A aventura de instalar o Red Hat 7.2 num 486

Tenho aqui um 486 DX4-100, com 16 MB de RAM, uma placa mãe sem cache L2, mas com 3 slots PCI, equipado com um HD de 2.0 GB, placa de vídeo Trident 9680 de 1 MB, uma placa de rede PCI e drive de disquetes.

O desempenho deste micro é bem baixo comparado com outros 486 por causa da ausência do cache L2, apesar do HD ser razoavelmente rápido para um 486.

Creio que não é segredo para ninguém que assim como a maior parte das distros atuais, uma instalação default do RedHat 7.2 exige um sistema razoavelmente poderoso para rodar bem, levando nas costas o Gnome e os vários serviços que ficam habilitados por default.

O que um mero 486 poderia fazer então?

Este tutorial vira responder a este desafio. Note que o Red Hat 7.2 não é nem em sonho a distribuição mais recomendável para um 486. Existiriam várias opções nesse caso, incluindo o Conectiva 4.0, versões antigas do Slackware ou do Debian etc. Mas, o desafio é justamente “tirar leite de pedra”, usando uma distro mais atual e pesada.

Este tutorial é um passo a passo do que consegui com o velho 486, incluindo as etapas de configuração e algumas sugestões de aplicativos a utilizar.


A instalação: Como não tenho CD-ROM nesta máquina, resolvi fazer a instalação via rede, usando o disquete de boot bootnet.img. Para instalar apartir do CD-ROM você deve usar os disquetes boot.img ou oldcdrom.img (caso queira instalar apartir de um CD-ROM antigo, ligado na placa de som). Todos os arquivos estão no diretório dosutils do CD 1.

A primeira pergunta ao abrir o programa de instalação é qual o modo de instalação a ser utilizado. As opções são as seguintes:

text: Instalação em modo texto. São necessários 16 MB de memória para instalar via CD-ROM e 32 MB para instalar via rede.

lowres: Instalador gráfico, em baixa resolução (640 x 480). 32 MB para instalar via CD-ROM ou 48 MB para instalar via rede.

normal: Instalador gráfico em alta resolução (800×600). 32 MB para instalar via CD-ROM ou 48 MB para instalar via rede.

Como você deve ter percebido, o único modo viável num 486 com pouca memória é mesmo a instalação em modo texto. No meu caso, tive que provisoriamente instalar mais memória para conseguir instalar via rede, mas depois da instalação voltei aos 16 MB originais.

Digite text <enter> para iniciar a instalação. Para navegar pelos menus, use o Tab, para selecionar campos use a barra de espaço e para navegar entre as opções use as setas.

As opções na instalação em texto são as mesmas do modo gráfico. Depois de escolher a linguagem do instalador, tipo de mouse e layout do teclado, chegamos à etapa mais importante, que é a instalação dos pacotes.


Os pacotes a instalar: O instalador oferece algumas opções empacotadas, como Workstation, Server e Laptop, mas nenhuma destas serve no nosso caso. Bem que poderiam criar mais um pacote, chamado “Low end System” ou “Old Trash System” :-), mas já que não tiveram essa idéia, o jeito é escolher a opção Custom para criar uma instalação mais adequada às nossas necessidades.

Antes da escolha dos pacotes, será necessário particionar o HD. Existem as opções Auto Partitioning, Disk Druid e Fdisk.

Se você não tem muitas noções sobre particionamento, o Auto Partitioning será a melhor escolha. Entre as duas ferramentas para particionar manualmente o disk Druid é o mais amigável. A minha sugestão é que você crie uma partição em EXT3 montada em “/” (diretório raiz) e uma partição Swap de 50 ou 100 MB, dependendo de quanto espaço em disco tiver disponível.

Depois de particionar, você poderá escolher entre usar o Grub ou o Lilo como boot manager. Em seguida aparecerão mais algumas opções, entre elas se você deseja instalar o boot manager na trilha MBR ou na partição de inicialização (escolha MBR, caso contrário você precisará inicializar via disquete), alterar as partições que o boot manager será capaz de inicializar (caso esteja instalando o Linux em dual Boot com o Windows) e, finalmente, o nome da máquina, de que servirá como identificação na rede.

Você também poderá configurar o nível de segurança do firewall. Não é preciso dizer que um firewall é sempre uma proteção bem vinda, mas como no nosso caso já estamos usando um sistema com um mínimo de recursos, o melhor é escolher “No Firewall” para poupar a escassa memória RAM e os poucos ciclos de processamento para outros aplicativos. Em seguida você precisará informar a senha de root e terá a opção de criar os logins dos usuários do sistema.

Depois dessa mini maratona, finalmente chegamos à seleção dos pacotes. Na verdade eles estão agrupados em categorias, como “Printing Support”, “Laptop Support”, “Gnome”, “KDE”, “Sound and Multimedia Support”, entre outras. Esta lista inclui quase 3 GB de programas, precisamos ser bem frugais nas escolhas.

Se você tiver cerca de 900 MB disponíveis no HD, uma boa configuração seria instalar as duas categorias relacionadas ao X Window (a Interface gráfica), Network Support e Dialup Support além de Messaging and Web Tools. O KDE também é útil por causa dos vários aplicativos que compõe o pacote. Isto instalará uma boa coleção de softwares, que podem ser usados em caso de necessidade.

Instale o KDE apenas se desejar usar algum dos aplicativos do pacote. É inviável usar o KDE num 486, para esta tarefa precisaremos de uma interface leve, como o WindowMaker ou mesmo Fwvm ou Blackbox.

Se você tiver menos espaço que isso, então o melhor é desistir do KDE e da categoria Messaging and Web Tools.

Marque a opção “Select individual packages” para podermos marcar alguns aplicativos úteis que não constam nas categorias padrão.

Você verá então uma nova tela com categorias semelhantes às anteriores, mas que agora podem ser expandidas para mostrar todos os pacotes incluídos em cada uma. É aqui que você poderá cortar mais gordura do sistema, além de marcar mais alguns aplicativos que prentenda usar.

Algumas sugestões de pacotes a marcar são:

Applications/Internet > Links (um browser em modo texto bastante leve e com bons recursos)

Development/Languages > gcc, gcc+ e perl, Development/Tools > Make (necessários para instalar programas distribuídos como código fonte, como os pacotes tar.gz)

System Enviroment/Shells > mc (um gerenciador de arquivos em modo texto, que substitui gerenciadores gráficos pesadíssimos, como o Konqueror ou o Nautilus)

E, o mais importante:

User Interface/Desktops > WindowMaker e Wmakerconf (que instalará o Window Maker, a interface gráfica que utilizaremos no lugar do KDE/Gnome).

Na mesma categoria, você terá a opção de instalar mais interfaces gráficas, como o Enlightenment, mas nenhuma é recomendável no nosso caso. As outras duas opções seriam o Blackbox e o Fwvm (que tem uma interface semelhante à do Windows 95), mas nenhuma das duas foi incluída no pacote do Red Hat. Se desejar usa-las, você pode baixa-las em:

http://blackbox.alug.org/
http://www.fvwm.org/

Ambas são mais leves que o Window Maker, ocupando cerca de 3 MB a menos de memória RAM. O blackbox tem um visual moderno e pode ser melhorado com skins enquanto o fwvm é o patinho feio da turma, com um visual piorado do Windows 95 (embora tenha melhorado muito na última versão, que também ficou mais pesada), mas que pode agradar se você preferir uma interface parecida com o Windows.

Você pode baixar temas em:

http://www.themes.org/themes/blackbox/
http://www.themes.org/themes/fvwm/
http://www.themes.org/themes/window_maker/

Mas não exagere, não se esqueça que um wallpaper de 1024×768 consome mais de 1 MB de memória RAM.


Desativando os serviços desnecessários: Depois de terminada a instalação, chega a hora de nos livrar da carga extra, desativando todos os serviços desnecessários.

Para isso, abra o ntsysv. Este pequeno programa que roda em modo texto permite visualizar os serviços ativos na máquina e desativar os desnecessários. Este programa só abre se você estiver logado como root. Se estiver usando um login de usuário, digite “su” seguido da senha de root.

Por default o sistema vem com muitos serviços habilitados, sendo que poucos dos quais são essenciais, principalmente num 486 com 16 MB de RAM onde cada Kbyte de memória é precioso.

Pressione F1 para ver as descrições de cada serviço e decidir quais são úteis para você. No 486 de teste deixei ativos apenas:

gpm (necessário para usar o mouse o links e no mc, que apresentarei a seguir)

keytable (carrega o layout do teclado)

netfs (para mapear unidades de rede, apartir de compartilhamentos de máquinas Windows, NFS e até mesmo Netware. É útil no meu caso, mas você pode desativa-lo se não pretender usar este recurso)

network (necessário para PCs ligados em rede)

portmap (necessário para mapear compartilhamentos de rede NFS apartir de outras máquinas Linux).

syslog (gera vários logs necessários para alguns aplicativos)

xfs (necessário para o X).

Se você for utilizar uma impressora, você deve manter ativo também o lpd.


Configurar a placa de vídeo: Depois de reiniciar o sistema, digite Xconfigurator para abrir o utilitário de configuração da placa de vídeo e monitor.

A menos que a sua placa de vídeo seja incompatível com o sistema (veja a lista em http://hardware.redhat.com/hcl/) a placa de vídeo e o monitor serão identificados automaticamente e você precisará apenas indicar a quantidade de memória de vídeo da placa além da resolução e profundidade de cores que deseja utilizar.

Se você desejar forçar uma taxa de atualização maior do que a default da placa e monitor, escolha um monitor personalizado com a frequência que deseja utilizar. Por exemplo, para utilizar 1024×768 e 75 Hz de refresh na minha Trident e Monitor LG 560N, escolhi “Monitor com suporte a 1280 x 1024 em 60 Hz”. Não preciso dizer que utilizar uma taxa de atualização maior do que a oficialmente suportada pela placa de vídeo ou monitor pode diminuir a vida útil dos componentes, mesmo que a configuração funcione sem problemas. Use por sua conta e risco.

No final, quando o assistente perguntar se você deseja inicializar a interface gráfica automaticamente durante o boot, responda que não, caso contrário o Red Hat inicializará sempre no Gnome, sem a opção de abrir o WindowMaker.

Iniciar em modo texto também será cerca de 20 segundos mais rápido num 486, uma diferença considerável. Basta sempre digitar startx para abrir o modo gráfico.


Rodando o Window Maker: Por default o Red Hat usa a Interface Gnome, que é pesada mesmo em micros atuais, o que dizer então de um reles 486. Por isso mesmo que instalamos o WindowMaker. O problema é que mesmo instalando o pacote, o Red Hat não o configura. Ao digitar startx você entrará direto no Gnome.

Mas, podemos corrigir este problema editando o arquivo .xinitrc que fica no seu diretório de usuário. Se estiver logando-se como “joao” por exemplo, o arquivo estará em /home/joao/.xinitrc . Se estiver usando o root, o do arquivo estará em /root/.xinitrc

O arquivo estará originalmente em branco. Basta adicionar as duas linhas abaixo:

#!/bin/sh
exec wmaker

Depois de editar e salvar o .xinitrc digite wmaker para que sejam criados automaticamente todos os arquivos de configuração necessários e em seguida startx para abrir a interface gráfica.

Para quem está acostumado com interfaces com uma barra de tarefas, como o KDE, Gnome, etc. o WindowMaker pode parecer bastante estranho no início, mas você não demorará a se familiarizar com os recursos. Você pode aprender mais sobre ele em:

http://www.conectiva.com/doc/livros/online/7.0/usuario/wm.html(em Português)

http://www.windowmaker.org/documentation.html(Documentação oficial, em Inglês)


Programas a utilizar: Aqui estão algumas sugestões de programas a utilizar, já que em nome da usabilidade abrimos mão dos aplicativos mais badalados.

Como Browser eu tenho duas recomendações, que de certa forma se complementam. Como browser principal a escolha vai para o Opera, que apesar de ser um dos grandes em termos de recursos, é bastante leve, ocupando cerca de 6 MB de memória ao ser aberto. Com um sistema enxuto e o Window Maker, você ainda poderá abrir uma ou duas páginas no Opera antes de passar a usar memória virtual. http://www.opera.com/linux/

Como complemento, você pode usar o Links, que comentei anteriormente. A vantagem óbvia é o desempenho. Como não são carregadas as imagens, o carregamento das páginas é mais rápido e a montagem quase instantânea, mesmo num simples 486. Para completar, o Links é extremamente leve, consumindo menos de 1 MB de memória RAM ao ser aberto.

Uma coisa importante a fazer da primeira vez que abrir o programa é alterar o conjunto de caracteres. Por default, o Links usa o conjunto ASCII de 7 bits, que não inclui caracteres acentuados. Para alterar, pressione Esc para abrir o menu de opções, acesse a seção Setup e em seguida Character Set, escolha ISO 8858-1. Você também pode alterar o idioma para “Brazilian Portuguese” na seção Language:

Como gerenciador de arquivos, novamente eu recomendo um aplicativo de modo texto, o mc, que assim como o Links quase não consome memória RAM, suporta o uso do mouse e pode ser aberto dentro da interface gráfica, apartir do Xterm. Basta digitar mc para abri-lo.

Estes são apenas três exemplos. Existem vários aplicativos que podem ser utilizados, mesmo num simples 486. Sempre que possível, dê preferência para os aplicativos de modo texto, que consomem menos recursos.

Um dos melhores sites de download de programas Linux é o http://freshmeat.net/


Conclusão: Depois de alguns dias tentando convencer o Red Hat a rodar mais rápido e a ocupar menos espaço no HD, resolvi voltar para o bom e velho Conectiva 4 que sempre se deu bem com esse 486.

Além disso, o Window Maker do Red Hat vem completamente desconfigurado, já que a interface padrão é o Gnome. No Conectiva 4 este problema não existe, além do sistema ser muito mais leve, e precisar de muito menos HD. Com 250 MB já é possível fazer uma boa instalação.

Para manter o bom desempenho ao rodar os aplicativos, optei por fazer uma mistura entre aplicativos locais e aplicativos remotos (que expliquei no tópico “Como rodar aplicativos remotamente”), rodando a partir de um Celeron que uso como servidor de tudo. Um Konqueror a mais ou a menos não faz diferença para o Celeron e posso rodar todos os aplicativos do Koffice e outros programas pesados com um desempenho muito bom, coisa que o 486 não teria condições de fazer sozinho.

Se você tem uma máquina Linux na rede que possa servir como “padrinho” para o 486, esta é sem dúvida a melhor opção.

Sobre o Autor

Redes Sociais:

Deixe seu comentário

X