Xiaomi chegou ao Brasil fazendo muito barulho, mas está saindo na “ponta dos pés”

Por: William R. Plaza

No dia 30 de junho de 2015 a página brasileira oficial Xiaomi no Facebook finalmente confirmava algo que muitos consumidores em nosso pais estavam esperando: Parecia que esse dia não chegaria nunca, mas chegou! Xiaomi desembarca no Brasil hoje #MiBrasilChegou

Naquele momento o hype em torno da chegada da empresa que era chamada de “Apple chinesa” era gigantesco. Quem acompanha sites de notícia sobe tecnologia estava ciente que o modelo de negócio que tornou a Xioami um sucesso em seu país de origem é vender bons produtos com preços altamente competitivos, e que incomodam realmente a concorrência. Nada melhor do que acreditar que no Brasil teríamos mais um bom player no mercado com preços em conta.

Não demorou muito para que a Xiaomi colocasse oficialmente o primeiro smartphone a venda no Brasil: o Redmi 2, custando R$ 499. No dia 7 de julho a companhia anunciou o primeiro “evento online vendas”, porém a partir daí as coisas já começaram a soar meio estranhas, embora tenha sido um sucesso, pegando carona no hype astronômico da chegada da empresa no Brasil, a Xiaomi tentou emplacar o mesmo modelo de vendas da China: eventos online em determinado horário. Nesse primeiro momento só era possível adquirir o aparelho através do próprio site da Xiaomi, e como era de se esperar rolou aquele congestionamento básico, já que a procura era bem alta. Houve até um segundo evento no dia 14 de julho com um novo lote de Redmi 2.

Alguns analistas de mercado chegaram a dizer que o povo brasileiro gosta de ter interação com o aparelho, isto é, ir até a loja e fuçar. A Xiaomi veio com uma proposta completamente diferente, algo do tipo, “somos novos por aqui, mas confie na gente, fique tranquilo e compre pelo nosso site”. Bastante arriscado.

E esse risco foi ficando cada vez mais evidente ao decorrer da passagem da companhia por aqui. Acabou que a Xiaomi expandiu a sua forma de vender, e fechou parceria com a VIVO e com lojas do varejo para comercializar os aparelhos.

Porém mesmo dessa forma, não decolou, as vendas foram diminuindo progressivamente e aquela euforia em torno do desembarque deu lugar aquela sensação de ter uma visita chata que já poderia voltar para sua casa.

Além disso tem todo o tramite que é vender eletrônicos em terras tupiniquis, uma empresa como a Xiaomi que levanta a bandeira do preço altamente competitivo no Brasil essa é uma missão bem ingrata. 

Após o Redmi 2 e Redmi 2 Pro a companhia anunciou em junho do ano passado que não lançaria novos smartphones no Brasil, Hugo Barra, que até ontem (23) era o vice-presidente de operações globais da Xiaomi, justificou dizendo que as constantes mudanças nas regras de fabricação e tributação de vendas online e que a volta da cobrança de PIS/Cofins de bens de informática e telecomunicações (Lei do Bem) foram determinantes na desistência do lançamento de novos smartphones.

O Brasileiro Hugo Barra, que tem uma excelente carreira, anunciou ontem que está deixando a Xiaomi, e voltando para o Vale do Silício. Barra justificou que ficar longe da família e amigos não estava fazendo bem a sua saúde. 

A saída de Barra é um grandíssimo balde d’água fria na permanência da Xiaomi no Brasil. O executivo foi o principal responsável por essa negociação, inclusive o Brasil foi o primeiro país que a Xioami investiu fora do mercado asiático.

O trabalho de Barra era justamente tornar a Xiaomi global, e como o Brasil é um mercado consumidor fortíssimo, o teste foi feito, mas o tiro saiu pela culatra. Fontes ligadas à Xiaomi disseram no ano passado ao site Manual do Usuário que a companhia estava vendendo apenas 10 mil smartphones por mês, e provavelmente atualmente esse número atualmente é ainda menor, já que até os tais eventos de vendas não são feitos mais.

Além dos smartphones a Xiaomi também vendeu no Brasil outros produtos, como a Mi Band, e a Mi Power Bank, que enfrentou dificuldades no processo de importação, a Receita Federal barrou um lote do power bank, que estava sendo classificada de forma errada pela companhia. A Receita chegou inclusive a aplicar uma multa a Xiaomi.

Essas informações de que a Xiaomi estaria enfrentando dificuldades e arrumando as malas pra deixar o Brasil começaram a pipocar em maio do ano passado, no mesmo mês a empresa veio a público e desmentiu os tais boatos.

Mas será mesmo que eram só boatos? Quando a Xiaomi chegou ao Brasil ela ainda estava no Top 5 das companhias que mais vendem smartphones ao redor do mundo, a situação atual é que ela foi ultrapassada por outros nomes do mercado asiático como VIVO e OPPO. A OPPO inclusive saltou de um percentual de mercado de 3,6% em 2015 para 7,1% em 2016, de acordo com dados da IDC.

Essa mudança de mercado desfavorece a Xiaomi na tentativa de abraçar novos países ou até permanecer em alguns, como é o caso do Brasil, por exemplo.

Infelizmente a Xiaomi não está tratando a sua possível (praticamente clara) saída do Brasil da mesma forma que entrou, o que estamos fazendo aqui é deduzir se eles irão ou não sair do país, já que até então não há um novo posicionamento claro da empresa, sendo que desde o início a Xiaomi investiu forte em suas mídias sociais, respondendo mensagens e movimentando o público.

A situação atual é de total abandono, o último post publicado na fanpage foi em 26 de junho do ano passado. De acordo com o TechTudo a Xiaomi ainda tem um SAC ativo no Brasil, porém não é possível pedir informações ou ajuda sobre os aparelhos vendidos. Um total descaso com o público.

Assim que assumiu o posto de vice-presidente de operações globais da Xioami, Hugo Barra disse que daqui alguns anos falaríamos da Xiaomi da mesma forma como falamos hoje Google e da Apple. Ousado, não? Uma startup que em apenas 6 anos chegou inclusive a figurar entre as 5 maiores empresas que vendem smartphones no mundo é algo realmente significativo, mas a caminhada para o patamar Google e Apple é uma caminhada longa, bem longa mesmo.

Talvez a melhor alternativa para o Xiaomi no momento é focar no seu principal mercado, e esquecer por um momento esse discurso de expansão global. Infelizmente o Brasil só serviu de teste, e os usuário que embarcaram nessa ficaram à deriva.

De acordo com Kiranjeet Kaur, analista da IDC, a Xiaomi deve investir em distribuição, marketing e publicidade para voltar a crescer, e também desvincular sua imagem de “marca barata”, que obteve nos últimos anos. A Xiaomi também conta com um catálogo de produtos bem variados, que incluem até TVs, então a expansão por outras áreas também é possível, porém atualmente o mercado de smartphones representa 90% do faturamento da companhia.

Vamos aguardar o desenrolar dessa história, e esperar um posicionamento oficial da Xiaomi

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Sobre o Autor

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