Wine: Winetricks, PlayOnLinux, CrossOver, Bordeaux e Cedega

Wine: Winetricks, PlayOnLinux, CrossOver, Bordeaux e Cedega

O Winetricks é um script que automatiza a instalação de diversos componentes, que ajudam a melhorar a compatibilidade do Wine com aplicativos diversos. Embora a interface não seja muito convidativa, ele é o script de instalação de add-ons para o Wine mais ativamente desenvolvido, sendo também utilizado como backend por outros projetos, como o PlayOnLinux e o Bordeaux, que contribuem de volta com novas funções e melhorias.

Para usá-lo, é necessário ter instalado o pacote “cabextract”, que permite extrair arquivos .cab,o formato utilizado em muitos dos arquivos que são baixados através das opções do Winetricks. Basta instalá-lo usando o gerenciador de pacotes, como em:

# apt-get install cabextract

Um dos pontos fortes do Winetricks é que ele funciona em qualquer distribuição e em conjunto com qualquer versão atual do Wine, já que ele nada mais é do que um shell-script que se adapta ao ambiente disponível. Para instalá-lo, basta baixar o arquivo disponível no http://www.kegel.com/wine/winetricks, como em:

$ wget http://www.kegel.com/wine/winetricks

Em seguida, ative a permissão de execução e rode o script usando seu login de usuário:

$ chmod +x winetricks
$ ./winetricks

Se preferir, copie o arquivo para a pasta “/usr/local/bin/” para que ele seja reconhecido como um comando de sistema e você possa executar o comando diretamente, sem precisar do “./”.

Quando aberto, o Winetricks exibe uma lista com as opções suportadas. Você pode inclusive marcar várias de uma vez:

wine_html_caa7161

Estas mesmas funções podem ser executadas diretamente via linha de comando, passadas como argumentos ao executar o script, como em:

$ ./winetricks allfonts allcodecs fakeie6 vcrun6 msxml6 directx9

Isso faz com que ele execute todas as funções especificadas sequencialmente, baixando os arquivos, descompactando, executando os instaladores (quando usados) e executando os demais passos necessários para instalar os componentes corretamente:

A lista das opções disponíveis varia de acordo com a versão, já que o Winetricks evolui junto com as versões do wine, se adaptando às deficiências das versões disponíveis, mas alguns módulos que são tradicionalmente bastante úteis são:

allfonts: Instala todos os pacotes de fontes disponíveis, incluindo as fontes da Microsoft e as fontes da família liberation. Estas fontes suprem as necessidades da grande maioria dos aplicativos, mas se precisar de outras, basta copiar os arquivos para dentro da pasta “.wine/drive_c/windows/Fonts/” (nas versões recentes do Wine as novas fontes são usadas automaticamente, sem necessidade de passos adicionais).

allcodecs: Instala um pacote de codecs, úteis se pretender instalar players de mídia e aplicativos de conversão.

comctl32 e comctl32.ocx: Estas são bibliotecas do Visual Basic, que são usadas também por instaladores baseados no InstallShield. Em versões antigas do Wine elas eram necessárias para instalar muitos aplicativos, mas nas versões atuais do Wine as bibliotecas builtin fazem um bom trabalho, tornando a instalação manual desnecessária na maioria dos casos.

msscript, msxml3, msxml4, msxml6: Suporte ao MS Script e às diferentes versões do MS XML. Estes componentes são utilizados primariamente pelo IE, mas podem ser úteis ao instalar aplicativos que fazem conversão de documentos baseados no XML da Microsoft.

vb3run, vb4run, vb5run e vb6run: Instala as runtimes das diferentes verões do MS Visual Basic, que são necessárias para rodar aplicativos baseados na linguagem. O Wine oferece suporte nativo a muitas das funções, mas a lista é ainda incompleta, por isso muitos aplicativos só rodam ao usar as bibliotecas da Microsoft. Os pacotes não são conflitantes, por isso você pode simplesmente instalar todos em caso de dúvida.

vcrun6, vcrun2003, vcrun2005 e vcrun2008: Incluem as bibliotecas das diferentes versões do MS Visual C++, também usadas por muitos aplicativos.

fakeie6 e gecko: O fakeie6 é um pseudo-pacote que simplesmente modifica um conjunto de chaves de registro, com o objetivo de enganar os instaladores que se recusam a continuar caso o IE 6 não esteja instalado. O gecko completa o time, ativando o navegador alternativo incluído no Wine, que é utilizado no lugar do IE 6 para renderizar páginas HTML exibidas dentro dos aplicativos.

directx9: Se você pretende rodar jogos 3D, é interessante instalar também o pacote do DirectX, que complementa as chamadas suportadas pelo Wine com um conjunto de DLLs da versão da Microsoft.

Continuando, temos o PlayOnLinux, outro facilitador para o Wine, bastante popular. Ele oferece um conjunto de scripts escritos em Bash e Python para automatizar a instalação de jogos 3D.

Os jogos são provavelmente o uso mais comum para o Wine atualmente, o que explica tantos títulos estarem listados dentro das listas Platinum e Gold do http://appdb.winehq.org/. Jogos como o Warcraft III, Counter Strike, World of Warcraft, Diablo II, EVE Online, Guild Wars, etc. são suportados pelo Wine há bastante tempo e rodam diretamente na maioria dos casos, demandando apenas ajustes menores para solucionar problemas de estabilidade ou de desempenho.

O PlayOnLinux leva a ideia adiante, criando uma lista de jogos e aplicativos suportados, que podem ser instalados de forma simples. A página do projeto é a http://www.playonlinux.com, onde estão disponíveis pacotes para várias distribuições, incluindo o Debian. Ubuntu, Fedora, OpenSUSE e Mandriva, entre outros.

Ao instalar, você tem a opção de adicionar o repositório e fazer a instalado “do jeito certo”, ou simplesmente baixar o pacote e instalar manualmente, usando o “dpkg -i” ou o “rpm -Uvh”. Caso opte pela instalação manual no Debian ou no Ubuntu, não se esqueça de usar o “apt-get -f install” depois de instalar o pacote, para que ele baixe o python-wxgtk e as demais dependências.

Depois de tudo pronto, você pode inicializá-lo usando o comando “playonlinux” ou usando o ícone no “Iniciar > Jogos”.

A interface é baseada no conceito de gerenciador de pacotes. Ao abrí-lo pela primeira vez, ele consulta o repositório em busca de atualizações para os scripts e prossegue para uma sequência de checagens, verificando se o Wine está instalado, se os diretórios estão configurados corretamente e assim por diante. Ele se oferece também para baixar as fontes do pacote msttcorefonts, que são necessárias para rodar muitos aplicativos.

Concluídas as operações iniciais, basta clicar no botão “Install” para começar a instalar os jogos e outros aplicativos disponíveis na lista. Cada um corresponde a um pequeno script, que se encarrega de executar os passos necessários para instalar e fazer a configuração necessária para rodá-lo sem falhas dentro do Wine:

wine_html_308b2bcf

Um dos truques utilizados é criar um diretório de instalação diferente para cada aplicativo (muitas vezes utilizando também uma versão específica do Wine, onde ele foi testado), utilizando uma configuração diferente para cada um. Isso permite aumentar a compatibilidade (já que cada jogo pode utilizar um conjunto diferente de tweaks e ajustes) e, ao mesmo tempo, isolar as instalações, evitando que problemas na instalação de um dos jogos afetem os demais.

A maioria dos scripts é baseada na instalação através do CD ou DVD de instalação (que deve ser montado da forma usual) mas, no caso dos títulos disponíveis para download, muitos dos scripts são capazes de baixar e instalar automaticamente.

Como é de se esperar, alguns dos scripts não funcionam adequadamente, já que manter tantos scripts e testá-los em diversas distribuições diferentes não é uma tarefa simples. De qualquer maneira, os scripts são em sua maioria bastante simples, permitindo que você verifique os passos executados pelo script e tente localizar o problema. Você pode consultá-los diretamente no: http://www.playonlinux.com/repository/

Assim como em outros casos, o desenvolvimento do Wine deu origem também a alguns projetos comerciais, que oferecem interfaces fáceis de usar e são compatíveis com alguns softwares adicionais. A principal função deles é oferecer versões “suportadas” do Wine, onde a compatibilidade com alguns aplicativos específicos seja mais ou menos garantida.

O projeto mais tradicional é o CrossOver Office da CodeWeavers. Ele surgiu com o objetivo de facilitar o uso do Microsoft Office sob o Wine e a partir daí foi gradualmente expandido, ganhando também suporte a várias versões do Photoshop, Microsoft Visio, Quicken e outros. Ele está disponível (US$ 39, com trial de 30 dias) no http://www.codeweavers.com/products/cxlinux/.

O pacote é distribuído na forma de um arquivo executável, que você precisa apenas executar como root para instalar, como em:

# chmod +x ./install-crossover-standard-demo-7.1.0.sh
# ./install-crossover-standard-demo-7.1.0.sh

A partir daí, basta abrir a interface e instalar os aplicativos disponíveis na lista, fornecendo os CDs de instalação conforme solicitado. É possível também instalar outros aplicativos, marcando a opção “Instalar software não suportado”, mas nesse caso a compatibilidade não é muito diferente da oferecida pelo Wine regular.

wine_html_m44714c6e

Em resumo, o CrossOver Office pode ser uma opção em casos específicos, onde você precisa de um dos softwares incluídos na lista de compatibilidade e não teve sucesso em rodá-lo sobre o Wine puro. Apesar da interface ser simples e fácil de usar, o CrossOver não oferece grandes vantagens em relação ao Wine para os aplicativos não listados, por isso não é muito interessante para rodar aplicativos diversos.

Mais recentemente foi lançado também o CrossOver Games, que oferece uma interface para a instalação de jogos 3D, similar ao PlayOnLinux e ao Cedega.

Em seguida temos o Bordeaux outro projeto comercial, que oferece suporte a um conjunto limitado de aplicativos, incluindo o Office 2007, Visio 2003, Photoshop CS2, Trillian e jogos baseados no Steam, além de oferecer uma interface simplificada para instalar outros aplicativos suportados pelo Wine.

Embora a interface seja proprietária, os scripts, DLLs e outros componentes incluídos no pacote são open-source, o que contribui no desenvolvimento do Wine e de outros softwares. Muitas das funções disponíveis no Winetricks, por exemplo, vieram justamente do trabalho no Bordeaux. A principal vantagem dele em relação ao CrossOver Office é o preço, já que custa apenas US$ 20.

Finalmente, temos o Cedega, outro projeto bastante antigo, desenvolvido com o objetivo de oferecer suporte aprimorado a jogos 3D. Ele é distribuído em um sistema de assinatura, onde você paga US$ 45 por uma assinatura de 12 meses e pode baixar todas as novas versões que forem disponibilizadas durante o período em que for assinante.

Depois de instalado, abra o programa usando o comando “cedega” ou o ícone do menu. Nas versões recentes (a partir do 5.0) os games são instalados e abertos usando uma interface que inclui opções para montar o CD e instalar. A partir do 5.2 foi incluído um banco de dados, que permite ao Cedega usar automaticamente as melhores opções de configuração para cada jogo, baixando as informações a partir de uma base de dados atualizada com frequência.

A principal crítica com relação ao Cedega é o fato de ele ser um aplicativo inteiramente fechado, que simplesmente obtém código do Wine, sem contribuir de volta, nem disponibilizar as modificações.

Foi justamente esta atitude predatória que levou a equipe do Wine a substituir a licença MIT (mais liberal) pela licença LGPL em 2002. Assim como no caso dos softwares disponibilizados sob a GPL, o uso da LGPL torna necessário que os desenvolvedores de versões modificadas disponibilizem as modificações. A principal diferença entre as duas licenças é que LGPL permite que o Wine seja usado para portar softwares proprietários, como no caso do Google Picasa.

A mudança fez com que o Cedega se tornasse um fork da última versão do Wine disponibilizada sob a licença MIT, sem poder incorporar as melhorias incluídas desde então. Isso fez com que a lista de jogos suportados pelo Wine (e pelo CrossOver Games, que é baseado nas versões atuais) passasse a divergir, com o Wine passando a suportar um número cada vez maior de jogos que não são suportados no Cedega.

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