aplicação do linux, e como é um habito, quase diário, visito o site para me manter atualizado.

Reli os artigos sobe Cybercafés e um sobre Lan House datado de 25/7/2001 e observei que em vista de outros artigos mais atualizados sobre rodar programas Windows dentro do Linux, os acimas citados estão consideravelmente desatualizados.

Como todos estes artigos estão um tanto dispersos pelo site, gostaria de sugerir um novo artigo voltado para o possível uso de jogos no Linux e, somente para dificultar, “em rede” e obviamente considerando os que ainda somente possuem versões Windows.

Apesar da falência da Loki, o número de games portados para o Linux está crescendo bastante. A principal força é a Id Software, que está lançando versões nativas de todos os novos títulos. Na verdade, eles desenvolvem em Unix e mais recentemente em Linux praticamente desde o início e os títulos sempre suportam OpenGL, o que facilita bastante o desenvolvimento simultâneo das versões Windows, Linux e mais recentemente também para MacOS X, que afinal utiliza o Kernel do FreeBSD, outro sabor de Unix.

No ftp://ftp.idsoftware.com/idstuff você pode baixar os demos e também os executáveis for Linux do Quake III, Castle of Wolfstern e outros títulos. Todos os arquivos disponíveis no FTP são auto-instaláveis, basta marcar a permissão de execução nas propriedades do arquivo e em seguida executá-los com o comando “./nome_do_arquivo” como em “./linuxq3ademo-1.11-6.x86.gz.sh”.

O resto é feito por um instalador gráfico que cria ícones no KDE e também dá o comando para abrir o game pelo terminal. No caso do Q3 demo o comando é “q3demo”, no caso do Q3 completo o comando é “quake3”:

Além dos demos, estão disponíveis os executáveis para as versões completas dos games. No caso dos games da ID o procedimento padrão é instalar o executável, assim como no caso do demo do Quake 3 e em seguida copiar as bibliotecas do CD do game para a pasta onde ele foi instalado no HD e só depois rodá-lo.

Você não encontrará versões for Linux dos jogos nas lojas justamente por que os CDs for Windows funcionam nos dois sistemas.

Uma vez instalados, os jogos ficam disponíveis para todos os usuários do sistema e as configurações de cada um ficam armazenadas numa pasta oculta dentro do diretório home. Isto facilita as coisas numa LanHouse, pois você pode criar um login para cada novo cliente, assim ele não precisará reconfigurar os controles e as preferências cada vez que for jogar.

Naturalmente, para rodar estes jogos você precisa de uma placa 3D corretamente instalada no sistema (como vimos acima).

Os drivers da nVidia oferecem os mesmos recursos e desempenho das versões for Windows e são bastante simples de instalar. Você pode usar o mesmo arquivo tanto com uma TnT2 quanto com uma GeForce4. Os drivers da ATI são mais recentes e só funcionam com placas Radeon 8500 em diante, mas também são fáceis de instalar. Esqueça placas SiS e Trident: os fabricantes não oferecem suporte e os drivers opensource oferecem apenas suporte 2D.

Os drivers para as placas da ATI ainda estão em suas primeiras versões e por isto ainda estão um pouco “crús”. É a velha história do copo meio cheio ou meio vazio. Você pode ver pelo lado negativo e imaginar que por terem começado a trabalhar com o Linux a pouco tempo demorarão para conseguir desenvolver drivers tão bons quanto os da nVidia, ou pode olhar pelo lado positivo e pensar que se as primeiras versões já funcionam, as próximas serão ainda melhores.

De qualquer forma, se você for comprar uma placa 3D para usar no Linux HOJE, as GeForce ainda são claramente a melhor opção. Aliás, dependendo do que você for rodar, até as TnT2 podem servir para alguma coisa. Eu tenho uma TnT2 de 8 MB espetada num Celeron 366 que mantém entre 35 e 60 FPS a 800×600 no Q3 Arena, caindo para uns 25 nas cenas mais movimentadas. Não é grande coisa perto do que usam hoje em dia, mas já dá pra tirar uns Deathmatchs 🙂

Além do Q3 e do Castle, a Id lançou versões Linux de todos os outros títulos e já foi confirmado que lançarão também uma versão Linux do Doom III, provavelmente no mesmo sistema de baixar o executável e rodar usando o mesmo CD da versão Windows. Falando em Doom, existe também uma versão “modernizada” do Doom original, o Doom Legacy disponível no http://legacy.newdoom.com. Ele é baseado no código do Doom 2, liberado sob a GPL; o jogo em sí é gratuíto, mas você precisa de uma versão registrada do Doom ou Heretic para jogar.

Outro título importante que foi portado é o Unreal 2003, que você encontra no http://www.unrealtournament2003.com/. O pacote vem com as duas versões. O executável for Linux está no CD 3. Finalizando, temos também a série Kohan da TimeGate, que pode ser encontrada em http://www.transgaming.com/webstore.php?in=1

Todos os jogos que citei acima rodam nativamente sobre o Linux, ou seja, com os mesmos recursos e performance que a versão for Windows. Você pode usá-los perfeitamente numa LanHouse, basta criar ícones nos desktop e os usuários nem perceberão que estão no Linux.

Temos ainda alguns títulos menores, como o Tuxracer, FreeCiv, Boson e Cube que são mais simples que estes grandões de cima, mas também fazem sucesso.

Depois destes, temos a “segunda leva”, que são os títulos que rodam através do WineX. Temos aí uma lista com mais uns 100 títulos, mas que você deve examinar com mais cuidado, pois quase sempre existe algum tipo de porém, seja relacionado com a falta de algum recurso ou alguma instabilidade, seja relacionada com uma diminuição na performance.

O primeiro passo é ir no http://www.transgaming.com e fazer a sua assinatura. Custa US$ 15 com direito a três meses de atualizações e mais US$ 5 por mês de atualizações a partir daí. A assinatura é importante pois dá acesso aos fóruns, onde você pode obter suporte diretamente com os desenvolvedores. A equipe da Transgaming é formada por um pessoal que realmente gosta do que faz, se você postar uma descrição detalhada do seu problema é bem provável que ele seja corrigido na próxima atualização.

Através do WineX é possível rodar o Warcraft III, Counter Strike, GTA 3, Civilization III, Black and White, Max Paine, The Sims, Baldur’s Gate, Ultima Online, Starcraft, Diablo II, Half Life, etc. A lista completa está no:

http://www.transgaming.com/dogamesearch.php?order=working&showall=1

… embora ultimamente tenha andado um pouco desatualizada. Estes 13 que citei acima são os mais populares, que rodam sem maiores problemas, inclusive no suporte a jogos em rede, apresentando apenas uma redução no desempenho devido à emulação.

No Counter Strike por exemplo, a maioria dos usuários reclama de uma redução em mais ou menos 1/3 no frame-rate, comparado com o obtido no Windows no mesmo Hardware. Lembre-se que isto só se aplica a quem possui placas nVidia ou ATI 8500 em diante, já que nas demais placas a perda será maior mas por causa de deficiências nos drivers.

Em games mais leves, como o Diablo II e Starcraft a perda de desempenho não faz muita diferença, já que os requisitos são tão baixos que qualquer PC atual pode rodá-los sem qualquer prejuízo à jogabilidade. O grande problema é no caso dos jogos 3D, onde você precisará de mais hardware para ter o mesmo desempenho.

Se a questão for apenas economia, não faz muito sentido, já que você economizaria os 400 reais do Windows mas em compensação gastaria o mesmo tanto para comprar uma placa 3D mais rápida. Outra coisa que você deve analizar é que além da questão do desempenho podem eventualmente aparecer outros problemas. Veja que quase todos os jogos da lista da Transgaming aparecem com nível de compatibilidade 4 (o máximo é 5), o que indica que sempre alguém não consegue rodar, ou encontra algum tipo de limitação.

A minha opinião é que os jogos portados podem ser usados sem problemas mesmo numa LanHouse, mas é preciso ter um pouco mais de cautela quanto aos que rodam através do WineX. Acho que é um pouco precipitado utilizar apenas o Linux, o ideal seria ter algumas máquinas Linux rodando os jogos que rodam sem problemas sobre a plataforma e ter mais algumas máquinas Windows rodando o restante dos títulos.

Se você for oferecer também acesso à Internet, pode utilizar o Linux na maioria das máquinas, deixando o Windows apenas para quem preferir usar o IE. Muita gente não acessa em Cybercafés justamente pelo medo de roubo de senhas, spywares, etc. este tipo de problema é muito raro no Linux, pois a conta e arquivos de cada usuário ficam isoladas dos demais. Cada usuário pode ter seu espaço reservado para guardar seus arquivos e e-mails com privacidade, em oposição ao ambiente promíscuo e inseguro que temos no Windows 9x/Me. Você pode inclusive explorar isso nas propagandas: “Aqui você acessa com segurança”.

Outro serviço importante que você pode oferecer e a cópia dos arquivos pessoais do usuário em CD, você pode fazer isso facilmente pelo Xcdroast, via rede mesmo, simplesmente gravando todo o diretório home do usuário. O formato do CD é universal, os arquivos podem ser lidos em qualquer sistema.

Tem gente que torce o nariz para a idéia de oferecer ao mesmo tempo games e acesso à Internet, já que geralmente são ambientes diferentes, gritaria de um lado e silêncio do outro, mas creio que com um pouco de criatividade dá para isolar os dois ambientes. O acesso à Internet pode ser uma fonte importante não só de renda mas também de novos clientes, já que quem joga em rede sempre também acessa a Web (e nem sempre via banda larga) e quem acessa a Internet também é um candidato aos games em rede. Você pode até aproveitar os horários menos movimentados para oferecer aulas de informática, redes ou Linux ou fazer atividades diversas. O mais importante é oferecer sempre algum tipo de novidade que possa cativar os usuários e bolar atividades em horários alternados para que a casa esteja sempre cheia.

Outro dia estava conversando com um amigo, também dono de uma lanhouse que está fazendo uma experiência dando aulas grátis de introdução ao Linux (usando CDs do Knoppix) de manhã, quando a casa costumava ficar quase vazia. Ele contou que está tendo um bom retorno, pois os mesmo o pessoal que vem de manhã fazer as aulas acabam ficando pra jogar depois e acabam sempre trazendo amigos.

Falando nisso, só para dar a minha contribuição para a polêmica, os mouses ópticos são sim muito melhores para games do que os tradicionais 🙂 Alguns usuários reclamam da falta de precisão dos mouses ópticos por terem testado-os em superfícies inadequadas. Alguns modelos mais recentes e mais caros podem ser usados até no ar, mas para os modelos mais baratos o mousepad ideal é um daqueles com superfície de tecido, de preferência de uma cor escura. O problema é que os mouses ópticos se orientam tirando fotografias da superfície. Materiais como o vidro e o plástico usado em alguns mouse-pads refletem muita luz, prejudicando a leitura. Se usados corretamente, mesmo modelos mais baratos, como o Wheel Mouse Optical da Logitech (uns 50 reais em média) oferecem uma precisão muito maior que muitos mouses mais caros.

Sobre a questão dos jogos em rede pode ficar tranqüilo. A configuração da rede em qualquer distribuição moderna é terrivelmente simples. O instalador detecta a placa de rede e você só precisa fornecer o endereço IP e outros dados da rede.

Como os micros serão usados para jogos, você deve usar IPs fixos, de preferência colocando o IP de cada micro num local visível no gabinete, para que os clientes possam abrir os jogos mais facilmente. A configuração de DNS deve ser preenchida com os números do provedor e o gateway é o IP da máquina que estiver compartilhando a conexão (o default na maioria dos programas de compartilhamento é 192.168.0.1). A partir daí os usuários abrem os jogos multiplayer dentro de cada game, da forma usual. Reforçando, não existe nenhum problema em misturar PCs rodando Windows e Linux, o que vale é o game, não o sistema operacional.

Para compartilhar a conexão novamente o Linux é o mais indicado pois o compartilhamento é muito mais estável e oferece mais recursos do que o ICS do Windows. Se você quer apenas compartilhar uma conexão de banda larga, sem nenhum recurso em especial você pode experimentar o Coyote (que você aprende a configurar no capítulo 11 deste livro).

Ele é uma solução fácil de configurar e ao mesmo tempo com um custo de implantação muito baixo, já que você pode aproveitar um 486 ou outra máquina qualquer que esteja encostada. Ele só precisa de 12 MB de RAM, duas placas de rede e um drive de disquetes, nada de HD ou monitor. Uma vez configurado ele pode funcionar durante anos sem precisar de manutenção. Basta fazer algumas cópias extras do disquete.

Se você precisar de mais recursos pode experimentar o Mandrake 9.0. Ele oferece um utilitário de compartilhamento da conexão disponível no Mandrake Control Center e vem com o GuardDog, um firewall bastante poderoso e flexível. A partir daí você pode implantar mais recursos no servidor conforme as idéias forem aparecendo. Você pode ter por exemplo seu servidor de Q3 Arena e Unreal exclusivo, que possa ser usado tanto dentro da rede local quanto aceitar conexões de desafiantes da Web. Claro, os seus clientes levarão uma pequena vantagem nesses duelos, já que estarão na mesma rede do servidor, sem lag.

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