Breve análise do Yoper 2010

Breve análise do Yoper 2010

Taking a look at Yoper 2010

Autor original: Jesse Smith

Publicado originalmente no: distrowatch.com

Tradução: Roberto Bechtlufft

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Yoper é um apelido para o projeto Your Operating System (“seu sistema operacional”), que busca oferecer a seus usuários uma distribuição rápida e atualizada. O site do projeto menciona que a distro também tenta apresentar detecção e suporte a hardware do mais alto nível. O Yoper é desenvolvido de forma independente, ou seja, não é baseado em nenhuma outra distribuição Linux. Enquanto eu escrevia esta análise, o site do projeto saía e voltava do ar o tempo todo. A culpa deve ser do tráfego gerado pelo recente lançamento de sua nova versão. Quando o site estava online, havia uma boa quantidade de informações sobre a distro, as versões mais recentes estavam disponíveis e também um fórum de suporte. O site tem versões em inglês e alemão.

O live CD do Yoper abre com um menu em curses, que oferece ao usuário as opções de inicializar o ambiente live, instalar a distro no disco local ou reiniciar a máquina. Ao optar por inicializar o ambiente live, o usuário é conduzido a um vívido desktop KDE 4.4, sem ícones e com um agradável plano de fundo azul. O usuário é logado em uma conta comum. As tarefas de administração, como a montagem de volumes e a instalação de software, são realizadas pelo comando “sudo”. Tive um problema ao usar o ambiente do live CD (vou falar sobre isso mais adiante), então reiniciei para tentar o instalador.

O instalador do Yoper talvez tenha sido o primeiro sinal de que a distribuição é voltada para pessoas com alguma experiência no Linux, e não pode ser considerado como fácil de usar para novatos. Depois de exibir o contrato de licença e se oferecer para realizar uma verificação da mídia, o instalador me pediu que particionasse o disco rígido. Isso é feito pelo programa cfdisk, um particionador útil com uma interface primitiva. Uma vez concluído o particionamento, o instalador pede ao usuário que escolha a partição do sistema (/). Se quiser, o usuário pode selecionar uma partição para ser montada como /home e uma partição para swap. Depois é necessário escolher o sistema de arquivos a ser usado, e um menu contendo escolhas populares como a família ext e o XFS é exibido. As duas últimas etapas são selecionar o gerenciador de inicialização (se for o caso), com opções de GRUB e LILO, e confirmar as configurações. Tudo isso vai ser moleza para quem já tiver experiência com a instalação do Linux, mas a interface em curses somada às perguntas técnicas provavelmente vai afugentar os usuários menos avançados. Minha única queixa quanto ao instalador é a falta de uma opção para voltar à tela anterior. Avançou uma tela, não tem mais volta.

Depois que o instalador acaba de copiar os arquivos, o sistema reinicia e o usuário é solicitado a criar a senha de root. A próxima etapa é escolher o fuso horário em uma série de telas de texto e criar uma conta de usuário comum. O processo todo é um pouco estranho, alternando ocasionalmente entre interfaces. Começamos com um instalador em curses, daí fomos para um menu de inicialização gráfica, definimos as senhas em um ambiente de texto, criamos um usuário novo em um ambiente curses, selecionamos o fuso horário em um menu de texto comum e encerramos com uma tela de login gráfico. É uma viagem e tanto, que acaba nos levando à tela de login.

O menu de aplicativos do Yoper está entupido de programas, incluindo Firefox 3.6, KOffice 2.1, visualizador de imagens, visualizador de documentos, cliente para blogs e o KMail. Também temos player de vídeo, player de áudio, o gravador de CDs k3b e os navegadores de rede VNC e SSH. A distro vem equipada com GParted, Java, Flash e uma coleção de codecs multimídia populares para a reprodução de arquivos MP3 e vídeos. Como sempre, um editor de textos, uma calculadora e um catálogo de endereços também marcam presença. Uma surpresa agradável foi o certificado e a ferramenta de criptografia Kleopatra, que encoraja os usuários a protegerem seus dados. O Yoper também oferece a coleção do GCC pré-instalada, facilitando a vida dos desenvolvedores e das pessoas que compilam seus próprios programas. De modo geral, os aplicativos incluídos no Yoper funcionam bem e o único problema que eu tive foi com o Java. Quando eu tentava rodar qualquer programa em Java, ou até mesmo rodar o Java só para conferir o número da versão, a máquina virtual travava com um erro de exceção de classe.

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Yoper 2010 – media player e gerenciador de certificados

Como eu já disse, tive um problema com o live CD. Rodei o Yoper em dois computadores: um PC genérico com CPU de 2,5 GHz, 2 GB de RAM e placa de vídeo NVIDIA, e um laptop HP com CPU dual-core de 2,5 GHz, 3 GB de RAM e placa de vídeo Intel. Também tentei usar o Yoper em uma máquina virtual para ver como ele se sairia com menos memória. Nas duas máquinas físicas, o Yoper se recusava a inicializar com as configurações padrão. Eu desativei o ACPI pelo menu de inicialização, e com isso o sistema carregava, mas não era desligado corretamente. Por outro lado, não tive problemas com hardware no desktop. A resolução da tela foi definida com o valor máximo, e o som funcionou sem qualquer configuração. Já o laptop não se saiu tão bem. A resolução da tela recebeu uma configuração razoável, e meu touchpad funcionou como eu esperava. O som funcionou, mas ao contrário do que aconteceu no desktop, o som estava mudo por padrão. A minha placa de rede sem fio Intel e meu modem de internet móvel Novatel não foram detectados corretamente. Some a isso o problema com o ACPI, e meu laptop não combinou nem um pouco com o Yoper.

Embora o site afirme que o Yoper seja para quem está “procurando por um pouco mais de velocidade”, não achei o desktop padrão notavelmente mais rápido ou lento do que o visto em outros sistemas modernos que usem o KDE. Para ser honesto, o projeto Yoper oferece outros ambientes de desktop que podem ser mais competitivos, como o Xfce, e ainda não experimentei essas edições. Também percebi que a configuração padrão do KDE usa mais memória do que a de outras distros com o KDE 4 que testei recentemente. Rodando em uma máquina virtual, o Yoper exigiu 1 GB de memória para funcionar bem, e pelo menos 512 MB e mais um pouco de swap para pelo menos funcionar.

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Yoper 2010 – mantendo a organização

O Yoper usa o gerenciador de pacotes Smart. A interface de linha de comando do Smart é muito parecida com a de outros gerenciadores de pacotes, como o YUM e o APT. Pela interface de linha de comando, eu pude encontrar, instalar e remover facilmente os pacotes RPM da distro. Mas a interface gráfica não se mostrou tão agradável. O layout padrão dela exibe uma lista de categorias de software. O usuário pode clicar em uma categoria para expandi-la e mostrar os pacotes que se encaixem nessa categoria. A busca por um nome de pacote específico também apresenta uma lista de categorias que contenham pacotes com o nome correspondente.

O problema da interface gráfica de gerenciamento de pacotes é que há muitas categorias listadas. São dezenas de categorias, e algumas têm nomes muito parecidos. Por exemplo, não fica muito evidente a diferença entre “Sistema/daemon” e “Sistema/daemons”, ou entre “Rede/transferência de arquivos” e “Rede/Transferência de arquivo”. Parece que cada pacote aparece em apenas uma categoria, e escolher a categoria certa pode tomar tempo. Uma pesquisa por “kernel” retornou cinco categorias, e só uma delas contém kernels e drivers binários.

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Yoper 2010 – gerenciamento de pacotes com o Smart

E por falar no kernel, os desenvolvedores (numa provável tentativa de proporcionar um melhor desempenho em uma ampla variedade de situações) oferecem vários kernels pré-compilados. Temos o pacote do kernel vanilla, para fins gerais, e kernels com suporte a PAE. Também temos kernels com um agendador alternativo, BFS, e kernels que unem BFS e suporte a PAE. Além disso, o Yoper é uma distro rolling release, o que significa que as versões lançadas são instantâneos do repositório, e não pontos de partida para a aplicação de patches de segurança. Com isso, os usuários do Yoper vão receber o software mais recente, assim que os desenvolvedores o adicionarem ao repositório, mas eles também vão precisar ter cuidado para não introduzirem incompatibilidades com outras versões do sistema.

A princípio, as práticas de segurança do Yoper não deixam espaço para muitas críticas. O live CD usa uma conta de usuário comum, e na primeira inicialização o usuário define as senhas e cria uma conta de usuário comum. Pelo que eu vi no gerenciador de pacotes até agora, o projeto providencia atualizações regularmente. O que me surpreendeu mesmo foi descobrir que o usuário comum pode virar root com o su sem usar senha. Minha conta de root tinha senha, e foi exigida para que eu fizesse login na tela de boas-vindas, mas o meu usuário podia se tornar administrador simplesmente digitando “su”. Depois de fuçar um pouco, descobri que a tal conta de usuário comum criada durante o processo de configuração tinha privilégios especiais, mas não as contas criadas após essa configuração. Isso pode não ficar muito evidente para quem estiver configurando seus computadores, porque a primeira conta funciona como um usuário comum (incapaz de apagar pastas do sistema, instalar pacotes ou criar usuários), até que o usuário rode o su ou o sudo; nesse momento, o usuário vira root sem a necessidade de senhas. Isso me parece um descuido muito grande, ou ao menos um design pouco convencional.

Comecei esta análise buscando um bom suporte a hardware e um ótimo desempenho, conforme o site do Yoper anuncia, mas não encontrei nenhum dos dois. O instalador funciona, embora seja um pouco cru, e o gerenciador de pacotes gráfico é um dos menos amigáveis que já vi. Tirando os problemas que eu tive, que foram da disponibilidade do site ao funcionamento do Java, acho que há coisas que o projeto está fazendo direito. Por exemplo, o Yoper oferece kernels modernos em várias versões, cobrindo uma boa variedade de casos de uso. Há uma boa seleção de software pré-instalado, que provavelmente vai agradar à maioria dos desenvolvedores e administradores de sistema. O projeto parece estar fazendo um bom trabalho ao oferecer uma distro rolling release com boa estabilidade. Como um todo, acho que o projeto precisa de alguns ajustes, mas ele tem pontos positivos a seu favor, especialmente para quem gosta de mexer nas configurações.

Créditos a Jesse Smithdistrowatch.com

Tradução por Roberto Bechtlufft <info at bechtranslations.com.br>

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