FIFA já foi exclusiva da Sega — e ela deixou isso escapar

Por incrível que pareça, FIFA já foi um jogo exclusivo dos consoles da Sega. E a decisão de abrir mão disso pode ter sido um dos maiores erros da história dos games.

Em meados dos anos 90, a Sega esteve a um passo de garantir um dos maiores ativos da indústria dos games. Uma decisão que, se tivesse seguido outro caminho, talvez mudasse para sempre o rumo da guerra dos consoles. Estamos falando de FIFA, que agora é conhecido como EA Sports FC. A franquia que poderia ter se tornado um exclusivo permanente da gigante japonesa. Mas essa oportunidade escorregou pelas mãos da empresa, e as consequências foram brutais.

O dia em que FIFA foi exclusivo da Sega

Fifa 95

É quase impensável hoje, mas houve um breve momento em que o game de futebol mais famoso do planeta pertencia a um único console. No final de 1994, FIFA 95 chegou ao mercado de forma exclusiva para o Mega Drive. O acordo foi resultado de uma negociação entre a Sega e a Electronic Arts, que, até então, cultivavam uma relação de interesse mútuo, cheia de tensão, mas também de vantagens estratégicas.

A lógica era clara: com a popularidade crescente do Mega Drive, especialmente na Europa e em países da América do Sul, como o Brasil, manter uma franquia como FIFA restrita ao ecossistema Sega parecia uma jogada de mestre. E, de fato, foi… até não ser mais.

Uma decisão que mudaria tudo

Na época, quem estava no comando da Sega of America era Tom Kalinske, executivo conhecido por ter transformado o Mega Drive em um fenômeno nos Estados Unidos, superando temporariamente a Nintendo. Mas, quando os números de vendas de FIFA 95 no mercado americano não atingiram as expectativas, Kalinske optou por não renovar o acordo de exclusividade.

segabits tom kalinske
Tom Kalinske

O detalhe que escapou à visão da Sega era que, fora dos EUA, FIFA já estava se tornando um colosso. No Reino Unido, por exemplo, a versão anterior — FIFA International Soccer — havia vendido 400 mil unidades em apenas duas semanas, um recorde para a época.

A relação explosiva entre Sega e EA

O início dos anos 90 foi marcado por uma rivalidade intensa entre Sega e Nintendo, e a Electronic Arts foi peça-chave nessa disputa. A EA, inclusive, ficou famosa por ter hackeado o sistema de proteção do Mega Drive, o que lhe permitia lançar jogos sem pagar royalties à Sega, uma atitude que, inicialmente, quase virou um processo, mas que acabou forçando um acordo entre as duas empresas.

Desse pacto meio forçado nasceu a colaboração que colocou FIFA no Mega Drive, um casamento que tinha tudo para durar. Só que, internamente, a Sega travava uma batalha ainda mais complicada: o choque de interesses entre suas divisões americana e japonesa frequentemente emperrava decisões críticas.

A aposta perdida no futebol

Quando a parceria com a EA se desfez, a Sega tentou preencher o vazio. Vieram títulos como Victory Goal (ou Sega Worldwide Soccer) e Virtua Striker, que até tinham seus méritos, especialmente nos fliperamas. Mas sem licenças oficiais, sem escudos de clubes, sem nomes de jogadores, esses games jamais alcançaram o impacto cultural de FIFA.

9179026
Virtua Striker

E, enquanto a Sega se perdia em decisões internas mal alinhadas, que já afetavam o lançamento do Sega Saturn e, mais tarde, selariam o destino do Dreamcast, a Electronic Arts surfava no crescimento explosivo da sua franquia de futebol.

FIFA virou império. E a Sega ficou na saudade.

Ao longo das décadas seguintes, FIFA se consolidou como um dos maiores fenômenos dos games, ultrapassando a marca de 325 milhões de cópias vendidas. Mais do que isso, ajudou a moldar um modelo de negócios que se tornaria padrão na indústria: atualizações anuais, contratos de licenciamento com ligas, rostos digitalizados de atletas e pacotes de conteúdo que mantinham os jogadores engajados o ano todo.

Enquanto isso, o nome da Sega acabou ficando associado a outro tipo de futebol — o Football Manager, sucesso absoluto no seu nicho, mas incapaz de competir com o apelo global e massivo de FIFA.

E se a história tivesse sido diferente?

Imagine só. Se a Sega tivesse mantido FIFA como exclusivo, talvez a história dos videogames fosse outra. O PlayStation teria encontrado mais resistência. O Mega Drive e seus sucessores poderiam ter se tornado a plataforma definitiva para quem amava futebol digital. Europa, América do Sul, Ásia — mercados inteiros poderiam ter sido conquistados por esse diferencial.

Mas isso nunca aconteceu. A decisão de abrir mão da exclusividade virou mais uma entre tantas oportunidades desperdiçadas pela Sega na década de 90.

“E você, acha que a história da Sega poderia ter sido diferente se ela não tivesse largado esse trunfo?

Essa, aliás, não foi a única vez que uma decisão de bastidor quase redesenhou por completo a indústria dos games. Anos depois, a história quase se repetiu em outra frente. Pouca gente sabe, mas o primeiro Battlefield — isso mesmo, aquele que daria origem a uma das maiores franquias de tiro do mundo — quase foi um jogo exclusivo do GameCube. Clique abaixo para ler essa história:

Você sabia que o primeiro Battlefield quase foi exclusivo do GameCube?

Postado por
Editor-chefe no Hardware.com.br/GameVicio Aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
Siga em:
Compartilhe
Deixe seu comentário
Img de rastreio
Localize algo no site!